IMAGEM: @portaldatorcida
Analisando o cenário atual do futebol brasileiro, percebe-se que há um vento de mudanças soprando, na verdade uma brisa, para ser mais preciso, pois mudanças no nosso futebol geralmente são lentas, dado o ainda enorme poder da esfera política que o comanda.
Sob minha ótica, um “Raio-X do nosso futebol parece revelar o seguinte quadro:
- Flamengo: Atingiu um patamar de arrecadação de nível de futebol europeu. Não precisa de SAF. Com a iminente construção de seu estádio no Gasômetro, e a estimativa de dobrar seu faturamento em até 5 anos, se consolida como a força mais proeminente no cenário;
- Palmeiras: Talvez a melhor gestão de futebol dentre os grandes clubes nos últimos anos, mas precisa formar/revelar e vender bons jogadores para poder bancar a sua estrutura sem que caia em um endividamento perigoso;
- Cruzeiro: A SAF de Ronaldo arrumou a casa, organizou o futebol e o clube como um todo. Numa segunda etapa da reconstrução do clube, Pedro Lourenço traz a paixão de um torcedor fanático aliada aos recursos de um empresário mega bem-sucedido. Vai fazer sucesso;
- Botafogo: Textor banca tudo e o time já virou protagonista desde o Brasileiro do ano passado;
- Atlético: O dinheiro do Menin vem bancando e saneando aos poucos, mas ainda tem seus altos e baixos no futebol;
- Vasco: É uma verdadeira incógnita o seu imbróglio com a 777 Partners… aguardar para ver no que vai dar;
- Athletico: É o clube modelo! Montou estrutura invejável em todas as áreas. Tem mentalidade e projeto sólido. Sabe seu tamanho, onde quer chegar e como. Talvez uma de suas únicas vulnerabilidades seja o fato de ter uma torcida não tão grande assim e concentrada no Paraná;
- Bahia: Dinheiro e gestão organizacional do City já mostram resultados, com um time competitivo no presente Campeonato Brasileiro, depois de passar sufocos no ano passado, algo mais do que normal quando se começa um projeto;
- Fortaleza: Trata-se de um CAP em menor escala, com um longo caminho ainda a percorrer, mas seguindo rumos certos;
- Fluminense, Internacional, Grêmio, Santos, São Paulo… com dívidas consideráveis e não tendo muito de onde buscar mais recursos, talvez precisem se transformar em SAFs com certa urgência. Tentam se equilibrar na base de uma ou outra venda de jogadores para a Europa… ou conquistas de expressão (só que elas custam caro) para cobrir o orçamento anual;
- Vitória, Juventude, Criciúma e Atlético-GO, são aqueles clubes de médio porte que geralmente conseguem fazer uma boa gestão no ano em que conseguem o acesso, mas é uma batalha inglória: o “subir para cair”, pois a diferença de orçamento para os grandes clubes é abissal. Some-se a estes outros como Coritiba, Sport, América, Goiás, Chape…
- Bragantino é uma exceção no cenário, bancado pelos milhões de uma multinacional poderosíssima, não se abala, pois também sabe o que quer;
- Corinthians: Tinha tudo pra ser um case de sucesso como o Flamengo, mas está devendo até as calças! Eu, como gestor de futebol, sinceramente, espero que o Corinthians se erga, mas dadas as condições atuais e o seu ambiente político historicamente conturbado, acho pouco provável no curto e médio prazo. Há uma dívida de curto prazo imensa; pouca transparência quanto à sua situação financeira e uma já histórica ingerência de sua exigente torcida nas entranhas do clube, coisa que não é nada fácil de modificar.
Entendo uma boa gestão do futebol como sendo uma soma de esforços em prol da instituição, lembrando que isso não significa necessariamente resultado esportivo imediato.
Arrisco uma “Recita de bolo”:
1) TRANSPARÊNCIA: fazer como a gestão de Bellintani no Bahia, que saiu de um clube quebrado, com denúncias de corrupção, rebaixado e sem credibilidade alguma, para um renascimento onde a transparência e prestação de contas a todos os stakeholders (torcida, imprensa, elencos, comissões técnicas, patrocinadores, investidores, etc) teve papel fundamental nas reconstrução de uma imagem de:
2) CREDIBILIDADE: Toda a comunidade do futebol percebeu que o clube estava sim, dando os passos certos em direção a uma nova mentalidade em que a responsabilidade para com um patrimônio do povo (o clube), era verdadeira:
3) APAZIGUAMENTO: Talvez o stakeholder mais complicado seja a esfera política do clube. Geralmente, os clubes associativos são movidos por muita paixão e por isso, muitas facções internas. Feliz é o clube que, neste modelo, consegue ter um ambiente de paz e harmonia;
4) CONVENCIMENTO: Através da já citada transparência, usar do poder de convencimento das boas ideias e intenções: PROVAR A CADA DIA que o que está em curso é necessário e que ninguém está ali querendo se aproveitar do clube! Entender que não se deve esperar/cobrar por resultado esportivo no curto prazo! A prioridade será “arrumar a casa”, visando à sustentabilidade no médio e longo prazo!
5) OS 3 PILARES DA GESTÃO DE EXCELÊNCIA: a) GESTÃO de RH: Profissionalização total do clube. Formar equipes de pessoas competentes que irão comandar todos os processos; b) GESTÃO FINANCEIRA: Saber que é necessário cortar na carne. Rigoroso saneamento financeiro com austeridade, cortando gastos, maximizando receitas, equacionamento de dívidas, honrar compromissos se tornado bom pagador e assim atraindo parceiros…; c) GESTÃO TÉCNICA/FUTEBOL: Pessoas competentes formatarão e comandarão um projeto técnico consistente, fundamentado em Ciências do Esporte e sobre o qual deverá haver convicção e firmeza da diretoria para bancá-lo mesmo nas fases difíceis que certamente virão, com os poucos resultados dentro de campo no início do projeto. Atenção especial às ciências do esporte, à base e à análise de mercado. Se inspirar nos exemplos bem-sucedidos!
6) CONVICÇÃO & RELACIONAMENTO: O competente e dinâmico Alexandre Mattos citou essas duas palavras em um programa recentemente e tenho que concordar com ele. Acreditar no que se está propondo é um pré-requisito para um dos segredos do sucesso no futebol: CONTINUIDADE! Assim como o bom relacionamento, uma ampla rede de contatos e informações ajuda em muito em todas as áreas.
Considero que o potencial do Timão é gigantesco! Maior até do que o do próprio Flamengo, mesmo com uma torcida menor, pois domina o maior mercado consumidor do hemisfério sul (São Paulo)! Se o Corinthians conseguisse fazer o mesmo que o Bandeira de Mello fez no Flamengo, aí sim, o futebol brasileiro estaria mesmo com 2 clubes acima dos demais em termos de poderio técnico e financeiro a exemplo do que ocorre na Espanha com Real e Barça.
Há várias possibilidades que, somadas, poderiam fazer o futebol brasileiro se tornar uma espécie de “NBA” do futebol mundial. Acho que nunca vamos conseguir igualar aos europeus em termos de competitividade financeira para contratações, mas dá pra melhorar e muito:
- SAFs: O advento da possibilidade dos clubes se tornarem SAFs já é algo positivo: faz quem quiser/precisar! Por si só, não é uma garantida de sucesso, mas como traz em sua premissa básica que, um dono, aquele que coloca dinheiro, deve exigir resultados, a tendência é a profissionalização, a transparência e responsabilidade para com os recursos aplicados;
- Liga Nacional de Futebol gerida pelos próprios clubes;
- Distribuição mais igualitária dos recursos entre seus associados;
- Redução para 16 clubes com apenas 2 descensos e 2 acessos;
- Fair Play financeiro.
E aí é lei da livre concorrência: quem for competente se estabelece! Sei que essa minha defesa dos 16 clubes é algo meio polêmico, mas foco aqui exatamente no critério do mérito e da competência. Seria uma forma de melhorar o espetáculo e a qualidade do produto a ser vendido, com um nível técnico e de competitividade maior, além de menos jogos, que se traduziriam em um calendário mais humano e que, no final das contas se mostraria benéfico. Lógico que aqueles clubes médios, de menor poderio financeiro e que pertencem, pela sua natureza ao ambiente da Série B, não vão concordar. Sem nenhuma intenção de demérito, mas será que 90% da torcida nacional prefere ver os clássicos entre os 16 maiores clubes, ou jogos como Juventude x Atlético-GO, Vitória x Criciúma, etc.?
Saudações!
Francisco Ferreira
Gestor e Executivo de Futebol – ABEX
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