O Futebol Brasileiro está na UTI!
Este final de 2013 mostrou de modo inequívoco, evento após evento, que o futebol brasileiro vai mesmo muito mal, tanto dentro quanto fora de campo.
Primeiro tivemos a pífia participação da Seleção Brasileira Sub-17 no mundial da categoria nos Emirados Árabes, quando o treinador, um ex-atleta que nunca havia trabalhado com futebol de base e muito menos passado por qualquer tipo de curso de capacitação técnica reconhecido, mesmo tendo o privilégio de poder escolher os melhores atletas de cada clube, optou por convocar um time de jogadores fortes, grandalhões e no limite da idade, privilegiando a força, a trombada e a jogada aérea em detrimento da técnica e do toque de bola, marcas registradas da escola brasileira de futebol ao longo dos tempos. Na Seleção Brasileira Sub-15, por ocasião do torneio Nike Friendly nos Estados Unidos, o mesmo treinador, vendo sua equipe ser goleada por 4×1 pela equipe americana, obrigou seus atletas a recuarem para detrás da linha do meio de campo e dela não passarem mais até o término do jogo, para não correr o risco de perder por placar ainda mais elástico… Quem diria que isto um dia aconteceria com uma Seleção Brasileira, não?!
As guerras de torcidas organizadas voltaram a aterrorizar os estádios com cenas absolutamente grotescas sem que governos e autoridades tomem nenhuma atitude realmente efetiva para acabar com uma situação tão vergonhosa e absurda, mesmo estando com a Copa do Mundo às portas.
O caso Portuguesa-Flamengo-Fluminense é outro exemplo que contribui para que o nosso futebol continue em descrédito. Reflexo de nossa sociedade. Tenho dúvidas se caso a situação fosse oposta, rebaixando o Fluminense e subindo a Portuguesa, o tribunal teria votado da mesma maneira!
A seleção dos melhores jogadores do Brasileirão aponta Walter e Paulo Baier como os melhores em suas posições… só pode haver algo de errado, não?
No Mundial Interclubes do Marrocos, o Bayern dá uma verdadeira aula de futebol (bonito, moderno, envolvente, eficiente…) com uma dinâmica coletiva ofensiva verdadeiramente avassaladora no jogo contra o Guangzhou, onde só não ganhou de mais porque tirou o pé, ficou patente que cada jogador parece saber exatamente o que fazer dentro de campo. As movimentações nas trocas de posições e de passes acontecem de modo extremamente natural: com rapidez, precisão e menos esforço/economia de energia, ou seja, um “relógio” ajustado com peças que executam múltiplas funções para as quais foram forjadas desde as categorias de base: Velocidade de movimentos, rapidez na tomada de decisões, técnica apurada e um arraigado senso de jogo coletivo. Já o nosso representante, o Atlético-MG, dá um vexame histórico em uma enorme demonstração de atraso ao perder para um time de um país com futebol tão inexpressivo como o Marrocos. Com uma equipe que depende excessivamente de lampejos individuais de alguns de seus jogadores, mais especificamente de uma jogada salvadora de bola parada, ou uma precisa enfiada de bola de R10, atleta de inegável qualidade técnica, mas que, verdade seja dita, joga hoje muito mais em função da fama, com uma ou outra jogada de efeito, porém de maneira estática, sem força, sem dinâmica. Situação que talvez tenha sido ainda mais agravada pelo longo tempo que permaneceu em reabilitação de uma lesão muscular. Ou seja, era também mais do que esperado que R10 chegasse ao mundial fora de forma.
Para se ter uma ideia da distância abissal entre nós e os europeus, tomando como exemplos somente o Bayern e Barcelona, estes, contam, juntos, com a retaguarda de quase 40 analistas de desempenho diretamente envolvidos. No Brasil, a maioria dos clubes não os tem e aqueles que tem muitos destes analistas, tem no máximo dois ou três.
Já o treinador do Galo, com seu jeito peculiar, emocional/passional/dramático, apelando para o lado místico da fé e das superstições com suas frases de efeito moral, suas camisas amuleto, suas cuecas da semana e seus santinhos para todos os gostos… Ok! Direito dele e que talvez, para os mais crédulos, tenha mesmo dado resultado na Libertadores, tantas foram as intervenções “do além”, “sobrenaturais” em várias de suas vitórias… Rsrsrs… Mas, falando sério, sabe-se que trata-se de um treinador dedicado e que tem boa leitura do jogo (o que na verdade deve ser um requisito básico do básico para qualquer um que pretenda atuar como treinador), mas que continua levando os grupos com que trabalha ainda na base dos treinamentos que os jogadores gostam e na linguagem dos boleiros. Parece também que melhorou bem o seu lado emocional, mas esta soma ainda foi insuficiente para fazer frente a um Raja Casablanca da vida, que dizer então de um Bayern!
É sabido e notório no meio do futebol brasileiro que vários dos seus treinadores medalhões, como sensatamente frisou o competente Paulo Autuori em recente etrevista, são arrogantes, vaidosos e autosuficientes, tendo conseguido resultados muito mais em função da competência dos profissionais de retaguarda que os auxiliam (preparadores físicos, fisiologistas, analistas de performance, dentre outros) do que por seus próprios méritos ou notória competência, enquanto outros são conhecidos muito mais pela chamada “habilidade de vestiário”… Importante, não resta dúvida, mas ainda pouco para se equiparar a que há de mais avançado em termos de competência, profissionailismo e metodologia.
Bem, talvez tenha sido até melhor assim já que evitou que o Atlético corresse o risco de ser massacrado pelo Bayern, como, por exemplo, foi o caso da vergonhosa derrota do Santos para o Barcelona naqueles 8×0 de triste memória, o que, creio eu, seria bem plausível. O mundial serviu também para comprovar que o Galo tem sim um time limitado, o que já era notório desde a Libertadores, conquistada aos trancos e barrancos.
A atitude do limitado e mal educado lateral Marcos Rocha, demonstra a sua falta de preparo e de humildade para saber reconhecer o seu lugar dentro de uma equipe, ao sair proferindo um repertório de palavrões contra Cuca por ocasião de sua substituição. Detalhe: Não estava jogando absolutamente nada! Mas o cara “se acha”, né?! Imagine se seria concebível a um atleta do Bayern, por exemplo, se portar desta maneira… Faltam, a um atleta como Marcos Rocha: Formação, instrução e berço. Falta-lhe o senso de cidadania para que entenda que vivendo em sociedade somos solicitados a obedecer regras, a saber que temos direitos e deveres e que não estamos acima do bem e do mal. Os jogadores brasileiros, são, geralmente, ainda muito mimados e mal acostumados.
Como diz sabiamente o craque Tostão, o Brasil pode até vir a ganhar a próxima Copa do Mundo, mas o será muito mais em função de ainda possuir muitos bons atletas, de jogar em casa com apoio maciço da torcida e, ainda, se vier a conseguir a mesma mobilização que Felipão (um mestre neste quesito) conseguiu incutir no grupo por ocasião da Copa das Confederações. Assim, o título (embora eu, como brasileiro, esteja torcendo muito por Felipão & Cia), poderia vir a ser mais nocivo do que benéfico ao futebol brasileiro, pois os podres, os vícios e nossa arrogância seriam encobertos pelo resultado conquistado e continuaríamos assim a achar que ainda temos o melhor futebol do mundo.
Uma luz no fim do túnel é a nova geração de treinadores (muitos deles adeptos da metodologia sistêmica) que está finalmente tendo seu espaço em alguns clubes, caso de: Enderson Moreira, Marquinhos Santos, Guto, Claudinei Oliveira, Gilmar Dal Pozzo, Sidney Moraes, Ricardo Leão… dentre outros.
O caminho é realmente árduo e longo, mas antes tarde do que nunca…
A todos um Feliz Natal e um ótimo 2014!
Escreva seu comentário