COPA/ 2018: ¿QUE PASA CON ARGENTINA?
Até o momento, a Copa/2018 vem mostrando um grande equilíbrio entre as seleções, todas elas se mostrando bem treinadas, organizadas e com padrão de jogo bem definido, resultando assim em muitos placares apertados e poucas goleadas!
Uma vez que todos possuem organização, penso que o que vai ser decisivo mesmo é o talento aliado ao controle emocional. Logicamente que existe o imponderável, o lance fortuito que pode decidir um jogo, como uma falha individual por exemplo, mas isto é exceção e não regra, assim como problemas extracampo ou de “vestiário” também podem vir a interferir.
Se, por um lado, os treinadores de seleções nacionais podem, teoricamente, montar suas equipes com os melhores jogadores de seus países, por outro lado, é nítida uma maior dificuldade de comunicação (entrosamento/afinidade/conjunto/percepção) pelo fato deles não jogarem juntos em seus clubes: É o que chamo de “A Sina de Messi”!
Lionel, é fato!, trata-se do jogador com o melhor insight de jogo (tomada de decisão) do futebol mundial; é também o jogador com a melhor técnica, além de possuir velocidade e explosão, mas há algo que tem sido um martírio para Messi na seleção argentina: A deficiente comunicação não verbal! Está aí portanto, a diferença entre o seu Barcelona e a Seleção Argentina! Há, porém, exceções como aquelas seleções que tenham tomado algum clube como base para convocação de seus jogadores – neste ponto, há que se destacar o interessante “Fator Guardiola”: Mesmo sem nunca ter treinado uma seleção nacional, Pep pode ser considerado um bi-campeão mundial moral de seleções… Explico: Espanha/2010 e Alemanha/2014 foram campeãs utilizando como base os times treinados por Pep Guardiola, o Barcelona e o Bayern Munique, respectivamente e assim o problema da deficiência na comunicação não verbal foi pelo menos minimizado!
De acordo com as teorias da Periodização do Futebol preconizadas por Raymond Verheijen, existe uma hierarquia no futebol que obedece à seguinte lógica e progressão, a chamada sequência CDEF (Comunicação/Decisão/Execução/Fitness que representa: Tática+Técnica+Físico). Vejamos: 1º) Comunicação (verbal e não verbal, sendo a segunda a que se refere com maior peso ao jogo coletivo: jogadores que já jogam e treinam juntos todos os dias e há mais tempo, desenvolvem essa comunicação e já antecipam/preveem o que os companheiros irão fazer, uma intuição e um certo automatismo, pelo olher, posicionamento do corpo, linguagem corporal do companheiro…); 2º) Decisão (insight de jogo, a tomada de decisão de maneira rápida, precisa, acertada e econômica em relação às situações-problema do jogo); 3º) Execução (É na verdade a execução motora de uma decisão, ou seja, a aplicação da técnica para realizar os gestos/movimentos técnicos obedecendo a posicionamento, momento, direção e velocidade para sua aplicação eficaz); 4º) Físico/Fitness (é o condicionamento para a prática do futebol envolvendo todas essas dimensões anteriores para execução das ações do futebol que seriam: 1) Melhores Ações (organização e transição ofensiva/defensiva) + 2) Mais Ações por Minuto (ritmo/intensidade de jogo) + 3) Manter Melhores Ações (qualidade de jogo pro tempo prolongado) + 4) Manter Mais Ações por Minuto (intensidade de jogo por tempo prolongado). Resumindo: Comunicação + Decisão é a Tática. Execução é a Técnica. Football Fitness é a capacidade para realizar tudo isto em alto nível de rendimento! Como todo treinamento envolve demandas de todos estas vertentes, cabe ao treinador e sua comissão técnica, dentro da periodização, estabelecer a ênfase a ser dada em cada sessão de treinamento: Cdef (11×11 a 8×8 = maior número de jogadores = maior complexidade = desenvolve melhor comunicação); cDef (7×7 a 5×5 = diminui o número de jogadores = aumenta o ritmo e o número de intervenções individuais); cdEf (4v4 a 3×3 = número ainda menor de jogadores = aumenta ainda mais o número de execuções = sobrecarga técnica) ou cdeF (jogos e exercícios específicos de intensidade).
Como eu citei no início o fator emocional, creio que fica evidente que a linguagem corporal de Messi antes, durante e após o jogo contra a Croácia indica que algo não vai bem no time argentino e/ou com o seu maior craque.
A Croácia foi absolutamente consistente e consciente durante todo o jogo. Acredito que a “Síndrome de Time Grande” (tem obrigação de ir pra cima, de vencer!) tenha feito a Argentina se expor muito – especialmente após levar o primeiro gol – confiante no talento individual de seus jogadores para buscar o resultado máximo. Sem ter como evitar ser um profeta do acontecido, se tivesse jogado com maiores precauções, talvez não tivesse perdido e, quem sabe, até vencido através de um contra ataque. Imagino como o vestiário argentino deve ter fervido! Guardadas as devidas proporções, pode ser uma espécie de “Mineirazo” para los hermanos, afinal, o risco de eliminação na primeira fase da copa é agora mais do que real, o que assume contornos dramáticos! Uma pena! Uma Copa do Mundo não deveria ficar sem o talento de um gênio como Messi! Inexplicável também a ausência no time titular do jovem e extremamente talentoso Lautaro Martinez!
Ouso dizer que os únicos jogos realmente eletrizantes até o momento, foram Espanha 3×3 Portugal (batalha entre o time de melhor posse e toque de bola contra aquele que possui o jogador mais decisivo do futebol mundial na atualidade) e México 1×0 Alemanha (o time mais ajustado e aplicado taticamente contra o de futebol mais intenso)! Outros jogos foram mais dramáticos à medida que o risco de eliminação aumentava nos segundos jogos das equipes: Irã x Espanha, Argentina x Croácia, dentre outros. Vejo a Rússia se impondo física e emocionalmente pelo fator casa, crescendo, ganhando moral e podendo vir a ser uma surpresa. Espanha mostra que há lugar para o seu jogo de posse e troca de passes desde que treinado à exaustão e com material humano capaz de executá-lo. Brasil vai crescer na competição, é o que imagino e espero.
Mesmo as equipes que perderam por placares mais dilatados mostraram a organização tática que citei – exceção talvez da Argentina de Sampaoli… (grande treinador, diga-se, mas…). Problemas internos? Fator emocional? Demora na sua escolha e efetivação como novo técnico? Só quem está lá dentro pode dizer! – o que evidencia que houve sim, nas últimas três copas uma grande evolução em termos de organização tática no mundo do futebol, fruto também da difusão e democratização da informação e do conhecimento (periodização tática, complexidade sistêmica, etc.), provocadas pela revolução digital (internet, redes sociais, informação instantânea…) e das tecnologias que facilitam as análises!
Talvez seja interessante para todo treinador fazer um check list antes de cada jogo: a) Tenho bons jogadores?; b) Eles estão bem treinados?; c) O ambiente é bom?; d) O adversário é perigoso?; e) Que resultado me interessa ou me satisfaz?; f) Minha leitura do momento/contexto está correta?…
Saudações!
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