⚽ O FUTEBOL BRASILEIRO E A SÍNDROME DE DEUS
A “maldição” de ser grande, de ser o melhor, parece ser uma espécie de espírito onipresente na cultura do futebol brasileiro. O artigo que escrevo hoje é quase que apenas uma versão atualizada do que escrevi quatro anos e meio atrás por ocasião da eliminação para a Bélgica na Copa de 2018, mas há as suas particularidades. https://ceperf.com.br/2018/07/15/copa-2018-observacoes-e-licoes-libertos-pesadelo/
O Brasil teve hoje contra a Croácia um adversário duríssimo! Um time absolutamente pragmático e eficiente em sua proposta de jogo que era: segurar, segurar, segurar… até achar um erro e dele se aproveitar. Foi realmente como se tivessem escrito e decorado esse roteiro! E assim aconteceu: O gigante Brasil, contra o time franco atirador da Croácia, que não tinha e não tem nada a perder! A Croácia de hoje é a Bélgica de 2018!
Amo o futebol, mas ao mesmo tempo tenho nojo de boa parte das pessoas que nele militam, de seu ambiente podre e de um senso quase comum em que quase todos acham que entendem de futebol! Então, agora é chegada aquela hora macabra dos abutres, dos profetas do acontecido, dos caçadores de bruxas, dos arrogantes e sabichões que se julgam donos da verdade… Tem-se que achar um culpado… só que o culpado é… O FUTEBOL!
O time croata é um relojinho muito bem ajustado e que jogou exatamente por esse roteiro. Tática, física e mentalmente é um time fortíssimo, talvez, de uma alma forjada no sofrimento da guerra e dos conflitos étnicos separatistas, venha tamanha obstinação.
Fato: se fosse apenas na técnica e na criatividade, os croatas nunca venceriam o Brasil, mas o futebol, imponderável e multifatorial como ele só, permite essas coisas, e hoje venceu o pragmatismo. Por várias vezes o Brasil conseguiu ocupar o terço final do campo e em outras tantas colocar um atacante cara a cara com o excelente goleiro Livakovic, um gigante que fechou os espaços com maestria. Aliás, chama a atenção, os goleiros cada vez mais altos… o da Holanda tem mais de dois metros de altura… tá ficando igual ao vôlei e o basquete?
Enquanto a Croácia, no seu único chute a gol, ainda conta com a bola desviando em Marquinhos tirando completamente o Alysson de ação! Que sacanagem!
O gol de Neymar foi muito bonito e no melhor estilo brasileiro! Mas talvez tenha nos faltado mesmo é pedir a Deus um pouco de malandragem. A cinco minutos do fim da prorrogação, com 1×0 no placar e todos absolutamente exaustos, faltou ao Brasil ser um pouco Croácia! Faltando cinco minutos, porque fomos com seis jogadores ao ataque? Teria nos faltado a mesma malandragem, ou seria humildade?, que faltou àquela fabulosa seleção de Telê contra a Itália em 82? Ou, sendo mais contundente: seria falta de inteligência tática? Inteligência de jogo?! Ou foi por vaidade, narcisismo, egoísmo da parte de quem quis ir na frente fazer gol pra aparecer como salvador da pátria?!
Pois bem, Brasil, com jogo ganho, deixa a Croácia, com quase tudo perdido, empatar! Mentalmente falando, Brasil vai abalado para as penalidades e a Croácia renascida! Brasil que estava com tudo pra ganhar, agora pode perder! Croácia com tudo pra perder, agora pode ganhar…
Enfim, mais uma Copa do Mundo em que o Brasil paga pela sua cultura ultra exigente de ganhar sempre e ganhar sempre jogando bonito! Trabalhei com vários jogadores estrangeiros e quase todos se diziam impressionados com a cultura do jogo ofensivo do futebol brasileiro! É um vício! Um chip que parece ser colocado no garoto desde a base!
Eu sou fã número um das Copas do Mundo, por mim poderia ser de dois em dois anos, mas tenho muita birra das prorrogações e disputas de pênaltis, pois nem sempre premiam os melhores. Pênalti é loteria? Não!… Mas é muito sujeito ao estado emocional do momento, por isso julgo importante um treinamento ou disciplina mental para pelo menos estar convicto daquilo que você vai fazer na hora de bater o pênalti! E o Rodrygo não estava convicto!
Pep Guardiola sempre orienta seus jogadores a, durante aquela angustiante caminhada do meio de campo até a marca do pênalti para ajeitar a bola, irem já mentalizando sobre a maneira como irão bater e nunca mudarem de ideia! Eu então acrescento: Se chegou lá sem convicção, ou se a perna tremeu, tome boa distância, parta em velocidade máxima e solte um canudo no meio do gol, pois não tem nada mais brochante do que um pênalti batido sem convicção, telegrafado, quase implorando pro goleiro pegar! Com um canudo acertando o gol, as chances de errar são pequenas.
Como nos filmes de esportes, é aquele momento, clichê eu sei, mas exatamente assim, em que o atleta se encontra só, silêncio interior, apenas os batimentos do coração, não vê e não ouve a torcida, os flashes… nada ao redor! Só vê a bola, o gramado, o gol e o vulto do goleiro… sabe o que tem que ser feito e faz sem pensar muito, apenas foca no bola, inspira fundo, expira, executa, automaticamente… GOL!!! É como o gato espreitando o pássaro: ele não fica raciocinando, ele apenas faz, foca, desliza, relaxado, em silêncio, e no momento exato dá o bote, preciso, certeiro, velocidade, direção, altura, movimentos naturais e espontâneos… expertise! É preciso ler “O Jogo Interior do Tênis” (W.Timothy Gallwey).
Pois bem, agora vai ser um tal de “se” isso e “se” aquilo de encher o saco de qualquer um! É o Tite que não presta, é o Neymar que não assume, o Rodrygo que não deveria bater pênalti, Neymar que deveria bater o primeiro, dizer que não deviam ter feito dancinha, que se preocuparam em pintar o cabelo, que não deviam ter comido o bife de ouro… é um porre isso! Assim como é chato pra burro aquele monte de jogador chorando após o apito final! Talvez seja chegada a hora de se olhar com mais seriedade para a área da psicologia esportiva.
Acho o Tite chato pra caralho e uma verdadeira anta quando se mete a ser fotografado homenageando um genocida como Fidel Castro, mas é o melhor treinador brasileiro disparado! Como não ganhou, muito provavelmente vai ser estigmatizado como um novo Lazaroni. Triste isso, mas talvez seja chegada a hora de um técnico estrangeiro!
Acho que agora vou torcer pra Croácia ou Portugal…
P.S.: Abaixo no link, vale a leitura dessa fala de Juanma Lillo, mentor do Pep Guardiola. Concordo com ele: Futebol ficou mecânico, automatizado e quem ainda tenta algo belo e artístico, são os jogadores brasileiros!
Francisco Ferreira
Gestor Esportivo e um apaixonado por Copas do Mundo
Share Now
Related Post
Desenvolvido por . Ceperf 2019. Todos os direitos reservados.
Escreva seu comentário