⚽ RETROSPECTIVA FUTEBOL BRASILEIRO 2024

Imagem Portal da Torcida

 

RETROSPECTIVA FUTEBOL BRASILEIRO 2024

Fim de ano é a época de fazermos balanço do que foi o ano. Altos e baixos, erros e acertos, saldo positivo ou negativo… faz parte da natureza humana tentar controlar as coisas em busca do sucesso.

OBRA PRIMA

No futebol não é diferente. Neste final de ano tive a felicidade de descobrir um perfil genial (József Bozsik), pseudônimo de alguém que entende muito e mais um pouco de futebol. Fiquei particularmente encantado com este texto: “O Mais Belo Futebol da Terra: O que somos, porque nos destruímos?” … na minha modesta opinião o melhor que já li sobre o tema. Texto de gente grande! Acadêmico, embasado e abrangente. Texto longo que começa com uma análise aprofundada do contexto histórico e antropológico que moldou o nosso futebol e encerra questionando sobre a globalização do futebol que fez com que nossas características acabassem sendo violentadas. Maravilhoso! Vale muito a pena a leitura!

https://medium.com/@Jozsef_Bozsik/o-mais-belo-futebol-da-terra-o-que-somos-porque-nos-destru%C3%ADmos-245714a70112

 

GESTÃO DO FUTEBOL, SUCESSO, INSUCESSO…

O vexame do ótimo time do Botafogo no Mundial de Clubes, expõe mais uma vez a maneira como o futebol é conduzido pela CBF. Uma esfera política que nada entende de Ciências do Esporte, de fisiologia e áreas afins, continua detendo o controle de modo quase onipotente. Os jogadores, verdadeiros protagonistas deste business, não passam de meros peões neste tabuleiro… e pasmem: vai piorar! O calendário de 2025 será ainda mais apertado, ainda mais desumano e massacrante. Quem entende um pouco do assunto, consegue perceber que por volta dos meses de agosto/setembro, é o período crítico em que a fadiga acumulada começa a cobrar a fatura, com uma explosão do número de lesões, os times perdem força e velocidade, ficam travados, sendo afetados em todas as dimensões da performance. Resultado: jogos de baixa qualidade, um produto ruim e pouco atraente ao público consumidor. Graças às datas FIFA, os times ainda conseguem um respiro para focarem na recuperação fisiológica dos atletas. Há estudos científicos comprovando que é necessário um intervalo de pelo menos 72 horas entre os jogos para que haja uma recuperação no mínimo aceitável, mas parece que ninguém nas esferas do poder quer saber disso! E tome jogos na TV de domingo a domingo… jogos ruins, banalização do produto, saturação, baixa audiência…

SAFs

O advento das SAFs começa a mostrar duas faces de uma mesma moeda. Por um lado, muito investimento, algo esperado e necessário. Mas um outro lado preocupante: o futebol brasileiro nunca esteve tão inflacionado e caro. Os clubes que não conseguirem se tornar SAFs, com exceção talvez daqueles que já possuem grande capacidade de arrecadação, terão muitas dificuldades no mercado. Resta saber se as SAFs conseguirão fazer os clubes se tornarem superavitários… no ritmo de gastos que estamos vendo, não consigo enxergar como, pelo menos por enquanto. Um business que tem muito ainda a amadurecer e se desenvolver. 

BOTAFOGO

O Fogão foi o clube que mais investiu! John Textor abriu o cofre mesmo!, e montou um elenco que deixou o já ótimo time de 2023 no banco. A contratação mais ousada e acertada foi a do Almada. Um cracaço que ditou o ritmo com muita cadência, inteligência e técnica na dramática final da Libertadores contra o Galo. Um jogador no melhor estilo de técnica, habilidade e liberdade do futebol sul-americano do passado. Uma semana depois conquistou também o Brasileiro, mas pagou o preço no Mundial, ao chegar com o time fisicamente destroçado. É a fisiologia, amigo! Com ela não se brinca! Não há mágica, é ciência! Seu excelente treinador, Arthur Jorge, ficou entre a cruz e a espada: optou então por escalar um time reserva, teoricamente mais inteiro fisicamente, mas não deu… e mesmo se tivesse escalado os titulares, também não conseguiria… detalhe: todos os gols sofridos no 2º tempo! O time sem velocidade de reação… e o Pachuca, que não tem nada com isso, tendo feito seu último jogo há 3 semanas atrás… uma sacanagem! Ouso dizer que, se não adequarmos nosso calendário ao europeu, nunca mais teremos um clube brasileiro conquistando um Mundial, pois além da disparidade de poderio econômico, há ainda essa disparidade na integridade fisiológica: eles em meio de temporada, a gente no bagaço da laranja após uma temporada inteira de altíssima intensidade e excesso de jogos! Pra piorar, embora eu não considere apenas este detalhe, mas sim a soma deles com possíveis causas para o insucesso, a logística da viagem do Fogão para o Qatar foi coisa de amador: avião emprestado pelo dono do Patriots (futebol americano), amigo do Textor, mas sem autonomia para um voo direto, obrigando a uma escala que aumentou ainda mais as horas de viagem; e segundo declarações de um jogador: avião inadequado com assentos apertados e ainda com os cartolas indo nos melhores lugares (executiva)…     

FLAMENGO

O Mengão segue como o clube mais poderoso financeiramente do país e que deve se manter assim por muito tempo. Mostrou que realmente possui o elenco mais qualificado do Brasil (eles podem contratar quem eles quiserem!), mas é um clube muito passional. Concordo com Pep Guardiola que, manter jogadores medalhões por longos períodos não se mostra algo salutar no futebol de hoje… querendo ou não, os jogadores se acomodam com o tempo e as conquistas passadas servem como uma muleta. Tem também uma cultura interna muito difícil de mudar, onde os jogadores, historicamente detém muito poder. Mengão é isso: contrata as grandes estrelas e vai sempre caminhar no topo, sempre conquistando algum título importante.

ATLÉTICO

O Galo tem hoje um elenco desequilibrado e com muitos jogadores de nome mas que não estão mais no auge de suas carreiras. Comete o mesmo erro do Flamengo ao não renovar, não colocar mais sangue novo no elenco. O jovem Alisson deveria ter tido mais chances para poder evoluir em confiança e se firmar de vez, pois tem grande potencial: veloz, habilidoso, inteligente… Chegar às finais de Copa do Brasil e Libertadores foi até muito. Milito se mostrou oscilante ao longo ao ano, assim como todo o time. Disputar 3 competições pauleiras simultaneamente cobrou seu preço em termos de fadiga. E quando pegou elencos melhores como Flamengo e Botafogo, foi presa fácil. Na Libertadores foi surpreendente: ao ficar com um homem a mais desde o 1º minuto da decisão, eu cravei: O Galo vai ser campeão! Não contava com a coragem do Artur Jorge de manter o time, nem com a falta de ousadia de Milito, ao não mexer, tirar um dos 3 zagueiros e colocar um armador pelo meio. O jogo do Galo tá manjado (Ctrl-C – Ctrl-V): amplitude, virada de jogo, encontrar caminhos pelas beiradas para cruzamento, Hulk na beirada, quando na verdade, um jogador com o físico que tem deveria estar é centralizado para disputar com os zagueiros no corpo e, mais provável, conseguir fazer o pivô dentro da área. Absolutamente ninguém esperava um Botafogo com 10, conseguir fazer 2×0 no 1º tempo! No 2º, na base do abafa, conseguiu seu gol. Mariano o tempo todo livre fazia os lançamentos, mas o Fogão se postou muito bem e ainda carimbou com o 3º no final. Uma aula de futebol!  

PALMEIRAS

O Verdão segue com a melhor gestão do futebol do país. Abel está sempre nas cabeças, tem o grupo nas mãos e um elenco que, se não é o melhor, está entre os melhores. A derrota para o Fogão em casa foi decisiva para impedir a conquista de mais um Brasileiro.

SÃO PAULO

O Tricolor paulista segue buscando retornar ao seu papel de protagonista de anos anteriores. Aos poucos vai se arrumando e recuperando um ambiente interno que havia se revelado muito hostil em anos recentes. Tem camisa, estrutura e segue num bloco intermediário por enquanto.

CORINTHIANS

O Timão mudou da água para o vinho com a chegada de Ramón Diaz. A ousadia na contratação de um craque como Menphis Depay e o desabrochar definitivo de Yuri Alberto são consequências de um encaixe que se deu ao longo da competição. Se tivesse conseguido isso com umas 5 ou 6 rodadas de antecedência, estaria brigando nas cabeças.

CRUZEIRO

O Cabuloso oscilou demais ao longo do ano. Quase conquistou o Mineiro, mas botou tudo a perder numa das intervenções mais infelizes que já se viu de um treinador (Nicolás Larcamón) no futebol: tinha a vantagem de jogar pelo empate, em casa, com torcida única, sai na frente no 2º tempo, mas tira um jogador de meio para colocar mais um zagueiro (quando deveria era ter congestionado o meio com pelo menos mais 2 jogadores). Resultado: atraiu o Atlético todo para cima e tomou a virada! Um título que para o Cruzeiro significava muito no seu projeto de reconstrução. Seabra veio e deu uma certa consistência ao time no Brasileiro, mas isso só durou até os outros grandes se acertarem durante o torneio. A vitória expressiva contra o Fogão no Engenhão foi ilusória: Cássio salvou a pátria! Depois, com a chegada de Diniz, a ida à final da Sulamericana foi lucro, mas o 1º tempo da decisão contra o Racing foi assustador. O Elenco é fraco, não haviam peças de substituição à altura e alguns dos reforços não corresponderam, como o Wallace, por exemplo. Acho que a manutenção de Diniz é acertada, pois ele terá tempo para indicar os jogadores que precisa, tempo para consolidar seu modelo de jogo, etc. Pedrinho deve abrir o cofre — com certeza abriria mais se tivesse conseguido a vaga na Libertadores — acredito que fará bom papel ano que vem, de acordo com os nomes que tem sido anunciados e ventilados na mídia.  

INTERNACIONAL

O Colorado conseguiu um “click” com a chegada do Roger Machado. Cresceu muito da metade do ano em diante e se conseguir manter isso pode fazer um bom ano, mas esbarra em dificuldades financeiras há um bom tempo. Precisa de uma SAF!

GRÊMIO

O Tricolor Gaúcho, acostumado a um comando muito personalista na figura do Renato, vai mudar e ver o que consegue. Depois da brilhante conquista da Libertadores em 2017, caiu muito, inclusive para disputar a Série B em 2022. Fica ali em posição intermediária no cenário nacional e também parece depender de uma SAF para voltar ao seu lugar.

BAHIA

O Bahêa Vai galgando os degraus para se consolidar no topo. O Grupo City investiu em estrutura e recursos humanos. Na hora em que resolverem abrir de vez os cofres despejando o dinheiro quase ilimitado dos petrodólares árabes, ninguém segura mais!

SANTOS

Quanto ao Peixe, faço meaculpa, pois ao ver o perfil de jogadores que estavam contratando para a Série B — muitos veteranos e já realizados financeiramente — julguei que não daria certo, pois Série B é, no meu entender, para jogadores “com fome”, ainda em busca de realização profissional e financeira. Teve oscilações ao longo do ano, mas no final conseguiu o acesso.

FLUMINENSE

O Tricolor se salvou no final mas quase pagou um amargo preço pelo início muito ruim de um elenco que sofreu com contusões e idade avançada. O “Manobol”, que não agrada a muitos, foi eficiente para garantir essa permanência na elite.

VASCO

A exemplo do Timão, o Vascão começou muito mal o Brasileiro. Muitas trocas de comando. Há um imbróglio judicial ainda sem se imaginar qual será o desfecho com a 777-Partners… O Vasco tem em seu presidente, Pedrinho, uma pessoa que entende muito de futebol e acaba de assinar com Renato Gaúcho. A ver o que poderá apresentar em 2025.

FORTALEZA

O Laion segue com uma gestão muito correta e se consolida como uma espécie de Furacão do Nordeste. Já subiu de patamar e deve permanecer fazendo bom papel no cenário nacional por longo tempo. Parece ter havido um casamento perfeito do clube com o excelente treinador Juan Pablo Vojvoda. já caminhando para sua 5ª temporada.

REDBULL-BRAGANTINO

O Força Bruta é o clube-empresa por excelência, Inaugurou um CT cinematográfico e conseguiu cumprir a meta de se manter na elite, mas apenas na última rodada. Mesmo com ótima gestão, se quiser evitar esse sufoco no futuro, terá que investir de maneira mais forte na contratação de jogadores e não apenas nas jovens promessas. 

ATHLETICO

O Furacão, clube modelo e meu sonho de consumo, oscilou pelas constante trocas de comando ao longo do ano. Acidente de percurso de um clube que tem projeto, sabe seu tamanho e onde quer chegar. Vai voltar, com certeza! Chamou a atenção uma estratégia de marketing que, ao meu ver, foi no mínimo temerária: o tal “Pacto”! Acho que faltou prudência e um entendimento maior sobre a cultura do futebol brasileiro: em todos os clubes, há um grande número de atletas evangélicos. Fato! E a fé, para os evangélicos — para muitos católicos também — é algo de foro íntimo e muito sério, muito precioso! Uma campanha como aquela, que propunha, sem meias palavras, mas mesmo que figuradamente, um “pacto com o demônio”, para transformar a Arena num inferno, foi um tiro no pé! Os jogadores e até mesmo muitos torcedores, com certeza não se sentiram confortáveis com isso — impossível mensurar até que ponto isso afetou, nem ouso dizer que foi este O FATOR, pois sempre entendi o futebol como de natureza multifatorial… mas que pode ter tido influência forte, não tenho a menor dúvida! Jogador precisa é de ambiente seguro, de poder exercer sua fé para se soltar, ter paz e ganhar confiança… Além disso, são muito sugestionáveis, pois estão sob pressão competitiva diariamente. Algo a se pensar e ser revisto para não acontecer de novo. Imagina o jogador crente fervoroso, vendo seu clube “fazer um pacto com o demônio”… a cabeça pira! Algo me diz que foi uma campanha entregue inadvertidamente a alguma agência cheia desses jovens inteligentinhos da geração woke que não sabem nada de cultura do futebol.

OUTROS

Parabéns a VITÓRIA e JUVENTUDE, pertencentes àquele grupo mediano dos que geralmente, sobem pra cair!, por terem conseguido a permanência na elite. CRICIÚMA, ATLÉTICO-GO e CUIABÁ, fizeram o que lhes era possível dada a desigualdade de orçamentos, mesmo assim, são gestões corretas de clubes que podem perfeitamente retornar no ano que vem. Este grupo dos médios envolve GOIÁS, CORITIBA, SPORT, CHAPE, AMÉRICA, CEARÁ, PONTE PRETA…

 

Boas Festas! 

 

Francisco Ferreira

Gestor de Futebol

ceperf.com.br

 

 

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