⚽️ COPA 2018: OBSERVAÇÕES E LIÇÕES – LIBERTOS DO PESADELO?

COPA 2018: OBSERVAÇÕES E LIÇÕES – LIBERTOS DO PESADELO?

E foi-se a Copa/2018! Apesar de toda a onda de parte da mídia, assim como foi no Brasil em 2014 com a questão das obras com cronogramas atrasados, acabou sendo um evento de grande sucesso! A gestão de eventos desta magnitude está cada vez mais profissional e tecnológica, resultando em extrema organização, com grandes empresas tomando as rédeas sob a supervisão da FIFA. Ninguém quer fazer feio perante o mundo. A tendência é que as próximas sejam ainda melhores com a experiência agregada e acumulada resultando em mais expertise e know-how.

Do ponto de vista técnico, nenhuma grande novidade, por assim dizer, mas é visível e inegável uma evolução do jogo coletivo e dos sistemas defensivos com seus consequentes desdobramentos como, por exemplo, o aumento significativo dos gols marcados em jogadas de bola parada. Assim como já havia sido observado no Brasil em 2014, algumas seleções menos votadas mostraram um elevado nível de compreensão e aplicação tática, conseguindo endurecer os jogos contra as grandes. No final, porém, quase sempre sobressaia o maior poderio técnico das grandes seleções e o resultado como consequência. Foi assim com o Brasil, que, se não fez uma copa brilhante, pelo menos mostrou organização, consciência e consistência em campo – o que não víamos de modo assim tão nítido desde 1994 com Parreira – sem, porém abrir mão de suas características históricas de jogo ofensivo e de proposição.

Foi a Copa do “ônibus estacionado à frente da grande área”, com as linhas baixas de 5 defensores compactadas em amplitude (largura) e em profundidade (linhas próximas), onde a organização defensiva muitas vezes superou a individualidade e criou grandes dificuldades para as equipes de proposição do jogo. Atuando assim, elas buscaram nas transições ofensivas diretas e em alta velocidade surpreender os adversários nos contra ataques – O México, contra a Alemanha, poderia ter aplicado até mesmo uma goleada histórica com esta proposta.

Quanto à eficiência das bolas paradas, chamou atenção principalmente aquelas executadas em escanteios direcionados ao primeiro pau. Além dos pênaltis marcados, tivemos também alguns gols contra, muito em função destes já citados blocos baixos de marcação que congestionavam a grande área! Foram poucas goleadas; não tivemos muitos gols em chutes de longa distância; pouquíssimos gols de falta, assim como poucos “frangos” e excelentes goleiros! Jogadores europeus cada vez mais altos! Algumas das melhores equipes com elencos bem jovens (mas rodados e com cancha de Champions League)… seria isto, uma confirmação de estudos que demonstram que, elencos jovens correm menos riscos de fracasso na intensa dinâmica de jogo do futebol atual?!

O VAR foi uma inovação necessária e bemvinda, mas um pouco chato, muitas paralisações, algumas delas demoradas e não houve uma padronização dos critérios para sua utilização… talvez por ser a primeira experiência e não estarmos – árbitros, jogadores, torcedores, jornalistas – ainda acostumados e/ou dominando esta novidade. Um aspecto positivo que esperamos que venha como resultado: se não acabar, pelo menos coibir tanto o irritante agarra-agarra dentro da área quanto as simulações teatrais! A questão da interpretação dos pênaltis por “mão na bola” ainda gerará polêmica e creio que a única maneira de resolver seria se radicalizarem a regra: se tocar na mão, em qualquer circunstância, seja intencional ou não, é pênalti!

Uma Copa sem lances desleais. Uma ou outra “catimba! aqui e ali, mas sem maiores problemas. A enorme exposição dos jogadores por conta do grande número de câmeras, além do fato do jogadores se conhecerem bem e quase todos jogarem juntos ou contra nos times europeus ajuda a criar um ambiente mais amistoso.   

Enfim uma copa de jogo coletivo e de grande equilíbrio técnico, evidenciando a evolução dos treinadores e dos métodos de treinamento, assim como da compreensão e aplicação tática por parte dos jogadores, transformando algumas partidas em verdadeiros “jogos de xadrez”, onde a tônica foi o “erro zero”! Para o torcedor comum, pode até ser que tenham sido jogos meio monótonos, embora nos minutos finais dos mata-mata, ficassem realmente eletrizantes! Para quem é do ramo e gosta de tática, um banquete! Em suma, o confronto entre basicamente duas propostas de jogo: a posse de bola e domínio territorial x o bloco defensivo baixo com transição rápida para o contra ataque.

Julgo que o Brasil conseguiu apagar a imagem negativa de um time sem conjunto e sem uma proposta clara de jogo coletivo do time de 2014. Exorcizamos de vez o pesadelo daqueles 7×1, o “11 de Setembro” do nosso futebol?! Acredito que sim! Desta vez foi uma eliminação sem traumas, mostrando também que podemos evoluir e estar otimistas em relação ao futuro. Mostramos ainda uma diminuição da chamada “Neymar-dependência”, com novos nomes crescendo em produtividade e moral como: Firmino, Douglas, Coutinho, Cassemiro… Poderíamos perfeitamente ter ido mais longe – escrevo agora como um torcedor comum citando os famosos “se” do futebol e como um desses “profetas do acontecido”… inevitável! – Cassemiro fez muita falta – cometemos um erro decisivo ao não “matar a jogada” do Lukaku no meio de campo, no 2º gol da Bélgica – jogamos muito no 2º tempo, com muito volume ofensivo e criando muitas chances de gols – ah… se o juiz marcasse o pênalti em Gabriel Jesus… – o excelente goleiro Courtois fechou o gol – Gabriel Jesus não deveria ter ficado mais fixo no ataque, sem muitas obrigações de recuar tanto para marcar? – Douglas Costa, Renato Augusto e Firmino não deveriam ter entrado mais cedo? – se a bola na trave do Thiago Silva entra – Se isso… se aquilo…

Arriscando na estratégia: O treinador belga, Roberto Martinez, foi um verdadeiro estrategista e aí precisamos analisar contextos e história de cada um: a Bélgica nunca foi uma expressão máxima do futebol mundial; seus torcedores não são daqueles que matam ou morrem por causa de futebol. Jogando quartas de final contra o poderoso Brasil, ele pode então se sentir à vontade para arriscar, para ir para o tudo ou nada e foi o que ele fez: surpreendeu Tite, ao mudar seus jogadores de posição. Se a zaga do Brasil era um de seus pontos fortes, então esqueça a zaga!, não coloque Luakaku, alto e forte no corpo a corpo contra Thiago e Miranda, fazendo o pivô, pois isto é o que todos esperavam, antes, puxe-o para um dos lados e mande Hazzard para o outro, explorando as costas dos laterais, já que estes não teriam Cassemiro os cobrindo. Deixe De Bruyne mais centralizado, mas circulando. Aposte na bola parada… Deu certo! Mas… e se não desse?! Bem, para Martinez, estaria tudo bem! Ele continuaria com prestígio e certamente garantido no comando da seleção flamenga, pois teria chegado aonde eles, racionalmente, entendem que poderiam ter chegado. Agora, vá Tite, arriscar modificações deste tipo!!! Se não dá certo é “crucificação” na certa e ele nem volta para casa! Enfim, perdemos para um ótimo time, assim como poderíamos perfeitamente ter empatado e levado à prorrogação e pênaltis, ou mesmo ter vencido por 3×2, ou 4×2, ou até 5×2… Futebol!

Neymar sai com sua imagem arranhada. Muitos esperavam, eu inclusive, que esta seria a sua chance de consagração total, como o nome da copa! – de certo que a fratura e cirurgia no pé podem ter influenciado – mas ficam no ar sintomas de uma certa imaturidade, mesmo já tendo 26 anos e rodagem pela Europa, indicando também que, talvez, careça de uma assessoria para gestão de sua imagem que o oriente a evitar polêmicas diversas, desnecessárias e prejudiciais: os penteados, as simulações verdadeiramente teatrais, discussões com árbitros, provocações a adversários e torcedores, declarações polêmicas, briguinhas em redes sociais, não dar entrevista após a eliminação, etc. Acabou ficando ainda mais visado e antipatizado!

O Brasil teve três lances polêmicos em que o VAR, inexplicavelmente, não foi utilizado: o empurrão em Miranda no gol da Suíça; o pisão do mexicano em Neymar existiu, independente da encenação; o pênalti em Gabriel Jesus não marcado contra a Bélgica… Pergunto: poderiam ter sido retaliações pelo fato do famigerado “Coronel Nunes” (presidente interino da CBF) – a quem o termo “coronel”, a despeito de ser verdadeiramente portador desta patente, soa mais do que apropriado – ter feito a lambança que fez no episódio da votação para a sede da Copa/2026? – Pra quem não sabe, estava tudo acordado com a FIFA e demais confederações para votarem em bloco na candidatura USA/México/Canadá, mas na última hora o “coroné” votou no Marrocos! – gerando suspeitas até mesmo de possíveis interesses ocultos… Retrato perfeito da politicagem podre que impede o país e nosso futebol de alcançarem a definitiva redenção, tão sonhada pelas pessoas de bem! Ou poderiam ser estas, retaliações por conta das simulações teatrais de nossos jogadores? Perguntas que ficam no ar…

Vi jornalista afirmar que, ir jogar na Europa não acrescenta nada aos nossos jogadores – sem comentários… – outros comentando que os nossos jogadores, por jogarem lá, chegam à Copa extenuados por estarem no fim da temporada, mas… se esquecendo que, as principais seleções, também enfrentam o mesmo problema, ou seja, chegam com seus jogadores condicionados, mas ao mesmo tempo, fadigados. Não posso afirmar nada sobre as lesões de Douglas Costa, Camilo e Fred, pois não sei como vinham em seus clubes e nem como foi o volume e a intensidade do trabalho na preparação da seleção, afirmo apenas que as Teorias da Carga Aguda & Carga Crônica e da Periodização no Futebol, estão aí para ajudar a resolver de vez essas questões!

Os sistemas táticos mais utilizados foram o 1-4-1-4-1, variando geralmente para o 1-4-2-3-1. Dois sistemas bem equilibrados em que se mantém a linha de 4 defensores com mais 1 ou 2 volantes protegendo a zaga e permitindo fazer a transição para o ataque com até 5,ou 6, ou até 7 jogadores quando um dos laterais também sobe (times de proposição). Ou, partindo do consagrado e também equilibrado 1-4-4-2 clássico, variavam para o 1-4-3-3 no momento ofensivo, ou para o 1-5-4-1 (o “ônibus!”), verdadeiro ferrolho, a famosa retranca, no momento defensivo.

Surpresas: Com o decorrer da competição, acabaram nem se mostrando tão surpresas assim: França, Bélgica Croácia, Inglaterra… as quatro semifinalistas… Antes da Copa, eu arriscava palpites em Brasil, Alemanha, Espanha, França ou talvez Argentina, ou, como intrusas, uma Bélgica… uma Inglaterra, que, apesar da muita tradição, nunca chegava… Na verdade, acho que a surpresa está mesmo é no fato de chegarem JUNTAS!, estas quatro nas semifinais (duas que haviam sido campeãs uma única vez e duas outras que nunca haviam sequer chegado a uma final) com apenas uma das chamadas históricas (a França)! Quatro europeias! Croácia e França com seus craques Modric, o discreto!… e Mbappé, o rápido!, classificaram-se para a finalíssima após jogos extremamente equilibrados contra Inglaterra e Bélgica, respectivamente! A Croácia realiza uma façanha chegando pela primeira vez a uma final. França pela 3ª vez em 20 anos! Enfim, três destas seleções com muitos jogadores negros: a primeira ou segunda geração dos filhos de imigrantes africanos, agregando talento e criatividade. Olho neles!

O papel de cada um: Brasil: consistente e promissor, só precisa de continuidade e torcer para que a esfera política não atrapalhe e, quem sabe, acorde para os ventos de mudança, se dispondo a abrir mão de seu poder quase absoluto; Alemanha: com volume de jogo, mas talvez auto-suficiente demais e carecendo de um jogador fora de série, decisivo, foi talvez a maior decepção. Mas continuará forte nos próximos anos, pois o maciço investimento continuará sendo feito; Argentina: desorganizada e “Messi-dependente”, repetindo a “Sina de Messi”: um jogador brilhante e decisivo no entrosado time do Barcelona, mas um jogador sobrecarregado e mergulhado no caos deste time com pobre comunicação não-verbal da Argentina. Lautaro Martinez deveria ter lugar no time! Acredito que devem ter tido muitos problemas internos; Espanha: um time altamente técnico e que dá aula de posse de bola, mas também carente de mais talentos decisivos no terço final, jogadores que numa enfiada de bola, num passe ou drible improvável, consigam furar os bloqueios adversários; México: sua melhor geração, sua melhor organização, seu melhor treinador, fez sua melhor copa, mas falta-lhes também estes jogadores imprevisíveis/decisivos; Rússia: na empolgação da torcida e na força física, foi um time correto e fez sua melhor copa; Portugal: realizando o que se pode dentro de sua “CR7-dependência”; Uruguai: fez bom papel e a perda de Cavani diminuiu muito seu poderio. Um ponto positivo é o fato de hoje se preocupar mais em jogar e não em dar pancada; Colômbia: evoluiu, mas ainda falta chão. James Rodriguez fez falta!; Irã: talvez o time mais bem treinado, mais certinho!. Méritos pela continuidade do trabalho do português Carlos Queiróz; Peru e Suécia com times muito bem ajustados; Japão: obediente e disciplinado, como preza a cultura oriental, mas quanta ingenuidade contra os belgas!; Bélgica: há sim uma geração extraordinária com Hazard, De Bruyne, Lukaku… e não seria nenhum exagero se tivessem passado pela França e chegado ao título; Inglaterra: estaria já, começando a colher os frutos de sua tão demorada e tão esperada, mas finalmente iniciada revolução na mentalidade de formação?; Croácia: a grande surpresa, talvez por não ser um centro que nos chame muito a atenção, mas comandada pelo talentoso Modric; França: uma ótima geração, técnica, alta, forte e veloz, precisa nas finalizações, onde se destacou o garoto prodígio: Mbappé, seguido por Pogba e Griezmann! Senti falta de Holanda, Itália, Estados Unidos (este, mais por mera curiosidade para saber como anda o desenvolvimento de seu futebol)…

Allez Les Bleus!

Como eu amo as Copas do Mundo!!!

Futuro: Quem vai mandar no futebol nos próximos anos? França, Bélgica, Alemanha, Espanha, Portugal e Inglaterra realizam trabalhos exemplares de formação… Alguém postou nas redes sociais que um dirigente europeu deu a seguinte explicação pelo sucesso da Europa no futebol mundial nos últimos anos: “95% da renda da UEFA é distribuída aos clubes. Na América do Sul, 95% foi para o bolso dos dirigentes por décadas!”… Vergonha! Não há nem como contestar! E que ninguém se iluda… se não fizermos as reformas estruturais necessárias nas esferas legislativa, político- administrativa, jurídica e de gestão do nosso futebol, este abismo só vai aumentar!

Concluindo… Fica Tite!… Muda Brasil!…

Reformas urgentes: política, fiscal, tributária, previdenciária, judiciária… Lavajato em todas as instâncias! Consequente reforma, atualização e modernização da legislação esportiva: CBF, federações, clubes, etc. como entidades de interesse público que tenham obrigação de gerar lucro, de prestar contas de modo transparente e efetivo, com fiscalização rigorosa, sistemas eleitorais justos e democráticos, meritocracia… clubes libertos do jugo de CBF e federações para promoverem suas próprias ligas… não é pedir nada demais, apenas aquilo que é lógico e sensato… bem, a lista é longa!… talvez seja utopia…

Saudações!

 

 

⚽️🇧🇷🏆 FRANCISCO FERREIRA
CEO do Centro de Excelência em Performance de Futebol 
Gestor Técnico / Executivo de Futebol 
Representante WFA & GPS no Brasil
Associado ABEX-Futebol
CBF Licença A
+(55) 31 99104-9620 / 3444-4724  

 

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