⚽️ PORQUE TANTAS LESÕES NO FUTEBOL? (UM RACIOCÍNIO LÓGICO SOBRE O TEMA)
PORQUE TANTAS LESÕES NO FUTEBOL?
(UM RACIOCÍNIO LÓGICO SOBRE O TEMA)
Percebendo o momento delicado pelo qual passam Atlético e Cruzeiro no Campeonato Brasileiro/2017, julguei pertinente abordar o tema das lesões no futebol.
Pra começo de conversa, todos sabem que o calendário não ajuda, com excesso de jogos e sabemos também que as demandas físicas no futebol de alto rendimento atuais são cada vez mais altas… Mas então, porque, ainda assim, alguns poucos tem conseguido atenuar ou até mesmo quase zerar o número de lesões no futebol?
É um assunto tão corriqueiro que já se tornou praxe o uso das desculpas de sempre… Na verdade, criou-se uma verdadeira “cultura das desculpas” no futebol: “Ah… é o calendário com número excessivo de jogos… o pouco tempo para recuperação entre os jogos… o excesso de viagens longas…” e por aí vai…
Ok, lesões por trauma (choque/pancada) muitas vezes são inevitáveis, pode-se dizer que estas fazem parte do futebol, mas com atletas descansados, a resposta/reação destes em campo é mais rápida, podendo evitar/diminuir até mesmo estas. As lesões musculares ocorrem por acúmulo de fadiga ou micro-lesões nas fibras musculares. As lesões articulares, geralmente ocorrem por bloqueio mecânico ou fadiga no sistema nervoso central que torna as respostas do cérebro aos segmentos corporais mais lentas, o que prejudica os mecanismos proprioceptivos (de auto-proteção). Na verdade há uma soma de fatores e erros em cascata que ano após ano, continuam a causar imensos prejuízos sejam técnicos ou financeiros aos clubes, não só no Brasil, mas até mesmo em vários dos grandes clubes europeus.
CALENDÁRIO: Sim, há excesso de jogos com as inúmeras competições disputadas simultaneamente. A própria “Primeira Liga” ou “Sul-Minas-Rio”, que começou como uma ideia interessante que poderia vir a ser o embrião de uma tão sonhada “Liga Nacional de Clubes” criada e gerida pelos próprios, além de não ter conseguido seu intento, acabou se tornando um peso a mais por acrescentar mais jogos ao já exagerado calendário até então existente. Assim, mais jogos = menos tempo para recuperação entre os mesmos = acúmulo de fadiga = aumento exponencial do risco de lesões. Estudos mostram que equipes que tem apenas 2 dias de intervalo entre os jogos, aumentam em até 46% suas chances de derrota quando enfrentam outra equipe que por sua vez tenha tido 3 ou mais dias de intervalo entre seus jogos. A plena recuperação dos atletas demanda no mínimo 72 horas! Fato! Fisiologia! Não há como brigar contra isto!
CAPACITAÇÃO TÉCNICA: Em que pese o movimento iniciado após o vexame da Copa/2014, em que uma onda de reflexão fez com que as entidades e os profissionais acordassem para a real necessidade de maior capacitação técnica de quem milita no futebol, ainda temos um longo caminho a percorrer tanto pelos profissionais da área técnica quanto pelos gestores. A chamada “Periodização no Futebol” é um conhecimento recente que tem se espalhado como bola de neve na Europa e está chegando agora ao Brasil. A periodização é na verdade, o estudo detalhado, minucioso mesmo, do contexto de sua equipe dentro de uma temporada. Com a aplicação correta deste conhecimento, consegue se precaver contra os possíveis fatores que venham a prejudicar a performance da equipe, mantendo-a em um estado ótimo de Freshness (descanso/plena recuperação) e Fitness (condicionamento) ao longo de toda a temporada. Como resultado, o treinador terá sempre à disposição os seus melhores jogadores para os jogos mais importantes. Isto significa um time com melhor comunicação / entrosamento / ajuste tático = o seu melhor time técnica, tática e fisicamente!
Poucos treinadores sabem como ou poucos tem a disposição para estudar em minúcias este assunto e aplicá-lo! Isto demanda dedicação e reuniões diárias e longas com sua comissão técnica para elaborar cada sessão de treino obedecendo aos princípios, sub-princípios e inúmeros detalhes que envolvem a periodização no futebol: calendário, microciclo semanal; Princípio 1 (o jogo e os 2 dias subsequentes a ele: recuperação); Princípio 2 (o próximo jogo e os 2 dias anteriores a ele); Princípio 3 (os dias de treinamento para condicionamento entre os jogos); demais Sub-Princípios: a carga e sua progressão nos treinos (objetivo, método, tempo, séries, pausas, tamanho do campo, número de jogadores, grupos e sub-grupos de jogadores: A, B, C… jogadores em situação especial: jovens, veteranos, recém contratados, velocistas, jogadores vindo de lesões…); repouso (qualidade e quantidade do sono); nutrição… Enfim, uma gama enorme de considerações a serem discutidas para se encontrar o melhor para a equipe. Dá trabalho! Demanda tempo, estudo e reuniões diárias!
ATLETAS: Bem, de nada adiantará todo o cuidado dispensado pela comissão técnica se os atletas também não se cuidarem fora de campo, daí a importância de se pesquisar o histórico comportamental do jogador antes de uma contratação e de conscientização dos mesmos.
RISCOS: Nossa vivência no futebol mostra que num elenco de +/- 30 jogadores, o Grupo A, os titulares, jogam muito e treinam pouco; o Grupo B, os reservas imediatos: alguns poucos entram na maioria dos jogos, mas a maioria dos que estão no banco, são os que mais sofrem com a falta de entrosamento e ritmo de jogo (jogam pouco e só treinam um pouco mais do que os titulares por conta das viagens, concentrações, etc.). Finalmente, temos o Grupo C, reservas dos reservas, geralmente jovens que vieram da base para compor o grupo… estes apenas treinam.
SOLUÇÕES: Um caminho que algumas poucas equipes já estão tentando implantar seria a montagem de uma equipe alternativa, um Sub-23, por exemplo, para disputar jogos ao longo de toda a temporada como: a) Na primeira fase dos estaduais, permitindo que o time principal possa estender sua pré-temporada aplicando treinos de modo mais gradual e progressivo, o que garantirá a construção de um lastro de condicionamento que perdure por todo o ano e, tão importante quanto, evitando o acumulo de fadiga, tão comum no modelo vigente de socar treinamentos em excesso na pré-temporada para ganhar condicionamento rápido para os estaduais; b) Campeonatos de 2ª ou 3ª divisão: Embora o nível de exigência técnica seja menor, pelo menos os atletas estarão em atividade permanente; c) Excursões a outros países, também como meio de proporcionar experiências internacionais, intercâmbios com outras escolas e exposição de seus atletas na vitrine.
Ou seja, teríamos um time alternativo que além de hipoteticamente ajudar a minimizar a perda de talentos na transição da base para o profissional, servirá também para essas situações de emergência como as vividas por Atlético e Cruzeiro nesta semana em seus jogos contra Chapecoense e Ponte Preta, respectivamente, com a possibilidade de se lançar nestes jogos um time (ok, menos gabaritado tecnicamente), mas pelo menos descansado, com ritmo e entrosamento, dando assim tempo para uma plena recuperação ao time principal!
GESTORES: Embora estejamos carecas de saber que a maior carência do futebol brasileiro é na área da gestão, continuaremos a bater na tecla: O futebol brasileiro deveria ser visto como um produto valioso que, se bem gerido, poderia vir a ser uma espécie de “NBA” do futebol mundial!
Gestores de clubes, confederações/federações, TV’s, etc., entendam:
1) Menos jogos = Menos fadiga = Jogadores mais inteiros = Menos lesões = os melhores jogadores sempre em atividade = Melhor comunicação/entrosamento = Maior qualidade técnica, tática e física = Melhores jogos = Mais público = Maior retorno financeiro = Liga forte…
2) Exigência de campos de jogo padronizados para os campeonatos menos importantes (2ª divisão, Séries C e D…) = Melhores jogos = Maior probabilidade de revelação de talentos = Menor risco de lesões…
Mais claro do isso só desenhando!
Alguma coisa já está sendo feita, mas o caminho a se percorrer ainda é longo!
⚽️🇧🇷🏆 FRANCISCO FERREIRA
CEO do Centro de Excelência em Performance de Futebol
Gestor Técnico / Executivo de Futebol
Representante WFA & GPS no Brasil
Associado ABEX-Futebol
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