A CORRUPÇÃO E O FUTEBOL
É inegável que o Brasil passa por um momento delicado, grave, tenso, mas ao mesmo tempo de muitas esperanças com a atuação fulminante da tão necessária e bem vinda Operação Lava-Jato da Polícia Federal! A grave crise política, econômica e institucional provocada pelas investigações e prisões da força-tarefa, pode nos indicar que estamos no fundo do poço mas, por isso mesmo, podemos vislumbrar mudanças vindouras, com novos tempos em que a histórica impunidade de que até então gozavam os poderosos, estará com os seus dias contados.
No meio político a corrupção grassava, até o presente, quase que como regra e não como exceção, com seus ilícitos sempre acobertados pela falta de transparência, pela falta de vontade política, pelo uso de laranjas, de empresas fantasmas ou de fachada, de contas em paraísos fiscais, pelas ações dos doleiros, dos cartéis diversos, além do nefasto fisiologismo político, configurando, na última década, numa atuação sistêmica do Governo Federal e de seus aliados na cobrança de propinas com o fim de se perpetuarem no poder.
No futebol, como reflexo da sociedade, esta situação é ainda mais corriqueira e facilitada dada a natureza de suas estruturas política, administrativa e também da legislação que o rege. Se na política a impunidade e a falta de transparência vigoravam até recentemente, no futebol, mesmo com a criação do PROFUT, as coisas ainda estão longe de se mostrarem limpas e transparentes, pois o seu arcabouço jurídico e legislativo específico ainda garante uma blindagem a entidades como CBF, Federações, clubes, ligas, etc.
Há também uma ainda influente “Bancada da Bola” na Câmara e Senado, que bloqueia boa parte das propostas de mudança e que conseguiu inclusive devirtuar grande parte do texto original do PROFUT.
São conhecidos de todos, os casos de dirigentes que ao assumirem um clube, apresentavam uma determinada situação financeira/patrimonial pessoal, mas ao encerrarem seus mandatos, estavam milionários enquanto seus clubes ficavam ainda mais endividados.
A verdade é que praticamente todas as transações e contratos, ou seja, tudo o que envolve dinheiro no futebol, pode se tornar um convite à corrupção, tamanha a facilidade para acobertamento e a fragilidade dos mecanismos de rastreamento e fiscalização do seu submundo quanto às tramoias diversas, que pode ser geradoras de: Enriquecimento ilícito, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, formação de quadrilha, falsificação de documentos, dentre outros.
Nos bastidores do futebol, ambiente pequeno, restrito, onde quase todos se conhecem, as histórias correm em alta velocidade e as suspeitas de maus feitos, muitas vezes fundamentadas, se espalham aos quatro cantos, como podemos exemplificar abaixo:
-As transações de atletas para o exterior são uma das principais formas de enriquecimento ilícito usadas por dirigentes desonestos. Declara-se um valor para a mídia, conselhos e torcedores, entrando nos cofres do clube, mas o que os dirigentes recebem por fora, geralmente me paraísos fiscais, quase nunca é descoberto, até porque nunca houve um real interesse dos governantes e autoridades em investigar a fundo esta seara. Esta situação pode vir a mudar com a recente sinalização do Ministério Público Federal de que poderá abrir investigações sobre as negociações envolvendo clubes, dirigentes e jogadores nos últimos 20 anos. Uma verdadeira caixa preta que, se aberta, pode colocar em polvorosa o mundo do futebol!
-Já vi um jogador ser negociado às vésperas de uma convocação para Copa do Mundo (quando já era dada como certa a sua convocação e consequente valorização) e também véspera de uma final de Libertadores (quando poderiam esperar mais um dia para fechar a negociação, preservando o atleta e contando com uma valorização adicional), por um valor 50% menor do que o oferecido por um outro clube europeu e com a diretoria praticamente obrigando o atleta e seu empresário a assinarem com o clube de oferta menor… Alguém explica?! O raciocínio lógico é o de que certamente já havia um “esquema” com o clube que fez a menor oferta.
-Já vi um time, campeão de tudo no ano anterior, ser completamente desfeito, sendo que os valores anunciados das vendas de seus atletas (todos para a Europa), era sempre muito abaixo do valor de mercado, típico caso em que os dirigentes deitaram nos louros das conquistas do ano anterior para depois fazerem a festa;
-Dirigentes que dividem comissões com maus empresários;
-Maus empresários que praticamente controlam alguns clubes e mandam mais do que seus dirigentes;
-Treinadores que, a mando de um empresário, boicotam um treinador ou um determinado jogador do clube para abrir espaço para a contratação de um outro treinador ou atleta deste mesmo empresário.
-Contratos de atletas e treinadores: Quantas vezes vemos atletas que não tem qualidade técnica para receber mais do que vinte mil reais mensais, por exemplo, serem contemplados com contratos (longos) e de quantias muito maiores (cem, duzentos mil…)?! E quando a prática é generalizada em determinados clubes, gera uma folha salarial absurda e incompatível com a sua realidade. Neste caso, certamente que alguém está recebendo percentuais do salário declarado destes atletas, geralmente dirigentes estatutários e/ou o executivo.
-Dirigentes executivos que levam determinados atletas aonde vão pois sabem que aceitam tal negociata, daí ser estranho que alguns atletas de qualidade duvidosa estejam sempre empregados em bons clubes.
-Contratos de material esportivo, de patrocínio, etc… São de conhecimento de muitos, no futebol, histórias de contratos mais vantajosos oferecidos por uma empresa concorrente, mas o clube opta por assinar/renovar com outra por valores inferiores. Mais uma vez, a lógica indica que alguém está ganhando alguma coisa por fora;
-Contratações de atletas em grande quantidade e/ou com qualidade duvidosa ou em final de carreira… Pior: com altos salários e contratos longos;
-Contratações predominantemente de atletas de um determinado empresário;
-Uso do futebol como meio de lavagem de dinheiro por investidores;
-Cartões corporativos de clubes sendo usados para farras de seus dirigentes em torneios no exterior… Há notícias de gastos de U$200.000,00 nestas farras com dirigentes que ainda levam esposas ou amantes e se esbaldam em compras, restaurantes, passeios, etc.,… ficando a conta para o clube pagar… Muito fácil, pois ninguém fiscaliza isso;
-Dirigentes até de categorias de base que apresentam repentinos sinais exteriores de enriquecimento; que recebem dinheiro de empresários e/ou de pais de atletas para privilegiarem seus atletas/filhos; que recebem por fora em transações; que fazem “pontes” ocultas deixando algum talento “escapar” para algum outro clube com o qual já esteja esquematizada uma comissão, etc., fazendo assim, com que alguns departamentos de futebol de base, sejam verdadeiros balcões de negócios escusos, antros de todo tipo de corrupção, muitas vezes, até com anuência/conivência/associação de demais dirigentes do clube, pois a base é menos visada, menos exposta à mídia e à fiscalização;
-Homossexuais pedófilos que atuam como dirigentes ou treinadores de categorias de base e que usam de suas posições de autoridade ou mesmo através da oferta de vantagens materiais/financeiras, ou promessas de proteção, escalação, privilégios, promoções aos jovens atletas. Já houve casos em que o Ministério Público foi acionado através de denúncias por parte de pais de atletas, mas o caso foi abafado;
-Dirigentes que desviam material esportivo e ninguém fica sabendo o destino, ou fingem não saber;
-Dirigentes que usam o prestígio e visibilidade alcançados à frente de um grande clube para se lançarem na carreira política. Embora não seja ilegal, traz pelo menos alguns questionamentos éticos: Usam a imagem do clube e a visibilidade proporcionada pelo cargo para se tornarem conhecidos, facilitando a conquista de votos.
Ainda dentre os dirigentes, há aqueles sem qualquer freio moral, enxergando no futebol única e exclusivamente um meio de enriquecimento rápido. Estes, que são capazes de qualquer coisa para se darem bem, seguem a escola de políticos como Lula e Paulo Maluf, por exemplo: Mestres do cinismo e da cara de pau, que abusam da tática da chamada “Dissonância Cognitiva”: Não sentindo um mínimo de receio ou de vergonha por usarem do mais descarado marketing pessoal ou de serem repetidamente denunciados ou confrontados com números ou fatos. São muito mais malandros e “espertos” do que propriamente competentes. São muito inteligentes (mas para o mal), bons de lábia, bem relacionados, fazem esquemas por todo lado com alguns treinadores, atletas, empresários, jornalistas e quem mais for… Manipuladores! Bandidos! Psicopatas cuja noção de certo ou errado só muda conforme melhor lhes convém e ainda posam de honestos! De tempos em tempos vemos alguns retrocessos acontecendo na política dos clubes como pessoas clara e historicamente desonestas sendo alçadas a postos de comando em grandes clubes… Alguns sem preparo ou experiência anterior nos novos cargos…
-Entre os treinadores, há alguns desonestos que podem usar da prática de receber dinheiro dos atletas por ele indicados ao clube.
-Relações promíscuas entre dirigentes, treinadores ou atletas com alguns jornalistas esportivos que recebem destes para elogiá-los/defendê-los/indicá-los promovendo um marketing desonesto em seus veículos de comunicação;
-Clubes pequenos do interior que não possuem estrutura, recebem poucos recursos e, quando recebem, o dinheiro simplesmente desaparece nas mãos de dirigentes inescrupulosos, pois não há mecanismos de fiscalização. Perpetua-se uma rotina anual de se formar times para jogar por 2 ou 3 meses por ano e não pagar a seus atletas e comissões técnicas.
Enfim, o futebol é sim, um meio podre! Um meio onde impera a vaidade, abuso de poder, impunidade e a não prestação de contas movimentando cifras altíssimas.
Muitos clubes agem de modo autoritário e antiético fazendo todo tipo de pressões, ameaças e chantagens sobre um atleta jovem e cujo procurador/empresário também seja inexperiente. Exemplo: Um jovem atleta, vindo de um clube menor. O clube recebe excelente proposta por ele vinda de um clube europeu. A diretoria do clube o chantageia exigindo que o atleta abra mão de seu percentual nos direitos econômicos, caso contrário o clube não aceitará a proposta… Na verdade, puro blefe, mas o atleta e o empresário acabam cedendo.
Atletas que possuem contratos de progressão por produtividade que podem ser por: número de jogos como titular, covocações para seleções, número de gols marcados, conquista de títulos, etc., ao atingirem um determinado número de jogos, são inexplicavelmente sacados para que não recebam a progressão salarial que reza o contrato.
Há sim, dirigentes honestos e bem intencionados. Muitos deles resistem e não se contaminam, mas são obrigados a fechar os olhos para muita coisa questionável caso queiram sobreviver neste meio.
Uma outra forma de corrupção, no meu entender, é a maneira leniente com que as autoridades lidam com o tema da violência das torcidas. Na minha concepção, quando não se aplica medidas rígidas sobre os autores destes crimes, por conta muitas vezes de ideologias ou interesses eleitoreiros, não deixa de ser uma forma de corrupção! Não consigo admitir que evento após evento, pouca coisa se faz de efetivo para acabar de vez com isto. Nos primeiros dias aparecem as autoridades dando entrevistas, prometendo isso e aquilo outro, mas sabemos que dentro de poucas semanas o assunto esfria e acaba esquecido… É um filme que se repete por anos a fio. Só consigo enxergar uma solução: Leis de “Tolerância Zero”, com punições severas como banimento perpétuo dos estádios, sobre os criminosos ao menor delito cometido, nos mesmos moldes do que promoveu Margareth Tatcher na Inglaterra no início da década de 90, acabando de uma vez por todas com os temidos holligans!
Mesmo com todo o movimento iniciado após a Copa dos 7×1, que tem gerado como resultados positivos a reflexão e a convicção de que precisamos nos modernizar em todas as áreas de nosso futebol, percebemos que a mobilização da CBF, extremamente fragilizada no presente tanto com o fracasso na Copa/2014, como com os escândalos de corrupção atingindo seus três últimos presidentes (Aqui no Brasil ninguém fala nada, ninguém cobra investigações, ninguém investiga a fundo… Será mesmo que é normal, este estado de coisas?!), ainda é coisa “pra inglês ver”. Ao formar uma comissão de notáveis que não possui nenhum dirigente, treinador ou atleta da ativa, nem um representante dos movimentos antagônicos como o Bom Senso FC, por exemplo, os indícios são de que não pretendem uma real mudança, nem estão dispostos a abrir mão de algum poder.
Com tudo isto, é mais do que evidente que o futebol brasileiro necessita de uma Lava-Jato, se não para erradicar, pelo menos para diminuir em muito a corrupção endêmica que historicamente o assola! E haja tornozeleira eletrônica!!!
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