CLUBES MINEIROS NA BERLINDA
O Campeonato estadual chega à sua final sem muitas surpresas, mas com fatores extras que agitam o futebol de Minas Gerais.
A final entre Atlético e América era mais do que esperada dada a instabilidade do Cruzeiro atual que, nem de longe, lembra o time intenso e organizado do ano passado. Chamou muito minha atenção as declarações do Paulo Pezzolano ao pedir demissão dizendo que não estava focado 100% e que essa decisão de sair já estava tomada desde dezembro… Oi?! Como assim?! O que ele estava fazendo lá então?!
No jogo de ontem, uma mera repetição do primeiro jogo: Volume de jogo, mas sem produtividade, enquanto o América, tranquilão, só administrando a vantagem. Rafael Cabral mais uma vez falha bisonhamente em cobrança de falta. Acho que até a barreira foi mau feita… Dando margem às cobranças e críticas (com razão) dos torcedores: não é goleiro para o Cruzeiro, goleiro de braço curto, etc., etc. O grupo não é de todo ruim, mas o modelo de jogo do Pezzolano não foi efetivado.
Na busca por substitutos, há vários nomes no mercado, mas que são caros ou que talvez não teriam interesse em pegar um time com as dificuldades atuais. Dizem estar encaminhada a vinda do português Pepa… confesso que não sei nada a respeito dele. Acho a vinda de estrangeiros muito bem vinda, mas desde que com critérios. Os treinadores portugueses estão na moda, muito pelo sucesso de nomes como Jorge Jesus e Abel Ferreira. A capacitação dos treinadores portugueses dá de dez na dos brasileiros, pois sua escola da Periodização Tática e da Universidade do Porto, Frade, Garganta, etc., os levou a um nível de formação quase equivalente a um mestrado, enquanto aqui a única exigência tem sido o curso de capacitação da CBF Academy… dando diploma pra um monte de ex-atletas semialfabetizados… Ok! Melhor que nada!, mas ainda muito aquém do que deveria ser.
O primeiro critério, para não ocorrer o mesmo quando da vinda do também português Paulo Bento: 1) Treinador tem que chegar agregando! Entendendo que um clube como o Cruzeiro já possui ótimos profissionais em sua retaguarda e que estão ali para ajudar. Não pode chegar todo desconfiado e encostando esses profissionais; 2) Procurar entender o ambiente e a cultura do futebol brasileiro. Nada de inventar treino no domingo pela manhã, no próprio dia do jogo.
Outros nomes bem interessantes seriam os de Roger Guedes e Diego Aguirre, ambos com uma qualidade de treinamentos muito acima da média. Cuca, com sua ampla percepção do ambiente boleiro e capacidade motivacional, também pode ser alguém pra chacoalhar o ambiente, mas não sei se só isso bastaria.
Se o Cruzeiro quisesse arriscar, um nome em quem eu apostaria seria o do Roger Silva, treinador do Athletic, que realizou ótima campanha, com um time modesto mas muito organizadinho dentro de campo: compacto, amplitude na saída de bola e no terço final, marcação firme, intensidade imediata na luta pela recuperação da posse de bola… Na minha opinião, só não foi às finais pela lambança do seu zagueiro e pelo erro absurdo da arbitragem no lance do goleiro Everson.
Mais uma vez comprovando a parcialidade e ruindade de nossa arbitragem! A pergunta é: Se o lance fosse com o goleiro do Athletic, o árbitro Felipe Fernandes de Lima, marcaria o pênalti e expulsaria o goleiro, ou não?! Não precisa responder…
O América chega às finais em pé de igualdade com o Atlético. Está mais constante e organizado. Ótimo ambiente. Deu um calor no Atlético no jogo da fase classificatória. Belo trabalho da diretoria e do Mancini. Alê tá jogando muito! Seu maior temor deve ser a arbitragem sempre tendenciosa ao time de Vespasiano.
No Atlético, ainda há oscilações, mas quando Pedrinho e Hulk se entendem a coisa desequilibra. Hulk, se deixar de querer apitar o jogo e pensar apenas em jogar bola, produz muito mais.
Sim, o momento é delicado e o torcedor cruzeirense tem motivos para ficar preocupado quanto a uma fundamental permanência na Série A, muito embora não seja só o Cruzeiro que não esteja agradando neste ano de 2023. Coritiba, Santos, Botafogo, Bahia, Corinthians… estão todos deixando a desejar.
O time parece apresentar um futebol menos competitivo do que o do ano passado. Entendo que montar um time para Série B é bem mais fácil do que um para a Série A pelos seguintes motivos: Na B, o que mais importa é entrega, é jogador com fome, que rala a bunda no chão. O Cruzeiro do ano passado era assim e tinha um esquema de jogo fundamentado na intensidade: Linhas compactas, busca imediata pela retomada da posse de bola, jogo vertical, etc., aplicados a um grupo que comprou as ideias do treinador.
O time de hoje, teoricamente mais capacitado, tecnicamente falando, tem jogado querendo propor o jogo. Acho que pesa o fato de ser uma camisa de tantas glórias e que inevitavelmente obriga o time a isto, mas é exatamente aí que estamos pecando. Não tem time para tentar propor o jogo, como fez contra o América, embora neste caso não houvesse outra alternativa pois tinha mesmo é que buscar reverter a vantagem do Coelho! Mas no geral, tem que jogar é de modo reativo, com humildade para reconhecer o momento e as limitações. Foi assim que conseguiu jogar de igual pra igual com o Atlético que possui elenco muito mais qualificado.
A torcida precisa entender que: Craque, tá na Europa!; bons jogadores, estão empregados nos grandes clubes brasileiros!; então, o que sobra são promessas e jogadores medianos! E nem há bala na agulha! Se é o que tem, a esperança deve se concentrar em um time com o mesmo padrão de obediência tática do ano passado, entrega física, jogar compacto esperando brechas para contra atacar, erro zero! A folha é a 4ª mais barata da Série A! Até o Cuiabá tem uma folha salarial maior!
O torcedor tem esperanças de que o Ronaldo e o Pedro Lourenço podem ainda bancar umas duas ou três contratações mais qualificadas até o início do Brasileiro.
Conversei com muita gente e hoje faço as seguintes considerações sobre o momento do Cruzeiro e que o Ronaldo e sua equipe precisam considerar:
1) O Cruzeiro é gigante! Não é um Valladolid!
2) Roger Flores e Kleber Gladiador já passaram a visão: Cruzeiro, com 11 milhões de torcedores e histórico de tantas glórias, não pode ser tratado como um mero clube de investidor pra ganhar dinheiro.
3) Torcida do Cruzeiro é chata, mal acostumada, exigente ao extremo e, muito violenta quando quer. Ronaldo e sua equipe vão ter que ter costas muito largas para aguentar a pressão que vem por aí se o time for rebaixado novamente.
4) Ronaldo e equipe também não estão fazendo por onde. Chegam no estádio e nem acenam para o torcedor. É preciso mais interação! É preciso trazer o torcedor pro seu lado. Ser simpático, atencioso, humilde, pois a torcida já deu mostras de que veste a camisa e lota estádio quando sente que o time precisa.
5) No jogo de Sete Lagoas, a diretoria do América achou estranho o Ronaldo passar perto deles e nem ir lá cumprimentar. Importante manter uma política de boa vizinhança, ainda mais agora com o acordo que fizeram para jogar no Independência.
6) O fator Mineirão pode sim, pesar na campanha do time. Mineirão é a casa e a cara do Cruzeiro e de seu torcedor. Que se empenhem ao máximo na busca por um consenso. Só lembrando que em 2011, tanto o Cruzeiro quanto o Atlético quase foram rebaixados TAMBÉM por terem que mandar seus jogos na Arena do Jacaré.
7) Entendo o momento de recuperação, saneamento, austeridade… mas não se pode correr o risco de um novo rebaixamento logo agora. Sei que sem dinheiro, sem investidor não se monta time, mas acho que dá pra abrir pelo menos um pouco o cofre, pegar emprestado (sem exageros) para trazer uns 2 ou 3 jogadores de melhor nível do que os que estão aí.
Acredito que o Cruzeiro pode ainda se acertar e que os três clubes mineiros tem tudo para fazer bom papel no Brasileiro, mas nada de se iludir fazendo o torcedor pensar em títulos, porém um novo rebaixamento não pode e não deve ser nem cogitado! Usando a lógica: Atlético, se não tiver problemas como atraso de salários, deve disputar nas cabeças. América tem que pensar em meio de tabela e alguma vaga sulamericana… idem para o Cruzeiro, desde que se acerte taticamente.
Francisco Ferreira
Gestor Esportivo / Executivo de Futebol
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