(Staff Images Cruzeiro)
TALENTO x INTENSIDADE E OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O CLÁSSICO
Há muito tempo um clássico mineiro não rendia tantas considerações interessantes como este do último sábado na Arena MRV. Vamos a elas: Muita catimba e muita pressão com decisões polêmicas quanto à logística e preparação para o jogo: torcida única; proibição a determinado jornalista; impedimento à exposição do escudo do visitante no gramado; interrupção do hino nacional naquela estrofe que “resplandece”… e ainda por cima, alguns eventos reprováveis durante o jogo, como a tentativa de invasão do campo e da área destinada a diretores e comissão técnica do Cruzeiro por alguns torcedores após o segundo gol… e, como sempre, o insano e irracional, arremesso de copos plásticos no campo, sempre prejudicando o mandante! O brasileiro não tem mesmo civilidade!
Como denuncio desde sempre: Falta é vontade do poder público para implantação de uma política de “Tolerância Zero”, aos moldes do que fez Margareth Thatcher, a “Dama de Ferro”, que acabou com as ações criminosas dos Hooligans na Inglaterra, banindo perpetuamente dos estádios, qualquer torcedor que cometesse o mínimo delito! Mas sei que se trata de apenas mais uma utopia neste país dilacerado pela corrupção, impunidade e permissividade endêmicas! Então, o fato de não podermos ter um clássico com a presença das duas torcidas é mesmo só mais um atestado da falência do nosso poder público!
Bem, quanto ao jogo, a inevitável comparação entre os elencos realmente traz uma inferência lógica de que o time milionário do Galo é mais talentoso. No entanto, chamo atenção para algo que venho publicando no site do CEPERF e defendendo no programa Jogada de Classe, do qual participo todas as quintas feiras: “INTENSIDADE”! Ou, em outras palavras: velocidade, força explosiva, capacidade de realizar esforços intermitentes de alta ao longo de todo o jogo.
Para desenvolver esse assunto, vou voltar alguns anos: 1990, eu havia acabado de me graduar na EEFFTO-UFMG, era preparador físico do Sub-20 do Atlético, e fui convidado para um encontro com um professor alemão, que estava em visita à UFMG, recepcionado pelo saudoso amigo, Prof. Dietmar Samulski. Naquela ocasião, eu e o grande amigo e ótimo caráter, Prof. Heleno de Abreu, ex-meio campista do Atlético e então treinador da base do clube, ouvimos pela primeira vez que a demanda física principal do futebol não era aeróbica. Neste sentido, debatemos naquela ocasião que, continuava sendo aeróbio em termos de volume, mas anaeróbio no que se refere aos lances que decidem os jogos. Até brinquei: Onde estiver a bola, é pau puro! Lembrando que naquela época não existiam os recursos tecnológicos de hoje, como GPS, pitch tracking, etc.
No ano seguinte, fui trabalhar no Muharraq Club do Bahrain, com o lendário Duque e o cracaço Adílio. Nenhuma lesão muscular ao longo de TODA a temporada; uma participação com resultado inédito na Copa dos Campeões do Golfo, disputada em Dubai, com um 3º lugar invicto (perdemos nos pênaltis) contra equipes de países muito mais fortes, futebolisticamente falando. Lembrando que o futebol do Bahrain à época era semiprofissional (jogadores não trocavam de clube; a maioria deles tinha empregos formais na polícia ou no exército), e finalmente, campeões da Liga Nacional Batelco com 5 ou 6 rodadas de antecedência e mais de 10 pontos de frente para o 2º colocado, tendo sofrido uma única derrota ao longo da competição. Nesta ocasião me dei conta de que treinar em 2 períodos não era assim tão necessário. Dosagem de cargas!
Depois, 1999, já no Cruzeiro, vejo muito treino de corrida contínua e muitos jogadores realmente talentosos mas já veteranos: muitas lesões musculares. Fadiga e treino inespecífico.
2000, Paulo Autuori traz os treinos em campo reduzido: Intensidade em Especificidade.
2002/2004, com Antônio Mello, os treinos de corrida contínua são diminuídos drasticamente, permanecendo ainda, apenas ocasionalmente, os tiros de 1000m., mas priorizando os treinos de natureza anaeróbia alática: estímulos de força e velocidade com duração de até 20”: Intensidade.
2008, começamos a enfatizar trabalho funcional priorizando o core e avaliação isocinética: Qualidade do movimento e equilíbrio muscular.
2010/2011, Al Ain com um trabalho primoroso de core e uma ótima pré-temporada, conseguimos, por pouco, segurar uma temporada de gestão técnica do futebol abaixo da crítica… uma caótica “Torre de Babel”, com mais de dez nacionalidades diferentes! Definitivamente, não funciona!
INTENSIDADE x TALENTO
Muitos anos se passaram desde limiar de lactato, até Ck, termografia, etc. chegando à dosagem de carga através dos conceitos de carga aguda x carga crônica, do Tim Gabbett, carga interna / carga externa e o conceito 4Fs: Futebol Forte = Fitness + Freshness: uma progressão controlada de cargas segundo a Football Periodisation do Raymond Verjheijen. Ou seja, o condicionamento para um “Jogar futebol”, desenvolvido de modo sistêmico e, predominantemente, por treinos em especificidade, complementados com estratégias de desenvolvimento de força e equilíbrio muscular no sentido de se melhorar a qualidade do movimento + um rigoroso enfoque na prevenção de lesões (capacidade x demanda + complexidade) e no monitoramento e dosagem de cargas de jogos e treinamentos.
Uma pré-temporada estendida ao longo do estadual, evitando um volume excessivo ao se treinar apenas em um período, também se revela estratégia eficiente de ganho progressivo e, principalmente, manutenção de condicionamento ao longo de toda a temporada, minimizando simultaneamente a fadiga.
Embora eu não esteja acompanhando de perto o dia a dia dos clubes, acho que consegui ver isso no clássico: O Cruzeiro mais inteiro por conta deste fator, mas também por um time mais jovem. O Atlético tem mais jogadores famosos, consagrados, “decisivos”, caros, consequentemente, mais velhos, medalhões, de nome… e o Cruzeiro, jogadores de intensidade, mas promissores! Jovens ainda em busca de realização financeira e profissional. Jogadores com mais fome! Um jogo muito parecido com o do 2º Turno do Brasileiro do ano passado!
JUVENTUDE
Penso que os elencos podem ser mesclados, mas sem a predominância de veteranos! Como já citei outras vezes, quando fiz um curso do Verheijen no Benfica em 2018, aproveitei para visitar o amigo Thiago Freitas, que à época era executivo do Estoril, e ele me falou de um estudo que fizeram, indicando que elencos com média de idade acima de 28 anos aumentam em até 50% suas chances de rebaixamento, daí as equipes de Portugal e da Europa como um todo, estarem investindo em elencos cada vez mais jovens!
Mais alguns exemplos que publiquei ultimamente: o Fluzão do Diniz, com Ganso, Felipe Mello e Marcelo, nunca conseguiria encarar de igual pra igual e durante toda a partida, a intensidade absurda dos jovens puro sangue do Manchester City! O Corinthians de 2023 com vários medalhões veteranos, nunca conseguiria igualar em índices estatísticos de corrida intensa (>20km/h) e sprint (>25km/h) com equipes mais jovens. Ai, vai lá o Santos e comete o mesmo erro para este ano de 2024 na montagem de seu elenco: vários jogadores caros, velhos e sem intensidade para disputar uma pedreira como é a Série B!
INSANIDADE
Leio agora a notícia de que o Corinthians acaba de demitir o Mano Menezes… Dois meses de trabalho e vai receber uma multa de 20 milhões!!! Lógico que o Mano não tem culpa! Culpados são os malucos que concordam em dar um contrato assim! Por essas e outras que a gestão do futebol brasileiro continua sendo uma piada de mau gosto!
ARBITRAGEM
Se não teve influência no resultado, a arbitragem ainda assim pecou em muito nos critérios. Jemerson deve ter feito umas 6 ou 7 faltas diretas no Dinenno! Nem se deram nem ao trabalho de revezamento nas faltas. Zé Ivaldo, parece um maluco pilhado. Tomou um amarelo idiota ainda no 1º Tempo… bastava ter ficado um pouco à frente da bola para impedir a cobrança rápida do tiro de meta, e não chutar a bola como fez! Arthur e Marlon não mereciam ter levado o amarelo! Rafael Cabral fez 3 grandes defesas! João Pedro foi o que mais chamou atenção: Segundo jogo em que entra e decide! Biotipo de velocista (bundudo), partiu praticamente “box to box”, deu um “tapinha” sutil pra direita pra matar o Otávio, atingiu 33km/h e aí mais um “tapa”, consciente e preciso, apenas a conta pra tirar do Everson. Belo gol! É um sobrevivente da tragédia do Ninho do Urubu! Olho nesse moleque!
COISAS MARCANTES
Por falar na tragédia do Ninho do Urubu, que completará 5 anos nesta semana, pra mim, foi sim um trágico e lamentável acidente, mas faltou sim, gestão de crise e maior sensibilidade da parte da diretoria do Mengão. Nunca que poderiam ter agido daquele modo tão explícito no sentido de tentarem se eximir! Era pra terem assumido e se disposto a bancar todas as indenizações. Algo que não afetaria suas finanças nem prejudicaria tanto a sua imagem!
PERSPECTIVAS
Ainda é cedo pra dizer, mas acho que o Cruzeiro promete: Gestão de RH, Financeira e do Futebol exemplares! Ótimos valores revelados na Taça SP, bom treinador, chegada de Villalba e Cifuentes… mas acredito que um atacante de peso ainda teria lugar!
No Atlético, espera-se um Scarpa engrenando em entrosamento e fisicamente, pois bola ele tem. Mas trazer Bernard com 31 anos, para um elenco já meio envelhecido?! Não sei não… na contramão do Bom/Bonito/Barato!
Saudações!
Francisco Ferreira
Gestor e Executivo de Futebol
ceperf.com.br
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