20 ANOS DA TRÍPLICE COROA
Ontem, 15/12/23, tivemos um encontro muito legal, organizado pelo amigo Ruy Cabeção para comemorar os 20 anos de conquista da Tríplice Coroa pelo Cruzeiro. Como bem diz o Alex, 2003 foi um ano mágico! E eu o guardo na memória com muita gratidão e carinho.
Tudo começou em 2002, quando Vanderlei Luxemburgo chegou logo na 2º rodada do Brasileiro e pegou um time jovem, mas que não havia sido montado por ele e ainda meio abalado e muito cobrado pela torcida pela inimaginável perda da Copa dos Campeões para o Paysandu do Pará.
Com vários jovens talentos vindos da base (excepcionalmente conduzida pelos amigos Alexandre Barroso, Ney Franco e Emerson Ávila) que prometiam muito, como: Jussiê, Joãozinho, Marcinho, Maicon, Wendel, Luisão, Recife, Jardel, Gomes, Jeferson… e outros que vieram contratados como Sandro, Ruy e Thiago. Porém, esse time demorou a engrenar na competição e somente depois de várias rodadas, conseguiu uma sequência de 5 vitórias seguidas que o levava a estar se classificando para os play-offs até os 38 do 2º tempo de um jogo em que vencia o Goiás por 2×0 no Independência. No entanto, o Fluminense virou o jogo contra a Ponte Preta no final e quem acabou se classificando foi o Santos, que viria então a ser o campeão com Robinho, Diego & Cia.
Em conversa com a nossa comissão técnica, Luxa disse naquele dia que, se a gente tivesse se classificado, certamente iríamos chegar brigando pelo título, pois o time estava numa crescente muito sólida.
Pois bem, essa eliminação teve o seu lado positivo, já que nos deu tempo para a montagem do elenco e uma preparação muito bem planejada. Liberamos os jogadores para férias, mas com reapresentação no meio delas para testes e avaliações e mais tarde a pré-temporada propriamente dita (em Araxá).
Na montagem do grupo, o nosso fisiologista, Emerson Silami, teve papel fundamental ao indicar quais os jogadores possuíam perfil de velocidade. Estes permaneceram e a eles se juntaram Alex, Deivid, Aristizábal, Dracena, Leandro, Maldonado, Maurinho, etc.
Luxa bancou o retorno do Alex e junto com o Mello, o Silami e a nutricionista Patrícia Teixeira, fizeram um programa rigoroso para o seu controle de percentual de gordura corporal.
Na montagem do elenco, Luxemburgo, no auge e com muita pegada, cuidava dos mínimos detalhes e foi estratégico em pontuar quem seriam nossos principais adversários ao longo do ano: Santos, São Paulo e Corinthians… e assim, tiramos jogadores importantes destes times, enfraquecendo-os e ao mesmo tempo nos fortalecendo. A prioridade seria o Brasileiro e para ele foi montada uma verdadeira força tarefa junto com comissão técnica e diretoria.
Alguns jogadores não se adequaram como o excepcionalmente talentoso Joãozinho, que tinha potencial técnico digno de seleção brasileira, mas zero de profissionalismo!
Meu querido amigo, Antônio Mello, também deu aula de como preparar uma equipe fisicamente. Nunca encontrei alguém com tamanha percepção como ele na dosagem de carga e, como consequência, ao longo da temporada, o número de lesões foi baixíssimo! A intertemporada (em Foz do Iguaçu), uma marca de Luxemburgo e Mello, também foi importantíssima. E assim conseguimos manter todo o elenco em ótimos níveis de condicionamento e de freshness do início ao fim.
AMBIENTE
Uma coisa que foi emblemática naquela temporada foi o excelente ambiente. Os jogadores e suas famílias eram muito amigos. Na Toca estavam sempre presentes as esposas e filhos, pais, parentes, pets… Mas o que mais impressionou, foi que, naquele elenco, não havia um único jogador que estava ali apenas para completar o grupo, para “encher linguiça”! Todos possuíam qualidades! E como o time se encaixou rapidamente, todos cresceram juntos também em moral e autoconfiança.
Para se ter uma ideia, nesta época o Cruzeiro formava ou descobria goleiros do nível de Fábio, Jeferson e Gomes. Fábio havia sido liberado pouco antes por mau comportamento e Jeferson logo depois por não ter ainda maturidade emocional! Flávio Tênius então bancou o Gomes e ele deslanchou! Tinha ainda o goleiro Arthur, também jovem. Na zaga eram Luisão, Cris, Dracena, Thiago Gosling e Marcelo Batatais! Nas laterais Maicon, Maurinho, Leandro e Wendel! No meio Alex, Maldonado, Recife, Zinho, Martinez, Felipe Melo, Sandro, Marcinho! No ataque Deivid, Aristizábal, Jussiê, Motta, Márcio Nobre… depois Alex Dias e Alex Alves…
Me lembro que até o Romário chegou a dar uma declaração durante o campeonato dizendo que o Cruzeiro era, naquele momento, o melhor time do mundo!
Alex voou baixo e foi o maestro daquele time. Fazia o que queria com a bola colocando-a milimetricamente para os companheiros concluírem. Uma frieza impressionante para finalizar. Quando saíamos da Toca no ônibus do clube em direção ao Mineirão, todos já sabiam que iríamos vencer, só não sabíamos de quanto… e as goleadas foram a regra. Em um desses jogos de meio de semana no Mineirão, estávamos todos no auditório, após o jantar, e o Mello lá na frente emendando uma piada atrás da outra… a boleirada se mijando de tanto rir… Luxa apenas ficou na porta por vários minutos assistindo e também rindo… quando finalmente foi à frente para iniciar a preleção, ele apenas disse: “Bora?! Vamo pro jogo?!”… uma sensibilidade ímpar para perceber que naquele dia não precisávamos de mais nada, apenas jogar!
E essa foi a tônica, Luxa com suas broncas homéricas, estratégicas, mas às vezes muito arriscadas também, ao chamar literalmente algum jogador pra porrada, fazia, às vezes, aquelas concentrações de 3 ou 4 dias para algum jogo ou momento específico do campeonato, mas caso conseguíssemos êxito, também liberava geral por 2 ou 3 dias… os jogadores adoravam isso! E era um grupo que gostava mesmo da noite, mas que também se entregava de corpo e alma nos treinos e nos jogos!
No encontro de ontem, os jogadores presentes (Ruy, Thiago, Gomes, Recife, Maicon, Deivid), os presentes virtualmente (Dracena, Sandro, Leandro) e staf (Alvimar Perrella, Ronaldo Nazaré, Valdir Barbosa, Suely e eu) fomos unânimes em concordar que depois de 2003, nunca mais se formou um time tão bom quanto aquele no futebol brasileiro… talvez o Flamengo do Jorge Jesus… e olhe lá!
Sim, 2003 foi realmente mágico!
Saudações!
Francisco Ferreira
Gestor de Futebol
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