CRUZEIRO: PEZZOLANO, PEPA, RAPOSÃO…
PEZZOLANO: Após alguns dias, e depois de ouvir/ler as declarações dos envolvidos, creio que posso fazer, agora, uma leitura mais abalizada do episódio da saída de Paulo Pezzolano do Cruzeiro.
A princípio achei um absurdo a declaração do uruguaio ao dizer que a decisão de sair já estava tomada desde dezembro e, também de que ele não estava 100% focado no Cruzeiro… então questionei o porquê de ele ainda estar à frente da equipe no campeonato mineiro.
Juntando as peças, dentro de toda a conjuntura, pude então deduzir que a diretoria do Cruzeiro estava mesmo era em uma sinuca de bico. Vejamos os fatos, ligando os pontos: 1º) Ao final da Série B, Pezzolano era reconhecido por todos como a grande estrela daquela brilhante campanha, certo?! Nenhuma dúvida quanto a isso! Tirou leite de pedra e fez aquele grupo, tecnicamente limitado, dar o seu máximo e conquistar com folga o objetivo proposto!; 2º) Ao pedir para sair, ele criou um sério problema para a diretoria: Como deixar ir embora o grande responsável pela notória conquista?! A torcida não aceitaria isso!; 3º) Pediram então a ele para ficar pelo menos no Mineiro (que não era uma prioridade): Primeiro, para ver se conseguiam tempo para trabalhar a contratação de um treinador com o mesmo perfil. Segundo, para, talvez… quem sabe… ver se conseguiriam uma boa campanha e, quem sabe assim, fazer o Pezzolano mudar de ideia e optar por continuar. Ao final, diante do panorama geral, fica evidente que a diretoria agiu com racionalidade e dentro do que era possível.
Vejo alguns comentários de que o Cruzeiro tem a obrigação de entrar em todas as competições com objetivo de conquista. Pois bem, o Cruzeiro do passado, sim! O Cruzeiro atual, em processo de reconstrução, enxugamento, austeridade, saneamento financeiro… NÃO!!! O próprio Ronaldo e sua diretoria já disseram isso de modo muito claro! Não tem ninguém enganando ninguém: O objetivo prioritário do Cruzeiro é a permanência na Série A do Brasileiro! PONTO!
Permanecendo na Série A, o Cruzeiro garante o retorno de boas cotas de TV, fator determinante para a continuidade na árdua tarefa de ir arrumando a casa passo a passo, sem atropelos, de modo sustentável, sem mudanças bruscas ou passionais de rumos em busca de um resultado imediato sempre cobrado pelo torcedor mais passional… ou seja, sem fazer mais do mesmo, a saber, o gasto desenfreado e o consequente endividamento para montagem de elencos! Algo absolutamente INSUSTENTÁVEL!, e que levou o clube à bancarrota nas gestões Gilvan Tavares e Wagner Pires. Há ainda a perspectiva muito real da criação da Liga Nacional de Futebol que, junto com a Lei das SAFs, pode vir a ser mais uma peça fundamental da engrenagem que possibilite a redenção do futebol brasileiro. Sim, há ainda um longo caminho de amadurecimento, ajustes, formação de jurisprudência, padronização do entendimento jurídico, etc., etc., mas está aí o caminho das pedras.
PEPA: Pepa chega agregando! E isso é muito bom! Ele evita o erro de seu conterrâneo Paulo Bento que, quando aqui esteve, chegou todo desconfiado, isolou os profissionais de retaguarda do clube, e praticamente só ouvia os profissionais que vieram com ele para sua comissão técnica. Uma atitude burra, pois um clube da grandeza do Cruzeiro, logicamente que possui profissionais de grande competência e que só ajudariam a se adaptar e entender melhor o ambiente, a cultura e o grupo de jogadores. Chamou atenção no Pepa seu estilo simpático, atencioso e também humilde, reconhecendo a grandeza da instituição e o desafio, a grande oportunidade para sua carreira. Seu modelo de jogo, pelo que pesquisei, vai na mesma linha de intensidade, compactação, luta pela bola, etc., que o Pezzolano conseguiu implantar na temporada passada. O grupo não é de todo ruim, precisa de uns dois ou três reforços de melhor nível e confio que poderá dar liga com o novo comandante e suas ideias.
Me agrada muito a maneira como a diretoria conduz as contratações de treinadores e demais profissionais para a gestão do futebol do clube. Entrevistas, pesquisas, busca detalhada por perfis que se enquadrem dentro da nova filosofia de trabalho proposta por Ronaldo e, especialmente, pelo Paulo André! É um caminho sem volta de quem trata o futebol como coisa séria. Os clubes mais bem estruturados do país já tem atuado dessa maneira extremamente profissional como forma de maximizar resultados, minimizar erros e dar continuidade a projetos bem estruturados e confiáveis, sempre pensando também no longo prazo, na identidade do clube e na sua sustentabilidade. Sei muito bem do que falo, pois até pouco tempo atrás, cansei de ver contratações na base do supetão, de pegar o primeiro que estivesse dando sopa no mercado, ou daquele que tivesse feito algum sucesso no clube rival, ou da simpatia, ou de meras indicações de empresários, conselheiros, torcedores e outros.
Aliás, há que se destacar a mentalidade implantada desde a base, como a proposta do tão decantado DNA, ou marca do clube, desenvolvendo nos meninos o verdadeiro prazer pelo jogo, vivendo e entendendo o futebol como algo realmente mágico e em que eles devem se divertir jogando e jogar se divertindo, buscando o gol, a vitória, o drible, o jogo bonito que fizeram do Cruzeiro um dos clubes mais vitoriosos do futebol mundial. Resumindo, terem tesão por aquilo que fazem… viverem ao máximo o sonho de qualquer garoto, de ser um jogador de futebol!
RAPOSÃO: Confesso que fiquei surpreso (e até meio irritado) com a comoção causada pela mudança da identidade visual do Raposão. A coisa virou até topic trend mundial! Nunca imaginei que um mascote/boneco pudesse causar tanta polêmica. Sendo assim, passo a dar razão àqueles que reclamaram de que o torcedor não foi ouvido. A gestão Ronaldo tem primado por contratar profissionais de excelência, mas há que se reconhecer também que, quando este profissional, por melhor que seja, não vem do futebol, ou não conhece ainda as particularidades específicas de algum tema bem regional, como bem exemplificado neste case do Raposão, podem acontecer tantas polêmicas e contratempos, afinal, trata-se de algo terrivelmente passional.
Concluo reconhecendo mais uma vez que tais assuntos só comprovam aquilo que nós, da área da gestão do futebol, já sabemos há muito tempo: O futebol vai muito além, mas muito além mesmo… das quatro linhas!
“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso!” – Ariano Suassuna
Francisco Ferreira
Gestor de Futebol
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