Texto de 17/02/22.
Minha homenagem ao Rei, maior responsável por eu me apaixonar pelo futebol desde criança, e que hoje, 29/12/22, descansou! Que Deus o tenha!
E O PELÉ?!
A exemplo da série “Neymar, o Caos Perfeito”, o documentário “Pelé”, lançado em 2021 pela Netflix, também é bom, mas apresenta alguns graves defeitos. É triste ver Pelé hoje já com a saúde debilitada, afinal, ele foi o maior esportista brasileiro e o maior jogador de futebol de todos os tempos. Um herói nacional, pelo menos para mim, que cresci vendo a ele e a uma profusão de outros grandes craques jogar. Um exemplo como atleta! Um vigor físico extraordinário, em especial a sua força explosiva, marca registrada de suas arrancadas fulminantes em direção ao gol adversário! Uma capacidade extraordinária de conduzir a bola em velocidade e com ambos os pés, poder de frenagem, de arranque curto, de impulsão vertical, de ginga, de pensar rápido e com precisão na tomada de decisão, enxergando em campo caminhos que outros não enxergavam! Passes e chutes ambidestros, precisos e potentes! Exímio cabeceador! O rei do “chapéu” e da matada no peito, o rei da “caneta”! Não consigo encontrar nele algum fundamento em que fosse deficiente! O jogador mais completo que já existiu!
Há porém no documentário, uma clara forçação de barra da parte de alguns jornalistas, aliás, todos com um claríssimo viés, insinuando até mesmo que, se Pelé tivesse se posicionado politicamente naqueles anos do regime militar, os rumos do país seriam outros… pura balela!!! Mas, ainda assim o criticam, como se todo mundo tivesse a obrigação de se posicionar política e ideologicamente! Até mesmo nulidades, com conhecimento zero de futebol, como Gilberto Gil e Benedita da Silva tiveram espaço para, como esperado, não dizerem nada de novo a não ser os lugares comuns da lacração sobre pobreza, conflitos de raças, etc., com os quais somos diariamente bombardeados nestes tempos de extrema polarização política! Mas o documentário, como um todo, vale por ver Pelé sendo Pelé!, em cenas dentro e fora de campo, além de uma trilha sonora de fundo simplesmente espetacular!
Me chamou atenção e me comoveu no documentário, uma clara percepção de que Pelé era apenas um jovem simples que só desejava uma coisa na vida: JOGAR BOLA! Era sua paixão, seu tesão, sua única e esplêndida vocação! Aquilo que ele fez com absoluta maestria e como nenhum outro! Uma atmosfera de simplicidade e até mesmo ingenuidade parecia envolvê-lo. O protótipo perfeito do bom moço, de sorriso fácil, cativante, e que dava mesmo a impressão de que todos gostavam dele. Dentro de campo porém, Pelé nunca foi ingênuo! Pelo contrário, uma pantera negra matadora e indomável com seus olhos sempre arregalados e projetados, como quem quer enxergar tudo à sua volta dentro do campo! Metia medo em qualquer zagueiro!
Até hoje me emociono com várias de suas jogadas, principalmente as da Copa de 70 no México! O corta-luz que Pelé deu no também lendário goleiro uruguaio Ladislao Mazurkiewicz, é pra mim o lance de maior beleza plástica da história do futebol! Faz parte de minhas memórias afetivas relativas ao futebol! Eu, menino de 6 anos, ficava depois tentando imitar aquele lance com meu irmão… Aquilo foi simplesmente mágico! Foi realmente a Era de Ouro do futebol!
Alguns dizem que se Pelé jogasse hoje, não seria o que foi, pela enorme evolução das Ciências do Esporte e, como consequência, pelo extraordinário condicionamento físico dos marcadores que ele teria que enfrentar hoje. Penso porém que o mesmo raciocínio deveria se aplicar também ao próprio Pelé: Imaginem, ele, Pelé, recebendo os mesmos cuidados em termos de novas metodologias de treinamento, fisiologia, fisioterapia, material esportivo de ponta, enfim, tecnologias mil aplicadas às Ciências do Esporte e que não existiam em sua época… Sim, acho que ele poderia ser ainda melhor!
Me lembro de um jogo no Mineirão, Cruzeiro x Santos, em que eu, com apenas 7 anos presenciei algo que, para mim, naquela idade, soava como inconcebível: Pelé perdeu um pênalti! Bateu até bem, mas o goleiro reserva do Cruzeiro, Hélio, que substituía o Raul, contundido, saltou no canto certo e fez uma bela defesa… comecei ali, a ter um maior senso de realidade, pois constatei que até mesmo o Pelé podia errar um pênalti!
Notícias recentes dão conta de que Pelé está com um câncer generalizado e, já com 81 anos de idade, as perspectivas não devem ser muito otimistas, creio eu. Ano passado perdemos Maradona… e o mundo do futebol vai ficando um pouco mais triste.
Em 2003, já quase terminando a temporada, com o Campeonato Brasileiro já em sua reta final, eu trabalhava no Cruzeiro e fomos jogar contra o Paraná Clube em Curitiba. Era um jogo importante e que chamava a atenção da mídia porque se vencêssemos estaríamos com uma mão na taça. Para minha surpresa, na véspera do jogo, ao descer para o saguão do hotel antes do jantar, dou de cara com dois dos meus ídolos de infância… de pé, próximos ao balcão da recepção, em uma animada conversa: Pelé e Raul (este, já conhecido pessoalmente)! Confesso que as pernas tremeram, me senti um adolescente… voltei correndo ao meu quarto para pegar minha câmera fotográfica (ainda não tínhamos os smartphones com câmeras de hoje), mas quando voltei ele já tinha ido para o seu quarto! Na verdade, eu queria, além da foto, agradecer pessoalmente ao Pelé por tudo o que ele havia feito pelo futebol, pelos gols e jogadas geniais que contribuíram para que eu me tornasse um apaixonado pela bola!
Meus saudosos tios, Paulo Benigno e Duque, também me contavam grandes histórias da bola e das muitas vezes em que, como preparador físico e treinador, respectivamente, em seus clubes, enfrentaram o Santos de Pelé. Eu, menino, ficava fascinado! Uma história interessante sobre o Pelé, foi a do jogo entre Brasil e Romênia pela Copa/70. Em determinado momento do jogo, Pelé chegou próximo ao banco e deu uma dura no técnico Zagallo gritando: “Ou você tira esse “artista de cinema”, ou nós vamos perder esse jogo”!, referindo-se ao zagueiro boa pinta, Fontana, do Cruzeiro, que havia sido escalado no lugar do Piazza que, por sua vez, atuou como volante, já que Gerson estava contundido. Fontana estava mal na partida e o Brasil já começando a passar sufoco! No fim das contas, Zagallo não fez a alteração sugerida… dizem as más línguas que Fontana havia ameaçado Zagallo de morte caso não fosse convocado para aquela Copa… talvez seja apenas folclore, não sei. Tem a histórica vitória do Náutico comandado pelo meu tio Duque sobre o Santos de Pelé por 5×3… Tem a história dos 6×2 do Cruzeiro de Tostão, com meu tio Paulo Benigno como preparador físico…
Bem, o Pelé humano, ou melhor, como ele próprio, muitas vezes faz questão de separar, o Edson, que cometeu muitos erros na vida, que teve uma infinidade de mulheres — tamanho era o assédio sobre ele — que se casou e separou algumas vezes, que não reconheceu uma filha, fruto de um destes relacionamentos extraconjugais… enfim, o Edson não passava de um homem de carne e osso como qualquer outro! Não o julgo! A exemplo de Neymar, alguém com essa dimensão como figura pública, dificilmente passa ileso pelas seduções do mundo!
No entanto, nada disso tira sua majestade, de Rei Pelé, o Rei do Futebol e, um outro filme — “Pelé Eterno” — que mostra uma interminável sequência de lances absolutamente sensacionais, comprova tudo o que se diz dele! Não haverá outro igual e, se houvesse naquela época, a premiação da Bola de Ouro, em nível mundial, para se escolher o melhor jogador do ano, ele talvez as ganharia, quem sabe de 1958 a 1970, podendo talvez haver uma ou outra exceção, como 1962 e 1966, por conta de contusões!
A ele minha homenagem eterna! Vida longa ao Rei do Futebol!
Francisco Ferreira
Gestor Esportivo
www.ceperf.com.br
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