⚽ A IMPORTÂNCIA CADA VEZ MAIOR DOS DETALHES NO FUTEBOL DE ALTO RENDIMENTO

A IMPORTÂNCIA CADA VEZ MAIOR DOS DETALHES NO FUTEBOL DE ALTO RENDIMENTO

Hoje tenho três histórias para contar:

Primeira história: 8 de Julho de 2014, semifinais da Copa do Mundo, Belo Horizonte, Mineirão, Brasil x Alemanha…
Muitos sabem o que penso e o que publiquei no meu artigo, “O 11 de Setembro do Futebol Brasileiro”! https://ceperf.com.br/2017/07/09/o-11-de-setembro-do-futebol-brasileiro/  Não havendo, portanto, muito mais o que acrescentar sobre aquele trágico dia para o futebol brasileiro, mas há algo que já havia me chamado a atenção naquela Copa do Mundo: A importância da Análise de Desempenho e, por consequência, de sua “irmã mais nova”, a Análise de Mercado. Ambas ganhando cada vez mais importância nos staffs dos clubes e seleções mundo afora.

Pois bem… naquela ocasião, estou convicto de que o nosso maior problema, para além das ausências de Neymar e Thiago Silva, ou da escalação de poucos jogadores no meio de campo, ou do suposto “apagão” dentro das quatro linhas, dentre outros tantos fatores, começou bem antes da Copa! Talvez iludidos com o título da Copa das Confederações, um ano antes, o fato é que não nos atentamos para os movimentos estratégicos de outras federações de futebol mundo afora.

Naquela Copa pude observar uma evolução tática de seleções menos votadas que fizeram com que tivéssemos jogos duríssimos e muito equilibrados. Quase todos jogavam no mesmo modelo de marcação alta, posse de bola, linhas próximas, etc. Ou seja, do ponto de vista tático-coletivo, eram todos bem parecidos e bem intensos, competitivos, então, o que poderia fazer mesmo a diferença, seriam os talentos individuais e a tática no sentido de entrosamento, conjunto, comunicação verbal e não verbal desenvolvida ao longo dos anos por jogadores que atuam juntos há muito tempo. Então, neste quesito, tivemos mais uma desvantagem: A Alemanha tinha como base o Bayern de Munique do genial Pep Guardiola! Aquele mesmo que havia “sido campeão” em 2010 com a Espanha tendo como base o seu mais do que espetacular Barcelona do tik-taka! Ironia: Pep acabou sendo bicampeão mundial sem ter sido o treinador de nenhuma seleção!

Mas, além disso, uma outra situação absolutamente desproporcional não recebeu a devida importância dos brasileiros: A Alemanha tinha em torno de 100 analistas de desempenho contratados para analisar todos os adversários ao longo dos últimos 4 anos! Possuíam verdadeiros dossiês contendo os mínimos detalhes sobre estes! Só pra comparar: Sabem quantos analistas de desempenho tinha a CBF?! UM!!! Thiago Larghi!… Mais: Na véspera do jogo, os jogadores da Alemanha estavam estudando minuciosamente o time brasileiro, “enquanto isso, na Batcaverna”, os jogadores brasileiros assistiam a uma palestra motivacional!!! PQP!!! Fala sério!!! Você disputando uma Copa do Mundo em casa, com toda a torcida a seu favor, precisa mesmo de mais motivação?! Talvez precisasse mais até é de uma água na fervura para diminuir ou controlar a ansiedade. Talvez de alguém que conhecesse a famosa “Teoria do U Invertido”, que preconiza a necessidade de um “estado ótimo” de tensão, ou seja, não pode ser nem muito relaxado e nem muito ansioso, mas equilibrado, pois qualquer dos extremos pode prejudicar o desempenho!

A Alemanha-Bayern, entrosadíssima, com cada jogador sabendo exatamente qual era a sua função dentro de campo, botou aquele amontoado brasileiro-neymar-dependente na roda e deu no que deu: 25 minutos do primeiro tempo e já estava 5 x 0!, para estupefação geral mundial!!!

Segunda história: 02 de Julho de 2016, quartas de final da Eurocopa, Bordeaux, Stade Matmut Atlantique, Itália x Alemanha…
Após um jogo muito equilibrado que terminou empatado por 1 x 1 no tempo normal e 0 x 0 na prorrogação, veio a disputa de pênaltis. Assistindo pela TV, ouvi o Galvão anunciar, espantado, que entre os jogadores da Alemanha que iriam bater as penalidades, estava um que, nunca havia batido um pênalti sequer, em jogos oficiais! (Logicamente que deve ter treinado batida de pênaltis à exaustão!). Na hora eu percebi a estratégia: Sabedores da qualidade do excelente goleiro Buffon, e fiéis à obsessão germânica por dados estatísticos e pelas minúcias da análise de desempenho, eles optaram por colocar um jogador sobre o qual os italianos não teriam nenhuma informação a respeito da sua maneira de bater um pênalti! A Alemanha venceu por 6 x 5, mas nem ouso dizer que foi exclusivamente por conta disso, dada a conhecida multifatorialidade (diferente de “loteria”) de uma disputa de pênaltis, mas que pode ter sido decisivo, também não se pode descartar!

Terceira história: 12 de Fevereiro de 2022, final do Mundial Interclubes, Abu Dhabi, Mohammed Bin Zayed Stadium, Chelsea x Palmeiras…
Após um heroico empate de 1 x 1 no tempo normal conseguido pelo Palestra, eis que faltando apenas 3 minutos para o final da prorrogação, que seguia empatada, os ingleses tiveram um pênalti a favor corretamente marcado segundo as regras. 

Houve então uma estratégia que envolveu a questão psicológica, o que também é válido dentro de campo: Talvez sabedores da fama dos jogadores sul americanos de sempre tentarem obter alguma vantagem em momentos decisivos, como em uma cobrança de pênalti, por exemplo, através de catimbas e provocações na tentativa de desestabilizar ou tirar a concentração do batedor, os ingleses fizeram meio que um teatro, onde insinuaram que o batedor seria o Azpilicueta, que ficou com a bola nas mãos por quase todo o tempo nas proximidades da marca e recebendo, ele, a pressão dos jogadores do Palmeiras, até que, instantes antes da cobrança entregou-a para Havertz, que assinalou o tento! Assim, além de evitarem as provocações sobre o real batedor do pênalti, também pode se considerar que dificultaram, ou provocaram alguma confusão sobre possíveis informações que o staff do Palmeiras poderia ter passado ao goleiro Weverton referentes ao batedor naqueles instantes de duração do teatro.

Pois bem, essas histórias apenas mostram que, dentro de uma modalidade de natureza multifatorial, tão sujeita às complexidades e por isto mesmo, grandemente influenciada pelo imponderável, aliada à assombrosa evolução da tecnologia de acesso à informação ocorrida na última década, a Análise de Desempenho veio mesmo para ficar e deverá ter papel cada vez mais preponderante e decisivo nas disputas esportivas de alto rendimento!

 

Francisco Ferreira

Gestor Esportivo

www.ceperf.com.br

Share Now

Related Post

Escreva seu comentário