FADIGA x DESCANSO E SUA INFLUÊNCIA NOS RESULTADOS DO FUTEBOL
O holandês Raymond Verheijen, considerado como um dos maiores preparadores físicos de futebol do mundo, conduziu um estudo sobre a influência do acúmulo de jogos em um curto espaço de tempo nos resultados dos clubes europeus. Verheijen fez um levantamento de todos os jogos da Champions League, Europa League, das ligas nacionais da Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Holanda, Portugal e Espanha em um período de dez anos (2001 – 2011). Foram levantados os dados de mais de 27.000 jogos neste período.
O objetivo principal do estudo foi o de verificar qual seria a real influência do pouco tempo de recuperação entre um jogo e outro na performance dos clubes nas competições supra citadas.
Parto de um pressuposto de que, quem realmente conhece e milita no futebol, deve considerar o jogo oficial como o momento de máxima intensidade dentro do microciclo semanal. O jogo é o momento onde os atletas devem se empenhar ao máximo para a performance, dar tudo o que podem, sem se poupar, em busca do êxito esportivo para o clube que lhes paga seus salários. A tensão competitiva que cerca as grandes equipes é realmente muito forte, com demandas altíssimas tanto no aspecto físico como no aspecto psicológico-emocional, provocando um enorme desgaste e tendo ainda, como agravante, um número excessivo de jogos quando se disputa mais de uma competição simultaneamente, como é o caso dos grandes clubes do futebol mundial.
O tempo para uma plena recuperação entre um jogo e outro é muitas vezes insuficiente, levando a um acúmulo de fadiga que prejudica a todos dentro desta cadeia produtiva do futebol: Atletas, treinadores, clubes, patrocinadores, redes de TV, torcedores, etc., pois: Atletas fadigados, não são capazes de manter um índice ótimo de performance; seus treinadores não conseguem treiná-los adequadamente; aumentam exponencialmente as incidências de lesões; a qualidade dos jogos diminui pois fadiga acumulada prejudica também a capacidade técnica e de tomada de decisão dos atletas e os jogos se tornam banais e sem atrativos; não satisfazendo assim ao público consumidor; consequentemente, a audiência diminui, os patrocinadores vendem menos… e por aí afora!
As tabelas abaixo, mostram de modo incontestável, que apenas 2 dias de intervalo entre um jogo e outro não são suficientes para uma plena recuperação dos atletas. A fadiga se mostra ainda mais acentuada à partir dos 30 minutos do segundo tempo, quando há uma queda vertiginosa de rendimento. Há ainda um outro agravante que são as viagens, que levam a uma queda de rendimento ainda mais acentuada das equipes visitantes.
RELAÇÃO “Nº DE DIAS DE RECUPERAÇÃO ENTRE OS JOGOS x RESULTADOS” | ||||||||
MÉDIA GERAL |
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Vitória Mandante | 47,0% | – | Fator casa | |||||
Empate | 26,2% | – | – | |||||
Vitória Visitante | 26,8% | – | – | |||||
2 DIAS DE INTERVALO (MANDANTE) x 2 DIAS DE INTERVALO (VISITANTE) |
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Vitória Mandante | 52,7% | 12,1%+ | Fator casa + Fadiga do adversário pela viagem | |||||
Empate | 27,5% | – | – | |||||
Vitória Visitante | 19,8% | 26,1%- | Maior Fadiga por conta da viagem | |||||
2 DIAS DE INTERVALO (MANDANTE) x 3 DIAS DE INTERVALO (VISITANTE) |
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Vitória Mandante | 28,9% | 38,5%- | Alta influência da fadiga | |||||
Empate | 31,7% | – | Influência da fadiga | |||||
Vitória Visitante | 39,4% | 47,0%+ | Alta influêcia da fadiga do adversário | |||||
3 DIAS DE INTERVALO (MANDANTE) x 2 DIAS DE INTERVALO (VISITANTE) |
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Vitória Mandante | 61,4% | 30,6%+ | Fator casa + Alta influência da plena recuperação | |||||
Empate | 23,0% | – | – | |||||
Vitória Visitante | 15,6% | 41,8%- | Altíssima influência da fadiga + Viagem | |||||
3 DIAS DE INTERVALO (MANDANTE) x 4 DIAS DE INTERVALO (VISITANTE) |
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Vitória Mandante | 44,4% | – | Não há diferença significativa | |||||
Empate | 29,9% | – | ||||||
Vitória Visitante | 25,7% | – | ||||||
4 DIAS DE INTERVALO (MANDANTE) x 3 DIAS DE INTERVALO (VISITANTE) |
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Vitória Mandante | 46,9% | – | Não há diferença significativa | |||||
Empate | 25,1% | – | ||||||
Vitória Visitante | 28,0% | – |
RELAÇÃO “Nº DE GOLS x DIAS DE INTERVALO ENTRE OS JOGOS” | |||||
MÉDIA GERAL = 2,64 GOLS/JOGO |
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Gols Mandante | 1,53 | 57,9% | |||
Gols Visitante | 1,11 | 42,1% | |||
MÉDIA PADRÃO E QUE SE MANTÉM PARA 3 OU + DIAS DE INTERVALO ENTRE OS JOGOS |
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0′-30′ de jogo | 30′-60′ de jogo | 60′-90′ de jogo | |||
0,66 = 25% | 0,84 = 31,8% | 1,14 = 43,1% | |||
Gol Mandante | Gol Visitante | Gol Mandante | Gol Visitante | Gol Mandante | Gol Visitante |
0,38=57,5% | 0,28=42,5% | 0,48=57,1% | 0,36=42,9% | 0,67=58,7% | 0,47=41,3% |
2 DIAS DE INTERVALO (MANDANTE) x 2 DIAS DE INTERVALO (VISITANTE) |
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0′-30′ de jogo | 30′-60′ de jogo | 60′-90′ de jogo | |||
– | – | – | – | Gols Mandante | Gols Visitante |
– | – | – | – | – | 0,24 = 49%- |
2 DIAS DE INTERVALO (MANDANTE) x 3 DIAS DE INTERVALO (VISITANTE) |
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0′-90′ | |||||
Gols Mandante | Gols Visitante | ||||
0,38 = 43,3%- | 0,86 = 83%+ | ||||
3 DIAS DE INTERVALO (MANDANTE) x 2 DIAS DE INTERVALO (VISITANTE) |
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0′-90′ | |||||
Gols Mandante | Gols Visitante | ||||
1,17 = 75%+ | 0,15 = 65%- |
Desempenho de times da Champions League nos jogos das Ligas Nacionais | ||||||||
Vitória | 62,2% | |||||||
Empate | 29,1% | |||||||
Derrota | 8,7% | |||||||
Média | 2,16 pontos por jogo | |||||||
Com Jogo da Champions League (4ª Feira) + Jogo da Liga Nacional (Sábado) |
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Vitória | 43,8% | 29,6%- | ||||||
Empate | 29,3% | – | ||||||
Derrota | 26,9% | 209,2%+ | ||||||
Média | 1,61 pontos por jogo | 0,55 pontos a menos | ||||||
Desempenho de times da Europa League nos jogos das Ligas Nacionais |
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Vitória | 46,1% | |||||||
Empate | 30,0% | |||||||
Derrota | 23,9% | |||||||
Média | 1,65 pontos por jogo | |||||||
Com Jogo da Europa League (5ª Feira) + Jogo da Liga Nacional (Domingo) |
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Vitória | 32,6% | 29,3%- | ||||||
Empate | 29,7% | – | ||||||
Derrota | 37,7% | 57,7%+ | ||||||
Média | 1,27 pontos por jogo | 0,41 pontos a menos |
No estudo ficou evidenciado também, por um outro lado, que 3 dias seriam suficientes para uma plena recuperação, inclusive não havendo diferenças significativas quando a comparação é feita entre 3 ou 4, ou mais dias de intervalo entre os jogos.
Os clubes da Champions League, teoricamente os melhores e mais poderosos, por apresentarem, estatisticamente falando, maiores probabilidades de vitoria em suas ligas nacionais (62,2%), são os que mostram a maior diferença percentual no que diz respeito ao aumento de suas probabilidades de derrota (209,2%) em jogos da liga nacional após jogarem pela Champions com apenas 2 dias de intervalo.
Para um jogo em que ambos os times vem de intervalos de apenas 2 dias desde a última partida, as probabilidades de derrota do visitante, que já eram maiores por conta do fator casa, aumentam ainda mais por conta do desgaste extra provocado pela viagem. Pior ainda se ambos os jogos (Champions e Liga Nacional ou Liga Europa e Liga Nacional) forem fora de casa.
Fica evidenciada uma regra: Times descansados aumentam em muito suas probabilidades de vitória nas competições e o oposto se dá com as equipes fadigadas, que veem aumentar em muito as suas probabilidades de derrota.
A questão é delicada e demandaria muita negociação. Interesses econômicos poderosos (redes de TV, patrocinadores, FIFA, etc.) tem dado a palavra final até o presente momento e, por conta destes interesses, a qualidade do futebol tem decaído. O mais sábio, no meu entender, seria o estabelecimento de uma norma inflexível proibindo a realização de jogos com intervalos menores do que 3 dias. Um exemplo sensato para uma sequência de dias de jogos poderia ser: Domingo; Quinta Feira; Segunda ou Terça Feira; Sábado ou Domingo… Preservaríamos com isto a integridade fisiológica dos atletas através do descanso adequado e assim garantiríamos espetáculos de melhor qualidade. Trata-se de uma questão lógica de se enxergar o “Produto Futebol” como algo valioso, que deve ser preservado e não apenas o lucro imediato! Não matar a “galinha dos ovos de ouro”!
CONCLUSÃO
É consenso que o maior inimigo dos atletas de alto rendimento responde pelo nome de FADIGA, que por sua vez, é a causa principal das LESÕES MUSCULARES e de DECLÍNIO DA PERFORMANCE ESPORTIVA (prejuízo técnico), conseuqentemente, também prejuízo financeiro para os clubes. Trata-se de um filme que se repete ano após ano em todos os grandes clubes e com ótimas estruturas, mas sempre apresentando as mesmas desculpas (calendário, excesso de jogos, viagens, não adianta, lesões fazem parte do futebol mesmo…). Ok! São mesmo estes os principais fatores causadores das lesões, mas o que temos feito efetivamente para evitá-las? O calendário vai continuar assim ou até mesmo piorar (temos agora a Primeira Liga, neste momento, um mal necessário, tornando o calendário ainda mais desumano, mas uma competição que pode ser o embrião para a libertação dos clubes do jugo da CBF num futuro próximo). Não estaria passando da hora dos grandes clubes criarem o Sub-23 e com estes disputarem os estaduais? Em suma, temos que ser inteligentes e ter também a coragem para realizar um efetivo revezamento de atletas quando tivermos apenas 2 dias de intervalo entre um jogo e outro! Está aí, junto com uma dosagem correta da carga de treinamentos, a solução para o problema das lesões musculares que aflige nossos atletas! RACIOCÍNIO LÓGICO: Se está comprovado que a fadiga causa queda de desempenho e aumenta as probabilidades de lesões musculares e, se essas lesões causam enormes prejuízos técnicos e financeiros aos clubes ano após ano, porque os clubes não adotam uma conduta efetiva de revezamento/rodízio de seus jogadores quando jogam no domingo e em sequência na próxima quarta feira, já que este intervalo de apenas 2 dias não é suficiente para a plena recuperação dos atletas? Se já é certa a queda de performance no jogo da quarta feira, coloca-se o time alternativo/B/reserva/Sub-23, que pelo menos estará descansado para este jogo e ainda não corremos o risco de lesões nos atletas titulares!
Referência Bibliográfica: Verheijen, Raymond – How Simple Can It Be
Fonte: www.ceperf.com.br
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