O conceito do Football Braining, ou “Cérebro Futebolístico”, que tem sido desenvolvido pelo meu amigo Raymond Verheijen, o holandês mentor e fundador da WFA (World Football Academy) em continuidade à sua surpreendente teoria da Periodização no Futebol, parte do pressuposto que:
a) O dualismo, tal como concebido pelo filósofo francês René Descartes, simplesmente não existe! Não, pelo menos como na clássica separação: mente / corpo, por ele preconizada.
b) Na verdade, a “mente” não existe como algo separado do corpo e, assim sendo, tudo seria “físico”, pois o cérebro é estrutura física pertencente/inserida a/em um corpo físico. Exemplo: quando, a uma pessoa com depressão, é receitado determinado medicamento, estes hormônios que ela passa a ingerir, irão resultar em processos químicos que, por sua vez, atuarão na estrutura física chamada cérebro, para que este volte a ter um funcionamento adequado!
c) A fadiga que afeta o físico, o corpo, se estenderia também à estrutura física chamada cérebro, porém, o cérebro entra em estado de fadiga ou deixa de exercer sua “tarefa” antes da fadiga que acomete os músculos, por exemplo, na prática esportiva…
Bem, sei que ainda está um pouco vago, então, vamos prosseguir com o nosso raciocínio e as coisas ficarão mais claras…
Considerando as esferas do consciente e do inconsciente cerebral de cada pessoa, teríamos, de modo genérico, as seguintes características para cada um destes “compartimentos”:
Enfim, várias outras correlações ou analogias poderiam ser inseridas na figura acima, mas não vem ao caso agora…
Isto posto, quero usar em exemplo prático muito interessante, tanto por ser recente, como também por ter ficado marcado na memória dos fãs do esporte como um dos mais memoráveis duelos da história do futebol mundial, que foi o jogo de volta pelas oitavas de final da Champions League entre Barcelona e PSG, no dia 08/03/2017.
Relembrando o contexto: O PSG havia vencido o jogo de ida, em Paris, por 4 x 0. Uma façanha que, todos hão de concordar, colocava o time francês já com um pé na fase seguinte da Europa Champions League.
Veio então o jogo de volta em Barcelona e o que se viu foi simplesmente fantástico! Um jogo que pareceu mais uma “montanha russa”, tamanhas as oscilações no placar e no estado de ânimo/motivação dos jogadores das duas equipes. Não vou dizer inacreditável, pois no futebol, e ainda mais sendo, em questão, um time com a qualidade ofensiva de um Barcelona com seu fabuloso trio “MSN”, pode se esperar de tudo!
Vamos então aos fatos:
Para o Barça, o jogo começa com um placar adverso de 4×0 e o adversário não é qualquer um, mas o excelente time do PSG. O consciente diz aos jogadores do Barça que é tarefa difícil mesmo, quase impossível! O consciente diz também aos jogadores do PSG que, claro, estão jogando contra o Barcelona, na Espanha, então devem ter muito cuidado, mas, ao mesmo tempo, é natural que haja um certo sentimento de segurança estribado no dilatado placar favorável conquistado em Paris.
O JOGO:
- Início da partida e logo aos 2 minutos, Suárez abre o placar. Vibração intensa e um reforço na esperança, pois agora faltariam “apenas” mais 3 gols para pelo menos levar a decisão para a disputa de pênaltis… Mas… é inegável que ainda falta muita coisa…
O jogo é duro e o Barça não consegue furar o bloqueio francês, até que, aos 39 minutos Kurzawa faz gol contra após sensacional toque de letra de Iniesta, e agora o Barça só precisa de mais 2 gols para levar aos pênaltis, tendo ainda um segundo tempo inteiro pela frente. Será?!
Logo aos 4 minutos do segundo tempo, Messi faz 3×0… Sim é possível!!! A parede do consciente vai ficando cada vez mais estreita, mas sabemos também que, à medida em que o tempo de jogo passar, ela pode voltar a crescer e o sentimento/pensamento de impossibilidade aumentará de modo inversamente proporcional.
Aos 16 minutos, Cavanni desconta para os franceses e é como uma ducha de água fria na fervura do time catalão. Está liquidado! Foi o sentimento geral, uma vez que o Barça teria agora que fazer mais 3 gols por conta do chamado “gol qualificado” (o fator gol marcado na casa do adversário) e eliminada também a possibilidade de disputa de pênaltis, faltando pouco mais de 30 minutos de jogo. Como estará o consciente/inconsciente dos dois times agora?!
O tempo vai se esgotando até que, aos 42’, Neymar de falta, faz 4×1… Será?! Mas o jogo está no fim e ainda faltam 2 gols…
Aos 44, Neymar de pênalti faz o 5º e aí já não existe mais a barreira do consciente para dizer que não vai dar! Os minutos finais do jogo viram um alucinante “linha contra defesa” e o Braça só faltou colocar até mesmo o seu goleiro na área do PSG!
Aos 49, Neymar, confirmando a mais grandiosa apresentação de sua carreira até os dias de hoje, alça uma bola milimetricamente nos pés de Sergi que torna realidade o aquilo que todos julgavam ser impossível! 6×1!!!
Catarse total! Só o inconsciente existe agora! Uma façanha! Épico! Incrível! Inesquecível!!!
Independentemente se houve erros da arbitragem ou não, foi um jogo cujo final foi para se assistir de pé! Pura emoção!
Significa, por exemplo, que, sabendo que são basicamente três os fatores que motivam/movem o ser humano (medo, recompensa ou aprovação social): Ao final deste jogo, mesmo fadigados, cada jogador do Barcelona seria capaz de dar o seu MELHOR SPRINT de toda a vida para marcar aquele sexto gol que lhes faltava para garantir a classificação! Isto demonstra que o cérebro comanda, o cérebro é físico! Neste exemplo, é o fator recompensa em seu máximo grau!
Onde quero chegar com este relato? Ao fato de que, da mesma maneira como existem nos conceitos da Periodização no Futebol as chamadas Football Actions: “MELHORES AÇÕES (EXECUÇÕES EFICIENTES) + MAIS AÇÕES POR MINUTO (RITMO DE JOGO) + MANTER BOAS AÇÕES (MANUTENÇÃO DE BOM NÍVEL DE EXECUÇÃO TÉCNICA/TÁTICA) + MANTER MAIS AÇÕES POR MINUTO (MANUTENÇÃO DE RITMO ELEVADO ATÉ O FIM DO JOGO)”, há também o que, de modo não muito exato, nos acostumamos a chamar de “atleta mentalmente forte”.
Na verdade, o mais correto seria chamar de atleta com elevada capacidade de Football Braining (“Cérebro Futebolístico”), que é, em analogia ao Football Actions, a capacidade de “PENSAR AS AÇÕES DO JOGO + PENSAR NA PRÓXIMA AÇÃO DO JOGO + MANTER PENSAMENTO NAS AÇÕES DO JOGO + MANTER PENSAMENTO NA PRÓXIMA AÇÃO DO JOGO”…
Mas afinal, o que é isso? Na verdade é o jogador que está 100% presente/focado no jogo. Em outras palavras, ele está DENTRO do jogo, seu cérebro é inabalável! Não há fator externo que o faça se desviar de sua função/missão/tarefa, ou do que está acontecendo dentro de campo! Não há torcida adversária, não há erro de arbitragem que o faça se desviar de sua missão… Só há o jogo ao qual ele se dedica integral e intensamente! É o que os leva a conseguir um placar de 6×1 como o do Barcelona contra o PSG… Envolve a otimização das funções cerebrais também em aspectos como: Tempo de reação, visão periférica, manter foco ou mudar a visão quando necessário e antecipar o que os adversários vão fazer… Enfim, o Football Braining é mais um componente que se soma aos seguintes fatores que aumentam consideravelmente as probabilidades de uma melhor performance:
Modelo de jogo = Referência objetiva clara (jogadores entendem, treinam, confiam e executam) + Comunicação (verbal e não verbal = entrosamento/entendimento tático) + Decisão [insights do jogo = posição, momento, direção, velocidade (TÁTICA)] + Execução da decisão (melhores ações = aplicação da TÉCNICA) + FÍSICO (melhores ações + mais ações por minuto + manter melhores ações + manter mais ações por minuto) = FOOTBALL FITNESS => Equipe ajustada que antecipa (não reage), propõe e executa com fluidez o jogo, joga rápido, fácil, com acerto e objetividade encontrando e criando espaços e atalhos. Precisão, rapidez e economia de energia = automatismo.
Saudações!
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