CULTURAS DO FUTEBOL
O futebol apresenta culturas similares e também diversas em diferentes partes do mundo. É influenciado pelos valores sociais, culturais, econômicos, étnicos, geográficos e históricos de cada civilização.
Percebe-se claramente um estilo mais solto, mais livre, lúdico do futebol em países como o Brasil e alguns países africanos. A cultura do futebol brasileiro, como reflexo de sua sociedade, projeta seu jogo como expressão de sua musicalidade, miscigenação e espírito improvisador… Um otimismo exagerado por crermos que damos jeito pra tudo! Tudo se resolve! O jeitinho brasileiro possui seu lado positivo que nos estimula à criatividade, mas possui também um lado negativo que nos torna excessivamente indolentes, indisciplinados, irresponsáveis e até mesmo desonestos… Características que nos levam muitas vezes a cometer erros grosseiros!
Estribados em nossa tradição de, historicamente, formarmos vários jogadores fora de série, muitas vezes em uma mesma geração, nos acostumamos a um jogo menos coletivo e mais individual, onde estes craques resolviam a parada em lances mágicos em que sobressaia a sua genialidade. Percebemos assim, que os jogadores brasileiros possuem pouca movimentação coletiva em comparação com os europeus. Ficamos facilmente marcados exatamente por conta desta pouca mobilidade (cultural de nosso futebol), já que sempre esperamos que o atleta detentor da posse da bola resolva a situação individualmente. Esperamos que este encontre uma solução para fazer a bola chegar ao ataque e criar situações de gol, pois somos também culturalmente vocacionados para a ofensividade, para a busca pelo ataque, pelo gol. Isto é evidente até mesmo em equipes pequenas que, não raras vezes, jogam abertas contra times grandes. Como não temos mais os fora de série (exceto Neymar), que poderiam resolver na jogada individual (drible ou passe/assistência inusitado), corriqueiramente vemos nossos jogadores darem passes em profundidade (olha a ofensividade aí!), mas na fogueira, pois estamos estáticos e marcados esperando este passe. Uma situação contraditória e pouco inteligente, pois o risco de perda da posse de bola é alto.
O mundo mudou e a competitividade levou a uma obrigatória evolução do conhecimento ou vice-versa… A cultura europeia, muito mais disciplinada, de valorização do estudo, do planejamento, evoluiu dentro da área do futebol para o jogo coletivo estudando a sua complexidade. O jogo europeu com características culturais herdadas das marchas de guerra onde se prioriza a força, a velocidade e contundência do ataque, a organização e a estratégia, evoluiu também para uma exigência de apurada técnica, de precisão, daí ser muito menos comum a ocorrência de erros grosseiros, erros de indolência, de desobediência! Há neste contexto cultural, também uma questão de elevada exigência de responsabilidade e profissionalismo, bem o oposto de nosso histórico paternalismo.
Com uma discrepância também no aspecto da gestão de seu futebol, os europeus, consequentemente, dominam também pelo poderio econômico que lhes permite levar os mais talentosos atletas de outros centros para comporem os seus elencos. Lá, estes atletas talentosos, forjados na escola natural do talento, como Neymar, por exemplo, se transformam também em jogadores táticos, obedientes e coletivos. Em que pese toda essa evolução, algumas características próprias de cada país permanecem: O riquíssimo futebol inglês, por exemplo, continua tendo um componente físico com peso considerável, mesmo com tantos talentos vindos de outros países. Alguns dizem que se trata de um jogo de “rugby com os pés”, tamanha a demanda de velocidade e força.
Analisando jogos do futebol brasileiro e da seleção brasileira, percebemos que a qualidade dos nossos times é baixa, principalmente nos aspectos táctico (organização, obediência e tomada de decisão) e técnico se comparada com os já citados europeus que buscam aqui nossos maiores talentos. Aliado a isto temos uma formação de base ainda deficiente, embora já se vislumbre uma geração de treinadores jovens mais estudiosos e antenados com o que há de mais avançado. Vai levar ainda algum tempo para que novas gerações de atletas rápidos, técnicos e inteligentes, que possuam uma profunda compreensão tática e da complexidade do jogo que seja formada desde cedo, se revele em números expressivos, pois esta visão do modelo de jogo e do método sistêmico ainda é recente por aqui. Outro fator negativo que pode retardar um pouco este processo é a mentalidade ainda arcaica e imediatista de nossos dirigentes/clubes que não conseguem visualizar o trabalho de longo prazo e assim, não investem de modo efetivo nas categorias de base. O que lhes importa mesmo é apenas o resultado imediato do seu time profissional.
Na seleção brasileira, o que acontece é que, seus bons jogadores, mais um fora de série, que jogam na Europa e, portanto, familiarizados com o modelo de jogo dos clubes de lá (posse de bola, pressão alta, pressão intensa na bola, linhas próximas, amplitude, etc.), são obrigados a jogar dentro de um padrão estabelecido por um treinador que, se não é dos piores, está longe de ser o mais atualizado e, portanto, o mais indicado para o cargo. Vê-se claramente que a seleção está limitada/aprisionada dentro da cultura individual do futebol brasileiro: Estáticos, em linhas distantes, dependentes da técnica e habilidade individual. Vejam este vídeo do jogo Paraguay 2 x 2 Brasil pelas eliminatórias para a Copa/2018: https://www.youtube.com/watch?v=DtfCAuNtw4c
Bons jogadores, nós temos aos montes, tanto que todos os grandes clubes europeus os possuem. Craque mesmo, só Neymar! Falta-nos, portanto, dada essa escassez de atletas fora de série, exatamente um padrão e modelo de jogo coletivo moderno como forma de compensação… Só que não vamos conseguir isto com Dunga, cuja escolha teve peso político e foi equivocadamente centrada mais em comando e disciplina do que na sua capacitação técnica (seria isto ainda um resquício de trauma da Copa 2006, quando uma geração de fora de série fracassou por falta de foco e profissionalismo?)… O certo é que o cargo deveria ser de Tite, sem sombra de dúvidas, mas aí entra a questão política, infelizmente, para confirmar que enquanto a esfera política, não só no futebol, mas no país como um todo, permanecer onipotente em relação às demais (administrativa e técnica), por exemplo, as coisas não mudarão na velocidade e profundidade que se espera.
Na minha experiência como profissional do futebol, notei na Copa/2014 que houve uma evolução brutal no aspecto tático de escolas de menor tradição no futebol: Chile, Costa Rica, Iran, Argélia… Mas não sabemos se é algo que veio para ficar, com investimentos efetivos na sua base, ou se foi apenas fruto de trabalhos esporádicos para uma Copa do Mundo.
Noto a evolução do futebol japonês graças aos investimentos iniciados na década de 90 com a criação da J-League e a contratação de muitos profissionais sul-americanos e europeus de alto nível, mas sua escola é ainda muito hermética: Muita disciplina e organização, mas pouca criatividade, o que a torna previsível e monótona. Coréia do Sul apresenta quadro semelhante.
A China e a Índia em menor escala, podem até ir pelo mesmo caminho de desenvolvimento com os investimentos que tem sido feitos atualmente.
No Oriente Médio, segue a rotina de Arábia Saudita, pela sua cultura fechada que tem no futebol uma das poucas fontes de entretenimento, com uma maior disciplina e profissionalismo. No Egito, a boa compleição física de seus atletas os torna ainda competitivos no âmbito regional. Em países mais liberais e com bom poderio econômico como Emirados e o Qatar, há um futebol mais lúdico no primeiro caso e uma onda de pesados investimentos no segundo caso, com o advento da Copa/2022. Países estes, onde até poucos anos atrás, o futebol era semiprofissional, apresentam hoje alguma evolução, mas ainda barrada pelas questões culturais muito fortes. Não basta apenas ter dinheiro e contratar bons profissionais de outros centros! É preciso criar uma cultura de profissionalismo e de continuidade nos trabalhos iniciados! Mudar conceitos e cultura demanda tempo e esforço.
Nos países africanos impera ainda uma certa desorganização e, em muitos casos, a falta absoluta de recursos para aplicação nas estruturas do futebol.
Na América Central e países menores da América do Sul, o futebol se equipara ao tamanho das economias e tradições futebolísticas destas nações.
América do Norte, incluindo México, se consolida como centro importante do futebol mundial. A MLS se apresenta como futuro “Eldorado” do futebol! Falta-lhes ainda, no entanto, a tradição de conquistas internacionais.
Oceania segue como importante centro de desenvolvimento das ciências do esporte, mas também sem uma tradição futebolística de peso.
Seria muito interessante que tivéssemos gratas surpresas em competições de peso como Libertadores, Champions League, Mundial Interclubes ou Copa do Mundo, mas não creio que isso possa acontecer tão cedo! É salutar ver um Leicester fazendo sucesso na Premier League!
Penso que para Rússia/2018, os cachorros grandes continuarão a mandar:
Alemanha, Argentina, Holanda, Espanha, Itália, França… Com chances mais concretas de serem campeãs!
Brasil, Inglaterra, Uruguai, Bélgica, Portugal, Rússia… Chegando ali no bolo! O Brasil pode até vir a ser campeão, pelos bons jogadores e tradição que possui, mas só creio que isto possa vir a acontecer se apostar com antecedência em um treinador como Tite para implantar um modelo de jogo próprio.
Chile, México, Colômbia, USA, Japão, Coréia… Seriam talvez as candidatas a surpreender!
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