⚽ HISTÓRIAS DA BOLA: MAXWELL & IBRAHIMOVIC

 

HISTÓRIAS DA BOLA: MAXWELL & IBRAHIMOVIC

Eu gosto muito das histórias reais de superação, de honra, caráter e gratidão! Hoje publico uma história desconhecida e que revela um lado humilde de Zlatan Ibrahimovic, o craque falastrão sueco. Ibra foi uma espécie de Dadá Maravilha, mas com um talento absurdo!

Eu, particularmente, participei um pouco, mas quem teve presença mais ativa e me contou os detalhes mais marcantes foi um amigo, o treinador Alexandre Barroso. Corria o ano de 2001 e Felipão era o treinador do Cruzeiro, onde eu atuava como um dos preparadores físicos da comissão técnica permanente. Naquela época, o Cruzeiro estava com uma safra realmente diferenciada nas categorias de base. O trabalho desenvolvido pelo Barroso, Ney Franco e Emerson Ávila, à época treinadores do Sub-20, Sub-17 e Sub-15, respectivamente, foi dos melhores que já vi em qualquer clube. Para se ter uma ideia, só de goleiros, tínhamos Fábio, Jeferson e Gomes sendo revelados, ou captados! E ainda: Luisão, Maicon, Maxwell…

Pois bem, Maxwell, lateral esquerdo, havia acabado de ser chamado para compor o grupo de profissionais. Tendo realizado apenas alguns treinamentos, ele foi participar de um troneio na Holanda com o Sub-20. Alexandre Barroso era o treinador. Pois não é que o Maxwell, “comeu a bola”, encantando os dirigentes do Ajax, que logo fizeram uma proposta milionária?!

Assim o Cruzeiro o vendeu sem que ele nem mesmo tivesse participado de uma única partida pelos profissionais! Já no Ajax, um dos colegas de Maxwell seria o jovem Ibra. Logo fizeram amizade e, num certo dia, Maxwell, que morava com sua mãe em Amsterdam, convidou o Ibra para almoçar em sua casa. Ibra então lhes revelou, com tristeza, que não tinha a família com ele em Amsterdam. Maxwell conversou com a mãe e decidiram chamá-lo para morar com eles. Passaram a ser como irmãos! Com o sucesso dando as caras para ambos, mas com maior destaque para Ibra, este nunca se esqueceu do que o “irmão” havia feito por ele, e onde quer que fosse contratado, ele sempre fazia questão de também indicá-lo! Foi assim, mas não só por isso, pois também tinha muita qualidade, que Maxwell, jogou com o Ibra também na Inter, no Barça, no PSG…

Abaixo uma crônica bacana do Rodrigo Bueno da ESPN sobre a recente aposentadoria do grande Zlatan Ibrahimovic:       

A despedida de Ibrahimovic mostra o bem que alguns mascarados trazem ao esporte

Rodrigo Bueno

Rodrigo Bueno 

Zlatan Ibrahimovic foi craque. Verbo no passado porque, infelizmente, o maior símbolo de jogador mascarado anunciou sua aposentadoria. Foi reverenciado domingo (4) nas mídias sociais por todo tipo de gente, como se ele fosse mesmo alguém de fato especial, quase que do tamanho que ele acha que possui. Foi cornetado também por alguns tantos, inclusive por parte da torcida do Hellas Verona ainda no campo quando ele falou do adeus ao futebol: “Continue vaiando. O maior momento do seu ano é estar me vendo.” Nada mais Ibra do que isso para fechar com chave de ouro (ou de algum material ainda mais caro) sua diferenciada trajetória no esporte.

Tecnicamente, o sueco com origem iugoslava (filho de pai bósnio muçulmano e de mãe croata católica) foi brilhante, capaz de fazer gols e jogadas antológicas por conta de seu talento com a bola e sua habilidade com as artes marciais. Muitas vezes ele aplicava mesmo golpes na bola, como naquele mágico momento em que acertou uma bicicleta contra a Inglaterra bem distante da grande área. Tem que respeitar um cara que anotou mais de 500 gols e com chute que pode chegar a 150 km/h. Tamanha força recheada com frieza e qualidade, o que lhe permitiu realizar aquele gol descomunal com a camisa do Ajax em que dribla seis vezes os jogadores do NAC. No excelente documentário “Becoming Zlatan”, é possível perceber algumas razões, sobretudo familiares, para a formação dessa personalidade tão forte (e que o golaço pelo Ajax veio muito em explosão de raiva contra Rafael Van der Vaart, um dos maiores desafetos assumidos do marrento centroavante).

A história com LeBron James, com quem já trocou farpas por política, é das mais saborosas. Quando o grande astro de números 6 e 23 (Ibra já usou a 8, a 9, a 10, a 11, a 16, a 18, a 21 e a 27) chegou ao Los Angeles Lakers, já houve uma leve provocação marqueteira: “Agora, LA tem um Deus e um Rei. Zlatan dá as boas vindas ao King James”, postou o mito da prepotência. Ibra atuava no Los Angeles Galaxy e, diz a lenda, que LeBron lhe mandou então uma camisa do famoso time de basquete. O sueco cabeludo autografou então a camisa e a enviou de volta a LeBron. Nada mais Ibra do que isso. O cara se colocou acima até da Torre Eiffel quando estava em Paris: “Se substituírem a Torre Eiffel por uma estátua minha, fico no PSG”. Como não amar esse cara?

Zlatan Ibrahimovic, um dos maiores centroavantes e mascarados deste século, já se achou Deus e já foi o Diabo no futebol
Zlatan Ibrahimovic, um dos maiores centroavantes e mascarados deste século, já se achou Deus e já foi o Diabo no futebol Reprodução

Ibra jogou em alguns dos maiores clubes do mundo e nunca ficou cinco temporadas seguidas na mesma equipe. Rodou bastante, talvez por conta de sua personalidade, talvez porque não soube nunca ficar acomodado. Chegou a ser treinado no Barcelona por Pep Guardiola, sem dúvida o técnico mais influente deste século, mas a parceria não deu certo. Sobrou para o genial espanhol, claro. “Quem me compra, compra uma Ferrari. E quem tem uma Ferrari abastece com combustível premium, vai para a estrada e na velocidade máxima. O Guardiola colocou diesel e deu um passeio pelo campo. Deveria ter comprado um Fiat”, falou o sueco, que diria tempos depois nos Estados Unidos que ele era uma Ferrari em meio a Fiats na liga norte-americana profissional de futebol.

“Me dê a bola, e eu faço o resto”. A frase até caberia no currículo de Ibrahimovic, mas é de Michael JordanPelé falava na terceira pessoa, tratando-se mesmo como uma entidade. Muhammad Ali, talvez o maior ídolo de Zlatan, também se achava demais e tudo bem. Citei três lendas do esporte para mostrar que nem sempre a arrogância é ruim. Como já cantou Beyoncé na bacana “Ego”, “alguns chamam de arrogância, eu chamo de confiança.” Ibra se diz fã de Ali porque ele manteve sempre seus princípios e nunca desistia. De fato, ninguém pode chamar o sueco de incoerente ou acusá-lo de mudar de acordo com o vento ou com a situação. Mesmo antes de ser muito famoso, ele já demonstrava seus traços egocêntricos, que obviamente viraram um folclore que ele e seus patrocinadores (inclui a Nike) souberam aproveitar muito bem.        

https://www.espn.com.br/video/clip/_/id/12152616

 

 

 

Ibra se deu muito bem com José Mourinho, outra notável figura mascarada que também é um profissional de excelência que foge da mesmice. Mesmo quem critica a falta de humildade deles, sorri e se diverte com as declarações que chocam o lugar comum. São personagens deliciosos, eu diria que até necessários, são pessoas que fazem mesmo falta quando param, como é o caso de Zlatan agora. Não tenho dúvida de que suas falas ácidas e contundentes vão continuar pipocando mundo afora, seja aquelas que ele já consagrou, seja as que ele ainda soltará na condição de ex-atleta.

É preciso diferenciar (se é que isso é possível) o craque de bola que Ibrahimovic foi, um dos maiores deste século mesmo sem ter conquistado a Copa do Mundo (era quase impossível com a seleção da Suécia) e a Champions League, do homem falastrão que faz a alegria da imprensa e de milhões com as suas frases de impacto. Eu sentirei muito a falta dos dois: do jogador e do personagem bocudo. Você também sentirá, mesmo que não admita ou não dê o braço a torcer. Estamos todos no mundo de luto pela aposentadoria de um dos malvados favoritos da bola.

 

Francisco Ferreira

Gestor de Futebol

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