¿QUE PASA BRASIL?
Muito se discute sobre o momento atual do futebol brasileiro, mas há questões que parecem estar aí a décadas sem que sejam resolvidas. Há um contraste, uma ambiguidade estranha… quer seja em relação aos clubes, ou em relação à seleção.
Vemos hoje um boom econômico, com alguns clubes se organizando e alcançando sustentabilidade, outros nadando no dinheiro das SAFs, e outros até tentando acompanhar a onda para capacitação de seus elencos, mas se endividando ainda mais. Na América do Sul vamos dominando nos últimos anos exatamente por conta dessa superioridade econômica, mas… dos grandes clubes, no presente momento, me parece que apenas Flamengo e Palmeiras poderiam se dar ao luxo de não precisarem de uma SAF para se sustentarem em alto nível de competitividade… embora eu ainda tenha minhas dúvidas sobre como seria a SEP com uma possível saída da Crefisa. Há também exemplos muito legais como o CAP e o Fortaleza, organizados, autossustentáveis, etc., mas que muito dificilmente vão conseguir competir em igualdade com clubes com orçamentos muito maiores.
Estamos pagando salários de nível de Europa e trazendo jogadores de lá, mas algumas questões básicas ainda não foram resolvidas:
- A insistência em não profissionalizar as arbitragens, que são de nível sofrível.
- Calendário insano, com as redes de TV exigindo jogos nas grades praticamente de domingo a domingo. O mínimo que se pede, é que se respeite o prazo de 72 horas (3 dias) entre um jogo e outro.
- Gramados não padronizados e sujeitos ao uso sem critério em eventos extras (shows musicais) que os danificam.
- Pressão dos stakeholders (conselhos deliberativos, torcida, mídia, investidores, empresários…) nos clubes de massa, por resultados imediatos, o que impede, com raras exceções, projetos de longo prazo que permitam a maturação de um modelo/filosofia de jogo, ou de metodologias de treinos.
A somatória disso tudo resulta em: Exagerado número de jogos + Tempo insuficiente para recuperação fisiológica dos atletas entre estes jogos + País de dimensões continentais (viagens longas) + Gramados ruins = Fadiga crônica dos atletas = Performance empobrecida + Lesões crescentes = Um produto/espetáculo de menor apelos e qualidade = Menor potencial de monetização!
Os meses de agosto e setembro, por exemplo, são, historicamente, os meses críticos! Aqueles que em que se observa uma explosão no número de lesões e, concomitantemente, uma queda brusca na performance, com os times “travados” e fazendo jogos rins.
Logicamente que é uma questão delicada e que demandaria uma verdadeira “força-tarefa”, no sentido de convencer dirigentes e investidores para a necessidade de enxergarem o produto “futebol brasileiro” com uma visão de futuro… de preservação mesmo de uma “galinha dos ovos de ouro”. Deixar de olhar apenas o próprio umbigo e o ganho imediato no varejo (número de jogos), para se enxergar com os olhos de um investidor que quer construir um produto de alta qualidade no médio e longo prazo… uma espécie de “NBA do Futebol”, com apelo para ser comercializada por alto valor no mercado mundial. Uma Liga Nacional de futebol forte e organizada também seria de grande ajuda neste sentido.
Quando o assunto chega à seleção brasileira e seus fracassos nas últimas cinco Copas do Mundo, muito se fala em mentalidade, foco, etc. O torcedor comum, o motorista de Uber, o barbeiro, as rodas de conversa de boteco… falam dos jogadores milionários e mimados desde jovens… tem a ver?! Neste contexto, há uma mudança na indústria do futebol: um menino de 17 anos como o Endrick, já está milionário! A pergunta é: em que/quanto, isto o afeta? Creio ser algo a se pensar e estudar, fazer comparações com os argentinos, por exemplo, também com jogadores jovens, já milionários, atuando nos clubes europeus, mas que parecem verdadeiros leões dentro de campo e com uma consciência tática e coletiva muito mais nítida. Vejam o De Paul: cheio de tatuagens e cabelo estiloso, mas que se mata em campo ao vestir La Albiceleste! Por quê? É cultural? O que é que leva a essa diferença de atitude?
Na questão de projeto, após um sopro de esperança com o Fernando Diniz, que realmente propunha uma revolução na nossa maneira de jogar, vem o retrocesso com um treinador que, se não pode ser considerado ruim, é apenas mais do mesmo! Não empolga! Dorival não é “a cara” de um treinador de seleção brasileira! O Brasil deve se classificar, mas não creio que DJ chegue à Copa.
Neste sentido, diante da negativa de Ancelotti, sou favorável a que a milionária CBF ofereça um caminhão de dinheiro para trazer um Pep Guardiola, por exemplo e dando a ele amplos poderes para desenvolver um projeto de médio e longo prazo. É preciso um choque! Chacoalhar o futebol brasileiro!
Resumidamente, quais foram os motivos de fracasso e sucesso do Brasil ao longo das Copas?
1958: Talentos extraordinários e o surgimento do gênio Pelé.
1962: Talentos extraordinários e a performance genial de Garrincha.
1966: Oba-oba, desorganização e uso político da seleção.
1970: Talentos extraordinários, com uma preparação metódica e organização tática, sem medo de improvisar talentos em posições que não eram as suas (Tostão, Rivelino, Piazza…).
1974: Fim de uma geração de ouro que não teve substitutos à altura e a falta de humildade de nosso treinador para prestar atenção na Holanda.
1978: Alguns dos nossos melhores jogadores (Zico e Reinaldo) com problemas de lesões e a postura de querer se igualar na porrada e não de ganhar na bola, no jogo chave contra a Argentina.
1982: Um dia ruim: Salto alto? Talvez… Jogo abaixo da crítica de alguns dos nossos craques naquele dia (Éder, Junior, Cerezo, Leandro…) e uma marcação implacável sobre Zico.
1986: Um dia ruim: Zico bateu um pênalti sem estar em suas melhores condições e ainda sem o devido aquecimento?
1990: Falta de foco, com os jogadores discutindo premiação, ou preocupados em fazer contratos na Europa?
1994: Um time operário e bem organizado jogando em função de um Romário genial e no auge da forma.
1998: Uma fatalidade naquela questão das convulsões do Ronaldo que abalaram o time na final, contra uma França que jogou muito!
2002: Talentos extraordinários em uma feliz união de todos em prol do resultado.
2006: Falta de foco, oba-oba demais e jogadores como Ronaldo e Ronaldinho em má forma.
2010: Um time apenas mediano. Neymar e Ganso fizeram falta.
2014: Neymar-dependência e a falta de uma maior consciência tática.
2018: A Bélgica ousou, inovou e nos surpreendeu.
2022: Falta de foco e de inteligência de jogo contra a Croácia.
2026: ???
Levanto uma outra hipótese: Seria o caso de se considerar que antigamente nossos craques jogavam aqui e, portanto, ao chegarem à Copa do Mundo, estavam ainda no meio de temporada, enquanto os europeus chegavam para a Copa sempre no fim de suas temporadas e, portanto, desgastados? Hoje, como nossos principais jogadores, quase na totalidade, jogam na Europa, acabam por chegar em igualdade de condições, ou seja, fadigados, e assim não conseguem mais fazer a diferença?! Algo para se pensar… exemplo emblemático de uma situação como esta foi Ronaldinho Gaúcho, nossa maior esperança na Copa/2006, mas que chegou morto na Alemanha.
Saudações!
Francisco Ferreira
Gestor de Futebol
ceperf.com.br
Share Now
Related Post
Desenvolvido por . Ceperf 2019. Todos os direitos reservados.
Escreva seu comentário