⚽ TÁTICA, TÉCNICA, FÍSICO, PSICOLÓGICO… TALENTO, E O SUCESSO NO FUTEBOL!
TÁTICA, TÉCNICA, FÍSICO, PSICOLÓGICO… TALENTO, E O SUCESSO NO FUTEBOL!
Em conversas com um amigo, o brilhante Geraldo Delamore, meu contemporâneo de UFMG, com passagem por grandes clubes e hoje instrutor nos cursos de treinadores da CBF Academy, algo me chamou a atenção e me pôs a refletir sobre o tema deste texto.
“A TÁTICA À DISPOSIÇÃO DA TÉCNICA
Ontem terminamos o dia com discussões bastante interessantes sobre os processos que desenvolvemos ao longo de dois dias. Quero chamar a atenção para as argumentações feitas pelo grupo do Alex e da Camila, último a se apresentar. Eles desenvolveram toda a ideia de jogo deles a partir do entendimento que o lado esquerdo da equipe tinha os melhores jogadores para o desenvolvimento do jogo que buscavam. Isso é fazer da técnica a protagonista do jogo. Para fazer isto, colocaram dois volantes, inclusive tendo o Bochecha atento para as coberturas daquele lado, para que o lado esquerdo da equipe pudesse “se soltar mais”. Isso é colocar a tática dando suporte à técnica. É colocar a tática à disposição da técnica. Foi isso que sempre fizemos. Hoje, temos cercado o nosso jogo de muito tecnicismo e muita terminologia, colocando invariavelmente a tática à frente da técnica. O estrutural à frente do divino, da criação, da arte. A tática todos podem reproduzir. A técnica, a arte, a criatividade e o improviso, isso é nosso, dos brasileiros, dos sul-americanos, e muito difícil de se reproduzir, principalmente em larga escala. Pensemos mais em organizar as nossas equipes a partir da técnica e, assim, resgatarmos a nossa identidade de jogo que tem estado impregnada de conceitos e processos europeus.
Pensem a respeito. Abraços.
Geraldo Delamore/CBF ACADEMY.”
“Quando você faz do estrutural a diferença, você dá oportunidade a todo mundo de ser igual. Mas quando você faz daquilo que é inato, que é dom… o diferencial, aí não tem como copiar!” Citação do psicólogo Alexandre Morango no livro “Quando oportunidades se transformam em Ouro”… Também citado pelo Delamore.
Segundo ele, os jogos estão muito parecidos. Quase todo mundo joga do mesmo jeito. Verdade! Fato inegável!
Fazendo um contraponto, no meu entender, os conceitos do genial e polêmico holandês Raymond Verheijen, sobre uma hierarquia em que a Tática é que vem em primeiro lugar, devem ser antes esclarecidos no sentido de se entender o que ele define como tática e em que contexto:
Comunicação apurada entre os jogadores em campo (verbal e não verbal) + tomada de Decisão sobre aquilo que se Percebeu = Entrosamento! Jogo coletivo mais fluído! Ou seja, jogadores que jogam juntos por longo tempo, tendem a se entender melhor. Significando a TÁTICA aqui como não sendo sinônimo apenas de uma determinada estratégia, ou plataforma, ou modelo de jogo! Na sequência temos a Execução (através da TÉCNICA) daquilo que se decidiu (insights do jogo) e tendo o componente FÍSICO geral/específico para o jogar futebol como base/alicerce desta sequência hierárquica: (C+D+E+F), conforme o quadro abaixo.
Acredito que esta definição de tática do Verheijen se traduz como uma lógica conceitual implícita em uma equipe bem treinada! E logicamente que o talento individual ainda tem peso preponderante naquilo que decide o resultado de uma partida. Vejamos como exemplo a eletrizante final da última Copa do Mundo: França e Argentina, equipes taticamente muito bem ajustadas e contribuindo, ou melhor: sendo o alicerce, o suporte necessário para que os geniais Messi e Mbappé, dois talentos de primeira grandeza, fizessem o que deles se esperava: Que fossem protagonistas e decisivos!… E como foram!!!
REFLEXAO
Na minha percepção, temos a tendência a julgar tudo no nosso futebol de acordo com os resultados obtidos a cada ciclo de Copa do Mundo. Se perdermos, ou até mesmo se formos vice-campeões, parece que nada mais presta. Tem gente que acha que se joga contra o vento! Que somos obrigados a ganhar sempre!
É fato que há uma certa soberba arraigada no nosso inconsciente coletivo por conta das cinco estrelas na camisa da seleção. Me lembro de quando fiz a Licença A da CBF em junho/2016 e alguns colegas de turma, nos debates, batiam no peito de modo ufanista quanto aos nossos cinco títulos mundiais… eu não aguentei, tomei a palavra e disse: “Menos, gente… menos! Nós acabamos de tomar de 7 da Alemanha! A hora é de colocarmos o rabinho entre as pernas, de sermos humildes, de refletirmos para descobrir onde erramos, onde ficamos defasados, e aprendermos não só com os nossos erros, mas também com o que os outros tem feito melhor do que nós”.
Pois bem, se os europeus tem a “Escola do Jogo”, nós ainda temos a chamada “Escola da Bola”, a “Escola da Rua”… informal, do talento natural… mas onde é que temos errado tanto para sermos eliminados nas oitavas, de modo contumaz, e por equipes europeias que nem são tão favoritas assim?
Em síntese, acredito que seja mais ou menos assim o panorama do futebol atual: Toda equipe, mesmo sem talentos fora de série, se bem treinada e com um mínimo de qualidade técnica, pode ser intensa e competitiva! Havendo portanto, um nivelamento, ou padronização, por assim dizer. Já numa disputa de “cachorro grande”, ainda pode imperar o talento individual, estando implícito aqui que todo “cachorro grande” só o é, por, além de ter grandes jogadores, ser também uma equipe bem treinada em todos os aspectos e taticamente ajustada! Bem… pelo menos é o que se espera!
HISTÓRICO
-1958, 1962 e 1970: Foi no puro talento! Sendo que em 70 já se introduziu também a questão das Ciências do Esporte com um período preparatório bem metódico e uma organização tática inteligente adotada por Zagallo, que fazia com que todos os jogadores se recompusessem atrás da linha da bola ao perder a posse. Recuperada a bola, era só dar vazão aos talentos extraordinários de seus jogadores! Foi a era do Legado Brasileiro!
-1966: Zona total com a politicagem imperando — como desde sempre neste país imbecilizado — e o Pelé sendo impiedosamente caçado em campo. Foi um hiato neste período do chamado Legado Brasileiro!
-1974: Além da ausência de vários dos craques de 70, pagamos o preço pela nossa soberba tricampeã, sendo surpreendidos por uma Holanda revolucionária, e com a qual não tivemos a humildade de nos preocupar.
-1978: Tivemos um jogo decisivo contra a Argentina, mas em que o Coutinho, ao invés de escalar os melhores tecnicamente, preferiu colocar um time para se igualar com os portenhos na porrada.
-1982: Com um time fabuloso comandado pelo grande Telê Santana, nos faltou a humildade para jogarmos por um empate contra a Itália. Neste dia, vários de nossos melhores talentos não jogaram bem (Cerezo, Júnior, Leandro, Éder…) e Zico sofreu uma marcação implacável de Gentille. Pode ser que o excesso de elogios pelas soberbas vitórias nos jogos anteriores tenha subido à cabeça… não sei… só quem esteve lá dentro o sabe!
-1986: Um bom time, mas coisas do futebol, como o pênalti perdido por Zico, logo ele, que não errava, mas não estava 100% e ainda sem o aquecimento físico e mental adequado por ter acabado de entrar na prorrogação… e depois veio a fatídica disputa de pênaltis.
-1990: Um grupo de bons jogadores, mas com um futebol meio desvirtuado, como o sistema com 3 zagueiros, injustamente execrado, mas que nenhum time havia usado no Brasil até então, e as burras discussões sobre premiações podem ter influenciado. Pegamos ainda pela frente um Maradona que, mesmo já na descendente, em sua genialidade colocou Caniggia na cara de Taffarel.
-1994: Um bom time, sem encantar, mas pragmático e organizado para jogar. A organização tática em função do talento de um Romário absolutamente matador e no auge da forma.
-1998: A fatídica convulsão de Ronaldo botou tudo a perder, mas é fato que a França do excepcional Zidane também jogou demais naquele dia.
-2002: Felipão conseguiu direcionar um grupo que tinha pelo menos 5 jogadores fora de série, na busca de um objetivo comum, deixando qualquer estrelismo de lado. O excepcional talento individual desses jogadores foi então decisivo contra o futebol coletivo e mais organizado da Alemanha na final.
-2006: Um grupo igualmente extraordinário, mas com nosso melhor jogador na época, Ronaldinho Gaúcho, em má forma e um ambiente de muita badalação na fase preparatória. Faltou foco!
-2010: Um time sem estrelas e a negativa de Dunga em levar o jovem Neymar, nos levou a cair diante da Holanda com dois gols absolutamente evitáveis.
-2014: O “11 de Setembro do Futebol Brasileiro”! Neymar-dependência e um desequilíbrio abissal nas perspectivas: Enquanto na véspera do “Mineirazo”, o time alemão estudava detalhadamente o Brasil, com uma variada gama de informações passadas por uma centena de analistas de desempenho, o time brasileiro assistia a uma palestra motivacional! Pergunto: Alguém que joga uma Copa do Mundo em casa, precisa de mais motivação? Penso que a preocupação deveria ter sido até mesmo pelo contrário: controlar a ansiedade! Teoria do U Invertido!
-2018: Ainda a Neymar-dependência e um time fortíssimo da Bélgica no caminho. O treinador belga, sem pressão, franco atirador, pôde inovar e surpreender o Brasil, coisa que um treinador de seleção brasileira não pode se dar ao luxo de fazer, pois caso não dê certo, será eternamente crucificado, a exemplo de Lazaroni em 90!
-2022: Com uma geração de jovens dos mais talentosos dos últimos anos, me parece que foi a falta de inteligência de jogo, de malandragem, ou de humildade que nos levou a entregar um jogo praticamente ganho… nos faltou ser um pouco Croácia após o belo gol de Neymar… Pênaltis e mais um grande erro: deixar Neymar, nosso melhor batedor por último! Neste embate, o pragmatismo superou o talento!
CONCLUSÃO
Parece claro que há, historicamente, uma identificação europeia com a tática, e uma identidade brasileira mais fundamentada no talento. O histórico acima parece mostrar um eterno confronto entre ambas identidades, ora uma, ora outra prevalecendo, mas indicando que podem também ser perfeitamente compatíveis!
Isto posto, ficam algumas perguntas: Afinal, o que nos tem faltado nos últimos anos? Seria talento? Organização e compreensão tática mais consistente? Pragmatismo? Humildade? Foco/Concentração? Inteligência? Força mental? Raça? “Sorte”? Gestão? Uma melhor capacitação de nossos treinadores? Ou, em suma, um projeto macro contínuo, consistente e verdadeiramente honesto para o nosso futebol?!
Dá um debate e tanto… e há muito, busco uma resposta!
Você leitor, envie, nos comentários, suas considerações sobre o tema!
Saudações!
Francisco Ferreira
Gestor de Futebol
ceperf.com.br
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