⚽️ Torque Isocinético e Velocidade no Futebol

Artigo publicado no XII Congresso Brasileiro de Biomecânica realizado na UNESP (Rio Claro – SP) de 30/05 a 02/06/2007.

http://pt.scribd.com/doc/92964323/Torque-Isocinetico-e-o-Desempenho-de-Velocidade

Autores: Prof. Dr. Emerson Silami Garcia; Prof. Esp. Francisco Adolfo Ferreira; Prof. Ms. Thiago Moreira Barroso.

TORQUE ISOCINÉTICO E O DESEMPENHO DA VELOCIDADE DE CORRIDA EM ATLETAS DE FUTEBOL PROFISSIONAL

Emerson Silami Garcia, Francisco Adolfo Ferreira, Thiago Moreira Barroso
Universidade Federal de Minas Gerais -EEFFTO/ UFMG – MG

Resumo: A finalidade deste estudo foi analisar a correlação existente entre a velocidade de corrida de 30 metros e o pico de torque da articulação do joelho, medido através da avaliação isocinética. Para tanto, 21 atletas de futebol profissional foram submetidos ao teste isocinético e posteriormente realizaram o teste de corrida de velocidade em campo. A velocidade média do grupo avaliado foi de 5.87m/s, 8.32m/s e 7.33m/s para os percursos correspondentes a 0-10m, 10-30m e 0-30m respectivamente. O pico de torque registrado foi de 338,5Nm para a extensão e 189,5Nm para a flexão. A análise estatística mostrou não existir correlação entre o pico de torque e a velocidade média, o que sugere que outros fatores influenciam de maneira mais significativa na velocidade de corrida do atleta de futebol de elite. Palavras Chave: torque, velocidade, isocinético. Abstract: The purpose of this study was to analyze the correlation between 30 meters running speed and isokinetic peak torque in the knee joint, measured through isokinetic evaluation. For this, twenty one professional soccer players were submitted to isokinetic testing and a sprint field test. The group running speed was 5.87m/s, 8.32m/s and 7.33m/s for the distances 0-10m, 10-30m and 0-30m respectively. The peak of torque was 338,5Nm for knee extension and 189,5 for knee flexion. Statistical analysis showed that there is not correlation between peak torque and the average speed, suggesting that factors other than isokinetic peak torque influence sprinting ability of elite soccer players. Keywords: torque, sprint, isokinetic.

INTRODUÇÃO
O futebol é considerado, em termos de demanda de esforço físico, um esporte com atividades intermitentes em seqüências de ações que requerem uma variedade de habilidades com intensidades diversas. Correr é a atividade predominante, mas esforços do tipo explosivos como arrancadas, sprints, saltos, chutes, mudanças bruscas de direção, dribles, fintas, combates e duelos individuais são importantes fatores para a performance bem sucedida, podendo decidir o resultado de uma partida [1]. Esses esforços dependem da força máxima e da potência anaeróbia, mais especificamente dos membros inferiores. A força máxima se refere à maior força que pode ser realizada durante uma contração voluntária máxima e é considerada muito importante para o desempenho no futebol [2, 3, 4, 5]. A potência anaeróbia se refere à habilidade do sistema neuromuscular de produzir o maior impulso possível em um dado período de tempo. Segundo Barbanti [6], na maioria dos esportes, a força rápida é fator determinante de rendimento. Esse tipo de manifestação da força, também chamada potência ou força explosiva, é o produto da força pela velocidade. Ou seja, a capacidade de gerar potência é caracterizada por aplicações de grande força no menor tempo possível contra uma resistência submáxima. Weineck [7] afirma que, no futebol profissional, a força rápida representa para o atleta a mais importante qualidade do condicionamento físico, tendo grande influência sobre seu poder de aceleração. Através do aumento da força de contração em músculos específicos ou em determinados grupos musculares, a velocidade nas habilidades decisivas do futebol pode ser melhorada [8]. Salto vertical [9, 10], desempenho em 690 sprints [11, 12] e desempenho de chute [13, 14, 15] tem sido usados para testar a potência anaeróbica de jogadores de futebol. Ao mesmo tempo, na ciência do esporte e fisioterapia, tradicionalmente os parâmetros para retorno à capacidade funcional e ao esporte são avaliados por meio de variáveis dinâmicas, sobretudo força muscular, utilizando dinamometria isocinética. Embora o teste isocinético forneça acurado diagóstico da função muscular, reproduz pouco da capacidade motora e do gesto desportivo [16]. A explicação reside no fato de o teste isolar o referido músculo, ser em cadeia aberta, unilateral, em velocidade angular constante e em uma angulação passível de ser controlada, portanto, prédeterminada. Assim, o uso de um método de teste não funcional seria inválido para indicar a capacidade funcional do indivíduo. Apesar disso, estudos de Devir [17] apresentaram valores de considerável inferência na capacidade funcional manual e locomotora humana. Apesar de se encontrar na literatura científica um grande número de pesquisas utilizando o teste isocinético em diferentes modalidades esportivas [12, 18, 19, 20, 21, 22, 23], poucos trabalhos citam a utilização de parâmetros como o pico de torque para a avaliação funcional do futebol de elite. O teste isocinético é importante para atletas de futebol, pois além de possibilitar a identificação de possíveis déficits entre um membro e o membro contra-lateral, diagnosticar desequilíbrios musculares, ou seja, a proporção de força entre a musculatura agonista e antagonista, permite também identificar a relação peso / potência, parâmetros importantes para a avaliação e a prescrição do treinamento. O objetivo do presente estudo foi verificar a correlação entre o pico de torque de extensão e flexão da articulação do joelho, através de um teste isocinético e a velocidade de corrida em jogadores de futebol profissional.

MATERIAIS E MÉTODOS
Amostra Foram analisados os dados de 21 atletas de futebol de elite, participantes da primeira divisão do futebol brasileiro, do sexo masculino, com idade de 24,8 ± 2,8 anos, altura de 179,5 ± 5,9 cm, massa de 77,8 ± 8,5 kg, treinados e que não possuíam histórico recente de lesão músculotendínea nas articulações de quadril e joelho. Procedimentos Teste isocinético: O teste foi realizado utilizando um dinamômetro isocinético

BIODEX SYSTEM
(Biodex Corp., Shirley, NY, EUA.). Os atletas foram submetidos à avaliação de extensão concêntrica e flexão concêntrica seguindo o protocolo que foi estabelecido como padrão para as avaliações de 5 repetições a uma velocidade de 60º/s. Antes do teste, foram realizadas atividades preparatórias leves (trote durante 5 minutos em esteira ergométrica a uma velocidade de 7 km/h e exercícios supervisionados de alongamento). Foram realizados ajustes individuais para a posição do atleta no aparelho. O braço de alavanca foi posicionado com seu eixo na projeção do eixo da articulação do joelho, na altura da interlinha articular , entre o epicôndilo lateral e o platô tibial. Foi estabelecido a amplitude de movimento de 110º de flexão até 0º de extensão. O possível efeito da insuficiência passiva dos músculos isquiotibiais foi desconsiderado. Cada atleta realizou três repetições submáximas para fins de familiarização. 691 Os dados da avaliação isocinética foram coletados na primeira semana de treinamento dessa equipe. Teste de velocidade: O teste de velocidade foi realizado 12 dias após a dinamometria isocinética, no mesmo período do dia, para evitar possíveis variações cicardianas no rendimento anaeróbio [24]. As medições foram realizadas em um campo de jogo e os atletas realizaram a corrida utilizando calçado específico para a modalidade (chuteiras). O teste aplicado foi o de medição do tempo aos 10m e 30m (saída estacionária) e 20m (saída lançada), utilizando fotocélulas sem espelho conectadas ao software Multisprint (desenvolvido no Laboratório de Análise da Carga – LAC / UFMG) de cronometragem eletrônica [25]. Antes do teste, os atletas repetiram os procedimentos de atividades preparatórias realizados na primeira avaliação. Os atletas eram instruídos a realizar o teste na maior velocidade possível e manter o esforço máximo em linha reta até uma distância superior a 30m. Análise estatística: Para a descrição da amostra e apresentação dos resultados, foi utilizada estatística descritiva (média e desvio padrão). O teste de correlação de Pearson foi utilizado para a análise da associação entre o torque relativo e a velocidade média de corrida, com nível de significância de 0,05. O programa utilizado para realizar a análise estatística foi o SPSS 13.0.

RESULTADOS
Os resultados obtidos pelos atletas nos testes de velocidade e no teste isocinético estão apresentados na tabela 1. A velocidade média de deslocamento foi obtida através do registro do tempo nos três diferentes pontos do percurso. O pico de torque representa o maior valor de torque registrado na velocidade angular testada (60º/s). Tabela 1: Média e desvio padrão (S.D.) do testes de corrida nos intervalos de 10, 20 e 30m e do torque relativo de flexão e extensão da articulação do joelho. Média S.D. Vel. 0 – 10m (m/s) 5,87 ±0,3 Vel. 10 – 30m (m/s) 8,32 ±0,3 Vel. 0 – 30m (m/s) 7,33 ±0,2 Pico de torque flexão (Nm) 189,5 ±19,8 Pico de torque extensão (Nm) 338,5 ±39,1 As figuras 1, 2 e 3 representam a correlação dos valores referentes ao pico de torque e a velocidade nos intervalos de 10, 20 e 30m respectivamente. Pico de torque (Nm) 100 150 200 250 300 350 400 450 Velocidade média (m/s) 5,0 5,2 5,4 5,6 5,8 6,0 6,2 6,4 Figura 1 – Correlação entre a velocidade de corrida (0-10m) e o pico de torque durante a extensão (O) (r = 0,089; R 2 = 0,008) e durante a flexão (R) (r = 0,410; R 2 = 0,168). 692 Pico de torque (Nm) 150 200 250 300 350 400 450 Velocidade média (m/s) 7,6 7,8 8,0 8,2 8,4 8,6 8,8 9,0 Figura 2 – Correlação entre a velocidade de corrida (10-30m) e o pico de torque durante a extensão (O) (r = 0,175; R 2 = 0,031) e durante a flexão (R) (r = 0,337; R 2 = 0,113). Pico de torque (Nm) 150 200 250 300 350 400 450 Velocidade média (m/s) 6,8 7,0 7,2 7,4 7,6 7,8 Figura 3 – Correlação entre a velocidade de corrida (0-30m) e o pico de torque durante a extensão (O) (r = 0,139; R 2 = 0,019) e durante a flexão (R) (r = 0,404; R 2 = 0,163). DISCUSSÃO Os resultados mostraram não existir associação significativa entre a velocidade média no percurso de 30 metros e o torque relativo durante a flexão e extensão da articulação do joelho. A tentativa de relacionar a dinamometria isocinética com diferentes testes funcionais é amplamente estudada e os resultados ainda se apresentam de maneira inconsistente. Dauty et al. [19] encontraram uma boa correlação entre o pico de torque no teste isocinético e a velocidade média de corrida a 10m e 20m. Ozçakar et al. [20] objetivaram investigar se o teste isocinético seria capaz de predizer o desempenho em movimentos funcionais como os saltos e o sprint. Houve correlação entre pico de torque extensor a 60º/s e variáveis mensuradas a partir dos saltos verticais e do sprint. No entanto, entre os valores de pico de torque flexor na mesma velocidade e os resultados dos testes funcionais não houve correlação. Assim, a avaliação isocinética pode em determinado grau predizer a função. No entanto, os autores salientaram que este teste não deveria substituir outros testes funcionais específicos. Em outro estudo, não foram encontradas correlações entre a velocidade de corrida de 8m com mudança de direção e potência muscular dos membros inferiores medida através de um teste de agachamento com velocidade angular da articulação do joelho constante de 40º/s [12]. Diferentemente de outras pesquisas, esses autores utilizaram um teste em cadeia cinética fechada para avaliar a potência e a força reativa de membros inferiores. Em estudo com jogadores de basquete e vôlei, Tricoli et al. [21] encontraram uma correlação entre as variáveis apresentadas pelo teste isocinético e a variação de deslocamento do centro de massa no salto vertical somente para os praticantes de basquetebol, o que sugere uma 693 possível interferência das especificidades de cada modalidade no nível de predição entre teste isocinético e testes de desempenho funcional. A baixa correlação encontrada no presente estudo pode ser justificada pela especificidade da capacidade velocidade. O movimento de corrida reflete padrões nos quais as ações musculares concêntricas são imediatamente precedidas pelas fases excêntricas. Essas ações, segundo Komi [26], possibilitam um aumento no rendimento em função do ciclo de alongamento – encurtamento (CAE) muscular, através do processo de reserva (fase excêntrica) e reutilização (fase concêntrica) de energia elástica. Assim, Ingen et al. [27] afirmam que a energia mecânica dispendida durante a corrida não é proveniente somente da contração muscular. Além disso, Delecluse et al. [28] afirmaram que o aumento da força máxima, inclusive dos membros superiores foi determinante para a melhora da velocidade nos 10m iniciais da corrida de 100m, o que sugere que aspectos coordenativos entre os membros inferior e superior e aspectos biomecânicos específicos do movimento de corrida influenciam no resultado final. Tais parâmetros não podem ser reproduzidos nem medidos através de uma avaliação isocinética. Segundo Ugrinowitsch et al. [18], o teste isocinético possui um enfoque reducionista, pois ele é executado com velocidades constantes, pré programadas e seus movimentos são monoarticulares e unilaterais. Dessa forma, ele não pode ser utilizado para predizer a performance motora, pois difere em todos os aspectos citados, dos movimentos como corrida, marcha, chute e lançamentos.

CONCLUSÃO
Este estudo procurou investigar a relação entre um teste isocinético e um teste funcional de campo em jogadores de futebol de elite. Os resultados parecem indicar que existem outros fatores mais importantes que influenciam na aplicação da velocidade. Assim, novos estudos

⚽️🇧🇷🏆 FRANCISCO FERREIRA
CEO do Centro de Excelência em Performance de Futebol 
Gestor Técnico / Executivo de Futebol 
Representante WFA & GPS no Brasil
Associado ABEX-Futebol
CBF Licença A
+(55) 31 99104-9620 / 3444-4724  
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