O COMPONENTE GENÉTICO NA SELEÇÃO NATURAL DE TALENTOS ESPORTIVOS
GENÉTICA x AMBIENTE: Um tema muito debatido no meio esportivo: Até onde prevalece o componente genético ou o fator ambiental na formação de talentos esportivos? O Dr. Júlio Garganta, da Universidade do Porto, que trouxemos para palestrar no evento “Muda Futebol Brasileiro” em 2015, é enfático na defesa do treinamento/aprendizagem/experiência/vivência motora. Eu também costumo fazer sempre a pergunta: Quem ensinou o Pelé a jogar futebol?! O genial Tostão, meu ídolo de infância e, na minha opinião, o jogador mais inteligente que vi jogar, costuma dizer que o craque “é”!, ou seja, não há muito como explicar/teorizar sobre “o porque” ou “o como” se consegue a performance dos grandes talentos.
O Professor argentino Pablo Juan Greco, expert em aprendizagem motora e treinamento esportivo, que foi meu mestre na UFMG, defende nos dois volumes de sua obra “Iniciação Esportiva Universal”, mais ou menos os mesmos pontos do Dr. Garganta. Pois bem, no meu artigo https://ceperf.com.br/2017/06/10/qual-era-o-segredo-do-futebol-brasileiro/ tento humildemente apresentar meu entendimento sobre o tema e defendo que parece haver uma conjunção de ambos os fatores (genético e ambiental). Alguns ex-atletas famosos como o Rivellino, dizem de modo bem simplório que o craque já nasce pronto, com um dom.
Acredito que Pelé nasceu dotado de aptidões ou potencial físico-motores extraordinários e que, nas progressivas fases de sua maturação, estas se encontraram/encaixaram com um ambiente mais do que propício para o pleno desenvolvimento de seu talento! Assim, ouso dizer que quem ensinou o Pelé a jogar bola foi a rua, os campinhos de várzea de Três Corações, e seu corpo/mente representavam um “aluno” sedento e extraordinariamente apto a aprender como nenhum outro! Resumindo: Se Pelé não tivesse uma rara aptidão física-cognitiva geneticamente herdada, mesmo recebendo o melhor treinamento possível (fosse ele formal ou informal), ele poderia até se tornar um bom jogador, mas não teria sido o “Pelé”! Creio que o mesmo se pode dizer se ele, com toda a sua aptidão inata, não tivesse passado pelas riquíssimas experiências motoras de sua infância… também não teria sido o “Pelé”!
Nas grandes potências esportivas, diz-se que, aquele que sobrevive à massacrante rotina de treinamentos, se torna um campeão olímpico. Assim como no treinamento militar para forças de elite, como os Mariners, por exemplo, a tolerância à dor, resistência à fadiga, capacidades mentais de resiliência: foco, concentração e obstinação, certamente que também tem o seu peso na formação do atleta de elite. É a seleção natural do talento esportivo!
FÁBIO: Pois bem, aos 42 anos de idade, o goleiro Fábio, agora em sua segunda temporada no Fluminense, continua jogando no mais alto nível. Sua saída meio traumática, mas inevitável do Cruzeiro, por conta da urgente necessidade de saneamento financeiro e enxugamento da folha salarial proposta pelo modelo de gestão adotado por Ronaldo, pode ter sido até uma motivação a mais para que provasse que ainda tinha muito a mostrar como atleta de alto nível.
Tempos atrás, conversando com os então fisiologistas do Cruzeiro, Eduardo Pimenta e Rodrigo Morandi, eles me mostraram os resultados do mapeamento genético que haviam feito do elenco e o Fábio foi o expoente no quesito força. Seus índices apontavam um perfil que só é encontrado na proporção de um a cada milhão de pessoas, logo, hipoteticamente, existem aproximadamente apenas 214 pessoas com os mesmos índices em todo o Brasil (214 milhões de habitantes). Tal qualidade, certamente que contribui para uma carreira tão brilhante e longeva como o da “Muralha Azul”! Se bobear, de repente joga em alto nível até os 45 anos!
Fábio, entretanto, sempre foi um grande injustiçado quando o assunto era Seleção Brasileira. Me lembro que em 2013, sugeri a ele que procurasse a nutricionista do Cruzeiro para que elaborasse um programa para redução de seu percentual de gordura corporal, pois eu suspeitava de que este poderia ser um motivo para a sua não convocação. Nos meses seguintes percebi que ele estava fininho e jogando em alto nível, como sempre!, mas não foi o suficiente para que Felipão o chamasse para a Copa/2014. Pela genética familiar, quando encerrar a carreira terá que se cuidar muito para não ficar obeso. Ouso dizer que, mesmo aos 42 anos, é ainda o melhor goleiro do Brasil!
GENÉTICA: Aliás, quando se fala de genética, um dos jogadores dentre todos com os quais trabalhei, que mais me impressionou, foi o recém aposentado volante Ramires, que apresentava um equilíbrio fenomenal entre as três valências mais importantes para um atleta de futebol. Ele sempre esteve entre os melhores resultados nos testes de força, velocidade e resistência. Mesmo quando voltava do período de férias, parecia estar sempre na ponta dos cascos. Me lembro de um torneio de verão realizado em janeiro de 2009 no Uruguai (ou seja, em plena pré-temporada), em que participaram Cruzeiro, Atlético, Nacional e Peñarol. O Cruzeiro fez 4 no Galo e o Ramires simplesmente passava voando, para desespero dos marcadores alvinegros, incapazes de acompanha-lo.
Tempos depois sugeri ao Darlan Schneider, preparador físico do Felipão, a sua contratação pelo Chelsea na época. Outros fenômenos, no aspecto físico, que vi jogar foram: Paulo Isidoro, Toninho Cerezo, Paulo Sérgio (Corinthians), Zé Roberto, Cafu, Alex Alves, Maicon, Maurinho… cada um com as suas características individuais.
Saudações!
Francisco Ferreira
Gestor de Futebol
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