GESTÃO & RESULTADO
A multifatoriedade no futebol talvez seja a maior existente dentre todas as modalidades esportivas. Tivessem algumas poucas bolas entrado nas diversas chances desperdiçadas pelo Cruzeiro nos últimos jogos, e muito provavelmente o português Pepa estaria ainda comandando o time.
Um treinador quando “perde o vestiário”, é situação praticamente incontornável. Dentre vários motivos para tal, a falta de resultados contribui em muito. Se tem algum problema de vestiário, mas ainda assim apresenta resultados satisfatórios, vai se mantendo. No futebol brasileiro há uma cultura meio paternalista de se passar muito a mão na cabeça dos jogadores. Na Europa é diferente: é preto no branco! Profissionalismo acima de tudo. Teria havido algum choque de Pepa e sua comissão técnica com essa cultura brasileira? Não sabemos!
Quando o Pepa chegou, houve um encaixe rápido, um ajuste!, com o time apresentando um futebol consistente e intenso nas primeiras rodadas, o que chegou a surpreender muita gente, provocando até sonhas mais altos. No transcorrer do campeonato, com os ajustes das outras equipes, ficou evidente que o time conseguia encarar de igual pra igual os outros grandes que, por natureza, jogam pra frente, dando espaços para a construção/proposição, que era o ponto forte deste Cruzeiro. Quando porém, enfrentou equipes fechadas e de muita marcação como Cuiabá, Coritiba, Goiás… e até mesmo o Grêmio, que congestionou o seu meio de campo, teve muitas dificuldades! Houve então um “desajuste” acelerado pelas várias contusões de jogadores importantes em um elenco já enxuto/modesto, e pela absoluta falta de GOLS… o que culminou com a demissão do gajo!
A saga pela contratação de um novo treinador mostra que há sim, um critério. Nada de buscar um medalhão, um “nome”, para usar como escudo pela diretoria, e muito menos o primeiro que aparecesse.
Por estes dias fui colocado em um grupo de torcedores, mas não aguentei ficar muito tempo e me retirei dada a cegueira e irracionalidade provocada pela paixão clubística nas análises. Todo mundo “entende” de futebol e tem “soluções” pra tudo… “basta fazer”! Aí você vai tentar argumentar com um mínimo de lógica: “Como”? “Com que recursos”? “Com quem”?… Pois é… Entre um mundo ideal em que até mesmo um Guardiola poderia vir por ser o clube do Ronaldo!, e o mundo real, o torcedor mais fanático viaja sem freios!
A SAF do Cruzeiro trabalha é com processo seletivo para todas as atividades, meios e fins. Há um empenho em analisar de maneira longitudinal novos e promissores nomes que venham crescer junto com o clube (Paulo Autuori). Pura sensatez!
O torcedor quer resultado pra ontem! Todos querem, e precisam! Mas tem que saber como, e se é possível dentro do que se tem disponível em termos de recursos humanos e financeiros. Um projeto honesto e consistente como o da SAF do Cruzeiro não deveria ser abortado mesmo que um trágico (mas pouco provável) rebaixamento viesse a acontecer!
Bancar trabalhos bem estruturados, mas que não apresentam resultados imediatos, no Brasil é quase impossível. Muitas vezes se faz tudo certo, mas a bola bate na trave, o seu goleiro toma um frango, seu adversário é mais forte, o juiz erra uma marcação… Se bem me lembro, a única vez que vi uma continuidade ser efetivamente bancada foi com o Coritiba que caiu em 2015 se não me engano, com o Ney Franco. Sua permanência para a disputa da Série B foi garantida e conseguiram subir logo em seguida! Sim, isso é algo impensável para um clube grande e traumatizado por 3 anos seguidos na Série B, como foi o caso do Cruzeiro praticamente destruído por aquela gestão de criminosos inconsequentes. O Botafogo atual também pode ser usado como um bom exemplo de aposta acertada na continuidade.
Zé Ricardo é simplesmente a cara do Cruzeiro atual: Está em baixa; já esteve no topo; tem potencial; vai lutar com tudo para recuperar seu lugar; é jovem; ambicioso; bom de vestiário… terá o suporte de gente graúda como um Autuori, Paulo André, Ronaldo Fenômeno… fala sério… não é pouca bagagem, né?!
Vai dar certo? Ninguém sabe! Futebol não é ciência exata!
Na minha visão, falta ainda à gestão da SAF-Cruzeiro uma aproximação maior com a imprensa local e a torcida, principalmente nas épocas de crise. O mineiro é tradicional, é desconfiado, gosta e precisa de uma proximidade maior. Neste sentido, faço uma crítica construtiva ao Pedro Martins, jovem e dinâmico executivo de futebol. Articulado, ele se expressa muito bem, mas tá ficando meio chato e repetitivo… se perdendo em lugares comuns e platitudes. Parece mais um “coach” com aquelas frases feitas e termos motivacionais. O profissional tem que ter a exata noção de como deve se comunicar. Até hoje, ele deu declarações institucionais para destacar a cultura e o projeto que querem implantar. E fez todo sentido! Mas no presente momento, não é pra fazer discurso, mas sim dar respostas. O torcedor está sofrido e, pra usar uma linguagem do “coach”, a diretoria deveria atentar para a sua “dor”. Uma semana sem dar nenhum sinal, não pegou bem. Que fosse uma declaração curta e simples, tipo: “Estamos trabalhando e podem esperar que no máximo até a semana que vem, já teremos um novo treinador”! Ponto!
Fica a dica!
Saudações!
Francisco Ferreira
Gestor de Futebol
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