⚽ CATEGORIAS DE BASE: DÁ PRA FAZER MELHOR?

 

CATEGORIAS DE BASE E UMA GESTÃO MAIS HUMANIZADA 

A gestão profissional e de categorias de base são dois dos assuntos que mais estudei nos últimos anos e defendendo uma gestão mais humanizada do futebol, acabo percebendo a verdadeira máquina de triturar pessoas que é este processo desde o seu funil de captação. Dentro deste contexto, proponho algumas ideias que podem vir a ser úteis na assertividade e na diminuição da margem de erros ao longo do processo de formação. Entendo que, se o garoto não chegar a se tornar realidade como atleta, mas pelo menos sair melhor como homem-cidadão ao final de seu ciclo/processo, já terá valido muito a pena.

Atleta não é máquina, mas a realidade é que a pressão competitiva e social sobre ele pode ser desumana. Muitas vezes, um garoto talentoso se torna a única esperança de uma vida melhor para si e seus familiares. Grande parte deles, vindo de famílias desestruturadas, com pais ausentes, sofrendo as mazelas típicas das comunidades carentes como a falta de infraestrutura, de saneamento básico, de um pelo menos razoável IDH… e ainda a grande probabilidade de conviver com a violência e o tráfico de drogas.

Como preparar um menino com essas origens para conviver com fama e sucesso? Como preparar um jovem para entrar em um estádio lotado toda 4ª e domingo com exigências extremas de performance e de erro zero? Como conscientizá-lo da importância de ter senso de profissionalismo num ambiente/estrutura que não lhe permite uma recuperação fisiológica adequada? Como ajudá-lo a sublimar, a resistir às tentações e seduções dos prazeres fáceis que a fama pode proporcionar, mas que podem prejudicar sua carreira?

Sempre acreditei muito no poder de convencimento das boas ideias e das boas ações. O clube que investir numa formação global, não só do atleta, mas também da sua família, tem grandes chances de conquistar mentes e corações para os seus projetos enquanto instituição. Acredito na honestidade, no falar a verdade sempre, em proteger e blindar seu atleta! Em fazê-lo se sentir pertencente à “família do clube” e, assim, sem trocadilhos, fazê-lo “vestir a camisa”!

EDUCAÇÃO FORMAL

Me lembro que o Cruzeiro, quando lá trabalhei, foi pioneiro ao instituir uma escola formal dentro da Toca da Raposa, no início dos anos 2000. Coincidentemente, foi um dos períodos mais frutíferos em termos de revelações de jogadores na história do clube… mera coincidência, ou efeito disto? Tradicionalmente, diz-se que o Brasil ainda possui a “Escola da Bola”, enquanto o Europeu possui a “Escola do Jogo”, o que pode ser fruto não só de uma cultura própria, mas também de uma melhor escolaridade já consolidada há muito tempo nos países europeus. Nossos jogadores precisam de uma formação que lhes proporcione uma maior compreensão tática e do jogo. A eliminação bisonha e por pura falta de inteligência tática na última Copa do Mundo contra a Croácia, demonstra essa carência. Há ainda a falta de um certo preparo ou fome de conhecimento para assimilar cultura, para se adaptar de verdade em um clube estrangeiro. Nossos boleiros, acostumados à cultura do pagode, são paparicados, tratados com um paternalismo muito nocivo que os mima e os leva a pensarem que estão acima das leis. Na Europa, vale é “o preto no branco”! É o que está escrito no contrato e se não concordar… vaza!!! Voltando à educação formal, sabe-se que a maioria cumpre o ir à escola apenas porque é obrigatório, o fazem de modo desinteressado, a qualidade do ensino não é boa, e ainda há a pressão da própria família, quando o garoto já é arrimo, sustenta e/ou financia a casa: “se empenhe em jogar e o estudo pode ficar em segundo plano!”    

FRACASSO

Uma das coisas que mais me dói no futebol é ver a dispensa de um garoto, assim como o seu fracasso por falta de estrutura e/ou orientação adequada. Alguns verdadeiros diamantes brutos sempre se  perdem pelo caminho! Presenciei muitos se casando mal e precocemente por conta de uma gravidez indesejada, ou pior: ardilosamente “planejada” pela outra parte. Certa feita, um jovem e talentoso atacante, recém promovido, me confidenciou que estava em uma festa num sítio. Depois do churrasco e de ter tomado umas, se deitou para um cochilo num dos quartos e, do nada, apareceu uma moça, já pelada… fizeram sexo… usaram camisinha… mas… por um mero acaso, ele a pegou em flagrante tentando fazer uma “inseminação” com o preservativo usado!!! Ele encheu a “mocinha” de porrada! Este é um pequeno exemplo do mundo cão que muitas vezes o torcedor e a mídia não veem. Cruel, solitário, árido… desolador!

Tem sido recorrentes, casos recentes de jovens jogadores agredindo namoradas. Algo que deve ser combatido com rigor, lógico! Nenhuma dúvida quanto a isso… mas… e quando a namorada mente?! Como é que fica?

Não se trata de ser bobinho, bonzinho demais, ou ingênuo! Sabemos que é competição, sim! É seleção natural, sim! Os mais talentosos serão obviamente os sobreviventes no processo. Mas acho que pelo menos poderíamos tentar tornar o processo mais justo, mais humanizado… menos cruel, proporcionando àqueles que ficarem pelo caminho uma formação/capacitação que lhe permita seguir uma vida/carreira digna em outra área! Caráter, cidadania, sabedoria, discernimento, prudência… dá pra incutir/moldar muita coisa!  

CERTIFICAÇÃO

No sentido de diminuir margem de erros e injustiças, desenvolvi uma ferramenta de certificação de atletas (CERTIFUT) que, embora não seja ciência exata, tem o potencial de nos ajudar a sermos mais assertivos no processo de formação. O craque, todo mundo reconhece sem maiores esforços. Mas no bolo, na média do grupo, há uma homogeneidade que pode mascarar aqueles com potencial e nos quais seria mais indicado investir nos aspectos da performance. A ferramenta preconiza uma série de testes e avaliações periódicas (semestrais, ou até trimestrais) para detectar forças e vulnerabilidades em aspectos como o técnico, tático, físico, psicológico-comportamental, inteligência, tomada de decisão, maturação (pico de velocidade do crescimento), análise subjetiva da parte da comissão técnico, etc. atribuindo-se notas para formar o score de cada atleta e acompanhar sua evolução de modo a verificar a necessidade ou não de redirecionamento de treinamentos específicos. Dá pra criar um histórico do atleta que nos dê mais segurança quanto à investimento, e até mesmo quanto a uma possível dispensa, sempre tendo esses dados como embasamento para argumentação junto ao próprio atleta, pais, agentes, diretoria, etc.

INCUBADORA

Defendo também uma maior atenção na questão das avaliações dos atletas enquanto em período de observação. O “Case Cafú” é emblemático, após passar e ser dispensado em nada mais do que 13 peneiras. Chamo esse período de “Incubadora de Atletas”. Analisar mais detalhadamente os aspectos maturacionais para que um menino que esteja com a idade biológica atrasada em relação à sua idade cronológica não seja precocemente dispensado e depois venha a estourar em outro clube. Vejo isso acontecer em uma cidade com dois grandes clubes e um outro clube de médio porte. A esmagadora maioria dos garotos vai tentar a sorte em ou outro desses grandes clubes. Ao não passarem na peneira, acabam indo tentar a sorte no clube médio. Neste, como a pressão é menor e o carinho com a base tende a ser um pouco maior pois, por ter menor poder financeiro para contratar jogadores, este clube recorre muito mais à base, já que é bem mais barato… e ali o menino pode acabar estourando e virando realidade.

MATURAÇÃO

Já publiquei texto sobre um discurso meio hipócrita muito comum no meio: “Aqui a prioridade é a formação e não o resultado dentro de campo”! Alguns clubes repetem isso à exaustão, mas a realidade é que se o treinador perder de goleada para o seu maior rival, seu trabalho é colocado em cheque e assim, muitas vezes, ele, inseguro, vai usar o jogador já maturado (pior ainda se for “gato”), como forma de buscar resultado e assegurar seu cargo. É um tema delicado e que deve ser muito discutido, pois o resultado esportivo, desde que não seja por conta exclusiva do jogador grande e forte, também tem a sua relevância até mesmo na questão anímica, de motivação e construção/manutenção de uma cultura vitoriosa no DNA do clube. Deve haver um equilíbrio.

ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE

Na questão da dosagem de cargas e os prejuízos causados por seu excesso, ou pela especialização precoce, defendo o que o Raymond Verheijen mostrou em estudo (https://ceperf.com.br/2016/07/21/como-treinar-futebol/) sobre as diferenças maturacionais entre meninos de uma mesma categoria, que pode chegar a 3 anos numa categoria Sub 20, por exemplo, ao se comparar um menino nascido em janeiro de um ano e outro nascido em dezembro dois anos depois. Ou seja, legalmente, estão dentro da mesma categoria, mas com uma enorme vantagem para o mais velho. Basicamente, o estudo mostrou que os meninos mais novos tinham prejudicado o seu estirão de crescimento por estarem sujeitos a uma carga relativa de intensidade muito maior ao disputarem com os mais velhos. A energia necessária para o seu estirão estava sendo gasta nestas disputas. E quando entravam de férias, sem tanta demanda energética, voltavam a apresentar taxas de crescimento normais.

FORMAÇÃO GLOBAL

Defendo o papel do psicólogo do esporte, do assistente social, do nutricionista, do médico endocrinologista, do gestor financeiro, do gestor de carreiras, assim como do pai, mãe e irmãos mais inseridos no processo de formação. Enfim, uma equipe multidisciplinar apta a atuar em todas as frentes possíveis. É fato que muitos meninos recebem um tratamento médico, odontológico, nutricional, etc., muito melhor nos clubes mais bem estruturados do que em suas próprias casas, onde pode haver carência de tudo em termos materiais, de alimentação, conforto, ambiente, etc., mas… e quanto ao emocional/afetivo de um garoto que vai para longe da família por meses a fio? E quando, pelo contrário, a família é o pior dos mundos? Qual é o tamanho desse prejuízo na sua formação? Como mensurar isso? Tempos atrás houve grande embate sobre o tema entre os clubes formadores e ministério público, conselhos tutelares, etc. Há bons argumentos de ambos os lados e não há, portanto, soluções fáceis. Uma saída razoável foi a determinação de que, nas categorias mais jovens, os clubes só teriam atletas (até 15 anos, se não me engano), que morassem com suas próprias famílias na cidade sede do clube.

Defendo também o papel do coach neste processo. Embora tenha se banalizado e perdido muito de sua credibilidade por conta de modismo (algum tempo atrás parecia que todo mundo tinha virado coach!), é certo que há profissionais sérios e de qualidade que podem contribuir naquilo que julgo serem as melhores qualidades ou benefícios do trabalho de coach: o desenvolvimento da autoconfiança e da autodisciplina, algo que só traz benefícios ao atleta em formação! Defendo também, com critérios, até mesmo a figura do “religioso”. Há momentos em que o jovem atleta só terá a Deus para recorrer.

O Athletico Paranaense tem desenvolvido ações muito interessantes juntos aos seus jovens, mais especificamente àqueles que moram no seu CT. Entender que são adolescentes vivendo todas as complexidades e inseguranças desta fase da vida, ajuda a criar um ambiente mais acolhedor na ausência da família. O jovem precisa também se divertir, brincar, namorar. Atleta também se apaixona! Tem medos! Fica deprimido! Tem seus dias ruins, de tristeza, mau humor, ou preguiça! Gente como a gente! No CAP, os meninos tem bikes à disposição para se divertirem e/ou se locomoverem dentro do CT. Aprendem também a consertar as bikes e diversas outras tarefas para adquirirem certa autonomia. Entendem que um menino nessa idade vai fazer alguma merda, vai empinar a bike, vai competir com os colegas… Faz parte do processo de amadurecimento e identificação dos meninos. Neste sentido, vale a pena ler a “Regra 11” do ótimo livro “12 Regras para a Vida” do brilhante psicólogo canadense Jordan Peterson: https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/resumo-de-12-regras-para-a-vida

CONFLITO DE GERAÇÕES

Além da educação formal, os clubes poderiam investir em que mais? Ensino profissionalizante, por exemplo? Aulas de culinária? Palestras ou cursos de curta duração como primeiros socorros? Palestras sobre DSTs, ou sobre métodos contraceptivos? Educação Financeira? Levar os atletas para visitas a instituições de caridade, asilos, orfanatos…

Orientar os meninos a serem prudentes nas redes sociais, pois muitas vezes parece ser inesgotável a capacidade dos jogadores de fazerem merda! Vejam o caso recente do Luan. Jogador com potencial incrível e que vai jogando sua carreira no lixo. Mesmo sabendo que não estava rendendo nada, que a torcida do Corinthians já estava babando para pega-lo na reta, o cara me vai para um motel com 10 mulheres… Acredito ser de grande importância também entender a geração atual. Seus valores, anseios, dificuldades. Saber como lidar com o jovem atual e tentar extrair o seu melhor. O jovem de hoje, “Geração Z” não aceita o “faz porque estou mandando”, antes, ele precisa ser convencido. 

Bem, são muitas as áreas e temas que podem ser explorados e desenvolvidos para que tenhamos uma geração mais centrada e bem preparada para a vida.

DNA

Trata-se de uma reestruturação que começa na base e chega ao profissional. Criar, construir ou reconstruir uma identidade! Essa identidade pode até estar hoje arranhada e difusa. Normal! Todo clube passa por isto!

DNA dos clubes é um assunto que começa a ser debatido no futebol brasileiro e que promete ser muito importante para o desenvolvimento e o futuro dos mesmos. O DNA do clube deve ser alicerçado em uma identidade organizacional, formado pela Missão, Visão, Valores e Propósito. A partir daí o clube se desenvolve e se relaciona de maneira profissional com investidores, colaboradores, clientes, fornecedores, governo, imprensa e o seu bem mais precioso: Sua torcida, seu público consumidor!

O homem é produto do meio… Essa frase pode ser utilizada nos clubes no momento de contratar não só os seus jogadores, mas também, sua comissão técnica, gestores e até mesmo para eleger seu presidente. O DNA também deve ser aplicado na maneira de jogar, de gerir a equipe e, também na base, definindo a sua “escola”, um estilo de jogo como marca registrada das suas equipes. Uma identidade!

Apesar de toda a complexidade deste processo, hoje é muito mais fácil para se definir e manter o DNA. A tecnologia é uma grande aliada em todo o seu desenvolvimento, com o armazenamento, compilação e compartilhamento das informações, criando protocolos, padrões, códigos e éticas de conduta… facilitando e automatizando a maioria destes processos dentro da gestão de um clube.

Isso também facilita um possível plano diretor / planejamento estratégico do clube, combatendo a nociva cultura imediatista que domina o nosso futebol. Metas a serem cumpridas mas obedecendo a uma lógica cronológica e de progressão dentro dos processos.

Logicamente que, o gol, a vitória, o título, são o último degrau de todo esse processo complexo e cheio de interferências! Mas quando se tem esta clareza fica mais fácil definir contratações, diretrizes internas, métodos de trabalho na base e no profissional, ações durante a temporada para administração de crises, etc. A Europa já faz isto há muito tempo. Aqui, alguns clubes já estão inovando com esta mentalidade.

O maior entrave para estas ações serem concretizadas são a legislação, a cultura e o fato de muitos clubes serem ainda entidades privadas sem fins lucrativos: o antiquado modelo associativo. Isto impede ou prejudica uma visão mais organizada e profissional deste negócio.

AMOR AO JOGO

O futebol é apaixonante! Se torna às vezes difícil, é se manter apaixonado por ele quando vivendo dentro de sua estrutura massacrante, ou quando ele é desvirtuado em prol de ganância extrema, de um resultado imediato a qualquer custo: violência, antijogo, arbitragens ruins ou mal intencionadas, jogadores fadigados, treinadores ameaçados e com medo, lesões, mídia despreparada, corrupção, jogos ruins…

Vejo com muito bons olhos o papel de profissionais como Alex, João Paulo Medina, Paulo Autuori, Paulo André e tantos outros no sentido de estimular uma cultura de amor ao jogo, de se ter prazer e se divertir jogando, que deve ser plantada desde a base. Estimular a coragem e ousadia para tentar o drible, o futebol bonito e ofensivo, como conceitos inegociáveis dentro da cultura de clubes como o CAP e o Cruzeiro atual, são uma luz no fim do túnel no sentido de se buscar um resgate das raízes do futebol brasileiro.

O melhor “PROFESSOR” de futebol é a rua!, é o campinho de várzea!, é a praia!, é o futsal!… Quem ensinou o Pelé?! São as vivências motoras lúdicas, ricas e variadas dos jogos e brincadeiras de uma infância livre e saudável e/ou de uma iniciação esportiva universal criteriosa e de qualidade promovida até os 12/13 anos de idade por bons profissionais de Educação Física e dos esportes! Informalidade, diversão, prazer, improvisação, criatividade, brincar, inventar, experimentar… Experiências motoras ricas e variadas = Desenvolvimento Psicomotor. A construção de um rico Arsenal Motor + Ousadia e Criatividade.

O papel dos treinadores de categorias de base deve ser o de orientar, de conduzir os processos de desenvolvimento e lapidação destes jovens atletas. São FACILITADORES: impedindo que talentos em potencial sejam desperdiçados por fatores externos.

Não é tolher ou criar robozinhos superdependentes do treinador, como comumente vemos nas escolinhas de futebol com seus treinadores à beira do campo gritando e cantando o jogo o tempo todo, exigindo resultado… antes, queremos atletas autônomos e inteligentes, aptos a decidirem por conta própria de modo rápido, preciso e econômico! 

Fato: Existe uma seleção natural que revela, aos olhos de todos, o verdadeiro talento, o jogador top class, onde quer que ele esteja! Cabe aos clubes estarem atentos através de um trabalho de observação e captação abrangente e de alta qualidade que assegure a vinda destes talentos para as suas categorias de base, onde possam desenvolver plenamente seus talentos!

Defendo que em todas as categorias e, na medida do possível, em todos os treinamentos técnico-táticos, seja dedicado um percentual do tempo, pequeno que seja, para atividades de exercício e desenvolvimento das habilidades criativas do jogo: drible, finta, improvisação, desafios, combates individuais estimuladores da ousadia, inteligência e tomada de decisão. O verdadeiro talento se sobressai aí. O rodízio informal de todos os jogadores por todas as posições também é fator importante do aprendizado técnico-tático e desenvolvimento da capacidade de adaptação.

ADEQUAÇÕES

Triste muitas vezes ver meninos pequenos treinando ou jogando em campos de tamanho oficial, com balizas e bolas de adultos. Acho mesmo que até o futebol feminino adulto deveria ter campo, baliza, bola e tempo de jogo específicos para uma melhor qualidade de seu jogo.

CIÊNCIAS DO ESPORTE

No projeto que tenho para a base, defendo várias teorias de treinamento e gestão que poderiam ser aplicadas desde que os clubes entendessem que é necessário ser ousado para mudar, é necessário pensar fora da caixa, é necessário não se conformar em fazer mais do mesmo apenas porque os outros fazem. Defendo o investimento em departamentos científicos com a participação efetiva de mestres e doutores nos processos metodológicos de formação. É necessário estar disposto a gastar tempo, espaço e recursos para realizar algo criterioso e que reduza as margens de erro, mesmo que em detrimento de algum resultado imediato. Acho que o CAP é um dos clubes que pensa próximo disso.

  • Periodização do Futebol (Verheijen/Holanda)
  • Football Braining (Verheijen/Holanda)
  • Carga Aguda x Carga Crônica (Gabbett/Austrália)
  • Abordagem Centrada no Jogador (der Haegen/Bélgica)
  • Aprendizagem Diferencial (Schollhorn & Seiru-Lo/Alemanha e Espanha) BARCELONA
  • Coaching Integral Sistêmico (Vieira/Brasil)
  • Certificação de Atletas (CEPERF)
  • Incubadora de Atletas (CEPERF)
  • Modelo Relacional Capacidade x Demanda (Phast)
  • DNA de Clubes…

Entendo também que há 3 pilares básicos de uma gestão de excelência no futebol, sendo que estão intimamente correlacionadas e interdependentes como num triângulo:

  • RH
  • Financeira
  • Técnica (futebol)

TEORIA DA APRENDIZAGEM DIFERENCIAL

É uma tese criada pelo alemão Wolfgang Schollhorn, da Universidade de Mainz e adotada pelo coordenador das “Canteras” do Barcelona, Paco Seirul-lo, que preconiza que, não é a mera repetição exaustiva e padronizada que leva à aprendizagem e perfeição do gesto técnico, mas sim a repetição com diversos graus de variação. Pequenas dificuldades ou obstáculos adicionados a cada repetição que irão provocar uma adaptação individual e autônoma de cada jogador para resolução da tarefa, sem auxílio ou orientações do treinador.  A variabilidade leva ao aprendizado mais vasto, mais abrangente… Uma premissa básica dos Programas Motores Generalizados: “Experimente, erre, tente novamente, varie, compare, escolha/decida como fazer, descoberta, compreensão, fixação, execução eficiente”!  Crie pequenas dificuldades (condições não ideais) que obriguem a essas adaptações. Quanto mais vivências/experiências de adaptação, maior a riqueza do acervo motor e maior a autonomia na tomada de decisão: Pensar, decidir tentar de outro jeito, arriscar o novo e inesperado = aperfeiçoamento técnico com criatividade, habilidade e inteligência para jogar! TÉCNICA: Domínio dos fundamentos da modalidade! HABILIDADE: Uso da técnica com criatividade! Na verdade, considero com sendo uma espécie de “Escola da Rua” aplicada de modo mais formal ou sistematizado.  

ABORDAGEM CENTRADA NO JOGADOR 

Nas categorias mais jovens (antes dos 12/13 anos), pode acontecer um excesso de eventos, compromissos e atividades que acarretem enorme pressão sobre o jovem atleta que acaba por tirar-lhe todo o prazer e interesse pela prática esportiva. A mesma coisa ocorre quando somente os “craquezinhos” jogam e os outros ficam só no banco. Criança tem que brincar, se divertir, ser livre!

De acordo com o modelo adotado pela Federação Belga de Futebol, através de seu diretor técnico, Kris Van der Haegen, principalmente com crianças, devemos adaptar o treinamento às características do jogador: idade & maturação, número de jogadores, tamanho do campo, das balizas, da bola, tempo de duração, grau de complexidade, tipo de atividade, todos jogam, driblam, chutam e marcam o tempo todo através de grande utilização dos jogos 1×1 + goleiro. Criar primeiro o amor e prazer pelo jogo para só então se pensar em desenvolver o jogador.

COMPETIÇÕES

A participação em competições de alto nível, nacionais e internacionais é parte fundamental no processo de formação dessa expertise para atletas e comissões técnicas. As competições internacionais auxiliam ainda na consolidação da marca do clube no mercado e são potencial vitrine para venda de jogadores. No entanto, competições com ênfase em resultado não tem a mínima relevância antes dos 14 anos, podendo ser até mesmo prejudiciais.

PENSANDO O FUTURO

Recentemente apresentei a alguns clubes a ideia de estudarem a criação de fundos de previdência privada para seus atletas e com a devida orientação de profissionais da área financeira, tamanha a quantidade de casos de atletas que ganharam muito dinheiro ao longo das suas carreiras e acabam perdendo tudo. A assessoria pós carreira já é uma realidade, mas que abrange um número ainda não muito grande de clientes.  

Eu tenho convicção que esse processo cruel na cultura de formação de nossos jogadores contribui em muito para a perpetuação dessa cultura nefasta do “boleiro” brasileiro… irresponsável, inconsequente, irreverente, mimado, baladeiro, cachaceiro… cercado de parças, beirinhas e Marias-Chuteiras, onipresentes enquanto houver dinheiro fácil. Depois que passa a carreira ou a fase das vacas gordas, todo mundo some!

Acredito que o campo de atuação é muito carente e, por isso mesmo, muito amplo, dando portanto, margem e potencial para se fazer muita coisa! Para se fazer o bem! Fazer o BEM, é BOM! 

Saudações!

 

Francisco Ferreira

Gestor de Futebol

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