EXISTE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO FUTEBOL BRASILEIRO?
Vou falar do CRUZEIRO, pois é o clube que conheço mais a fundo por ter trabalhado lá por 11,5 anos.
Pois bem, o Cruzeiro viu sua dívida, que era uma das menores entre os grande clubes, praticamente dobrar em um período de 3 anos. Foi o preço pago pela conquista do bicampeonato brasileiro de 2013/2014, quando sua folha chegou a absurdos 13 milhões mensais. Naquela conquista, com um diretor executivo extremamente agressivo nas contratações, mas inconsequente quanto à saúde financeira do clube… e não é coincidência que a história se repita hoje no Palmeiras: Número exagerado de contratações, evidenciando uma tática de tentativa e erro; mentalidade do ganhar a qualquer custo (mesmo que este custo seja o endividamento do clube, caso específico do Cruzeiro… já o Palmeiras está nadando em dinheiro) com um inchaço na folha salarial (também em torno de 13 milhões mensais); conduta agressiva atravessando negociações de outros… Fica patente que este perfil só funciona em clubes que estejam com – muito – dinheiro em caixa (Cruzeiro/Supermercados BH; Palmeiras/Crefisa…). Não é, definitivamente, um modelo que me agrada, pois falta responsabilidade para com as finanças do clube… O dirigente vai embora e o clube fica com a conta pra pagar!
Hoje as contratações de atletas no futebol brasileiro acontecem, invariavelmente, segundo este enredo:
-Diretor Executivo do Clube X ao Empresário/procurador do Atleta Y: “Olha, não assine com ninguém! O que / quanto você quer pra trazer o atleta Y para cá?”;
-Empresário/procurador do Atleta Y: “Me dê $$$ na mão que eu coloco ele aí!”;
-Empresário/procurador ao Atleta Y: “Vamos para o clube X, porque lá vai ser bom pra sua carreira!!!”;
-Atleta Y ao seu Empresário/procurador: “Ok! Você é quem manda!”;
-Presidente do Clube X ao Empresário/procurador do Atleta Y: “O que você pode fazer em termos de redução salarial do atleta Y pra nós?”;
-Empresário/procurador do Atleta Y: “Olha Presidente… é só porque é para o senhor, hem?! Vou ver se conseguimos reduzir de R$550.000,00 mensais para R$500.000,00!!!”…
-Presidente do clube X: “Fizemos um ótimo negócio para o clube! Contratamos o Atleta Y!”…
Ou seja, muito poder aos agentes e a mentalidade de quem não é um gestor, mas um torcedor (como a maioria dos dirigentes estatutários), que negociam por migalhas e acham que estão fazendo um negócio da China! A velha história que prevalece no futebol brasileiro: As pessoas acham que GOSTAR de futebol é a mesma coisa que ENTENDER de futebol!
Mas voltando ao tema: 2016 havia começado com algumas novidades muito interessantes no Cruzeiro, como a contratação de uma comissão técnica “permanente” de altíssimo nível como o auxiliar técnico Geraldo Delamore e o preparador físico Alexandre Lopes (o “permanente” é entre aspas mesmo, pois 6 meses depois, estes mesmos profissionais já estavam fora do clube)…
Então vieram ainda muitas outras experiências desastrosas na sequência: Diretor Executivo inexperiente (errou feio na condução do caso Riáscos); Diretor estatutário que não é do futebol e não deu muita autonomia ao Executivo; aposta em um treinador que era apenas uma promessa (Deivid); deixar de investir em um que poderia ter dado certo pelo notável currículo e conhecimento já adquirido (Delamore); contratações de atletas em número excessivo e apenas jovens promessas desconhecidas; contratação equivocada de Paulo Bento (com uma metodologia muito diferente para ser implantada no meio de uma temporada); falta de habilidade do próprio Paulo Bento e também de imposição da diretoria para agregar e aproveitar os conhecimentos dos competentes membros da comissão técnica permanente… Enfim, uma sucessão de erros! Erros que pareciam ter sido corrigidos para 2017 e indicavam um bom planejamento: Manutenção de Mano e comissão, contratações pontuais, etc., etc.
Após um início de ano que parecia muito bom, na verdade, ilusório… O clube perdeu o título estadual com um mau futebol nos dois jogos das finais. Na verdade, perdeu o título foi nos 2 empates contra equipes do interior que lhe custaram a primeira colocação na fase classificatória. Se tivesse terminado em 1º, teria as vantagens de jogar por 2 resultados iguais e fazer a última partida em casa, o que seria amplamente favorável: Jogaria mais fechado no Independência, com o Atlético obrigado a sair para o jogo para buscar o resultado e poderia nos contra ataques decidir a fatura.
O fato é que os dirigentes não aceitam críticas, muitas vezes levando para o lado pessoal, mesmo de quem tenta ajudar, mostrar os erros para que estes sejam sanados. Não estou nem aí se ficam ou não com raiva de mim! Meu compromisso é com a verdade e com a modernização do futebol brasileiro! Quero ver um dia um futebol brasileiro mais justo, decente e inteligente!
A realidade é que não há jogadores realmente diferenciados no mercado! Não há dinheiro em caixa para fazer grandes investimentos! O dinheiro das cotas de TV vai todo para o ralo das contas a pagar! Há alguns erros de escalação e de temperamento do treinador… Mano, você é um dos poucos bons treinadores do país… pare de reclamar e esbravejar! Você já está ficando marcado pela arbitragem! Há erros de postura/conduta de alguns atletas: inadmissível um atleta experiente como Rafael Sóbis parar na jogada para reclamar do árbitro originando o 2º gol do Atlético na final do Mineiro! Aliás, este foi um dos temas que estudamos nos cursos da WFA que fiz recentemente: O “Football Braining” + “Football Thinking”, que nada mais é do que o condicionamento cerebral do jogador de futebol a focar completa e unicamente no JOGO! Pensar O JOGO! PENSAR nas AÇÕES do JOGO! PENSAR na PRÓXIMA AÇÃO DENTRO do JOGO! MANTER o PENSAMENTO na AÇÃO do JOGO! MANTER PENSAMENTO nas PRÓXIMAS AÇÕES do JOGO! Não se deixando levar, de forma alguma, pelos fatores externos ao “JOGAR” (erros de arbitragem, por exemplo). Pode-se usar vários termos não muito corretos para isso: Atleta mentalmente forte; Foco; Concentração; Determinação, etc.
Passado o sonho de uma temporada irrepreensível, vem a realidade de um time que é até bom, mas nada de excepcional e que, se não engrenar rápido no Brasileiro, vai apenas brigar por posições intermediárias na tabela. Ainda é possível, já que “previsão” no futebol é jogo após jogo, o campeonato ainda está no seu início e o nível das outras equipes também não é assim de encher os olhos. O jogo contra o Grêmio (3×3) foi muito bom para o torcedor ver: Cheio de gols, chances e alternâncias, mas mostrou uma enorme fragilidade defensiva.
As lesões são um problema recorrente no futebol e no Cruzeiro não é diferente. O modelo de trabalho vigente, em que os treinadores e preparadores físicos socam treinamentos em excesso na pré-temporada com o objetivo de ganhar condicionamento rapidamente para os campeonatos estaduais, além de não se sustentar, provocando uma queda de desempenho na segunda metade da temporada, é também uma das principais causas de acúmulo de fadiga, que, por sua vez resultará em um número excessivo de lesões ao longo da temporada. Prejuízo técnico e financeiro que se repete ano após ano!
A princípio, 2017 tende a ficar entre um Corinthians super certinho com a sequência do belo trabalho de meu colega de Licença-A, Fábio Carille e o surpreendente Grêmio de Renato Gaúcho: Ofensivo, envolvente, competitivo e com bons nomes como Luan, Ramiro, Pedro Rocha, Geromel & Cia! Outros como o Flamengo e Palmeiras, correm por fora.
Refletindo, meu modelo de gestão é aquele que cuida de montar boas equipes dando continuidade aos trabalhos já iniciados, mas que também cuida das finanças do clube, não fazendo loucuras por conta de um “ganhar a qualquer custo”, tão comum no futebol brasileiro! Essa é a mente do dirigente-torcedor, incapaz de raciocinar que em um campeonato de 18 clubes, somente um será o campeão e que caberia aos outros 17, pelo menos se satisfazer em realizar um bom campeonato, manter a base e filosofia de trabalho como meio caminho andado para uma campanha ainda melhor no próximo ano! Isto se chama CONSTRUIR UM CICLO VIRTUOSO de boas equipes, boas campanhas, bom retorno, reinvestimento…
Meu modelo de gestão de um Departamento de Futebol Profissional começa por: Continuidade de Trabalho + Treinador e comissão técnica trabalhando em total integração com um departamento científico com voz ativa + Pré temporada estendida ao longo da fase inicial do Estadual para se ganhar o condicionamento de forma gradual e progressiva evitando o acumulo de fadiga = Consequentemente: redução ou até mesmo zerando o número de lesões = Treinador podendo sempre escalar os melhores jogadores = Melhora da comunicação/entrosamento do time = desenvolvimento do modelo de jogo = time mais ajustado = time mais capacitado a fazer bom campeonato! Tão claro e lógico que não deveria nem precisar desenhar, não é mesmo?!
Só mesmo no Brasil existe uma cultura BURRA e prepotente em que todo mundo acha que TEM QUE GANHAR o campeonato, mesmo aqueles como um América de Teófilo Otoni, por exemplo, que não dão um mínimo de condições, não pagando nem os salários dos atletas, dentre outras coisas mais… “EXIGE” resultado! Uma gente besta, arrogante, burra que não sabe seu tamanho nem o seu lugar!
Vai ser muito difícil competir, dentro de alguns anos, contra um Flamengo financeiramente saneado, por exemplo! A regra é: Quem tiver os melhores jogadores (mais caros) e paciência para promover/realizar trabalhos de médio e longo prazo (manutenção de treinador), sempre estará alguns passos à frente.
O caminho passa inevitavelmente por investimento maciço nas ciências do esporte! Departamentos científicos com voz ativa e poder de decisão mesmo contra aqueles onipotentes treinadores que querem mandar em tudo! Investimento efetivo na base e obrigatoriedade de capacitação contínua de treinadores e gestores.
Como venho falando desde 2014: Bendito 7×1!!! Uma humilhação mais do que necessária para nos fazer acordar, ainda que devagar, para a realidade de um futebol em que “planejamento estratégico” existe apenas até a 3ª derrota consecutiva… E que por isso mesmo, clama por modernização em todas as suas esferas!
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