⚽ O FUTEBOL BRASILEIRO É ESQUIZOFRÊNICO!

Alguém sabe precisar há quanto tempo vivemos este tal “momento de grave crise tanto técnica, quanto financeira” no futebol brasileiro? A impressão é que desde sempre, certo?!

Dada a sua natureza multifatorial e a sua complexidade, os problemas são inúmeros dentro de um modelo claramente viciado e ultrapassado que, por interesses de poder, dinheiro e/ou políticos, não quer se modernizar.

As boas gestões, com raras exceções, não são duradouras, não tem continuidade! Talvez o único exemplo duradouro seja mesmo o do Athletico Paranaense sob o comando do Mário Celso Petraglia e que, neste processo, conseguiu levar um clube local de pouca expressão a se tornar um clube de reconhecimento internacional e exemplo de organização, mesmo dentro de um sistema caótico e falido como o nosso associativo com suas “instituições privadas sem fins lucrativos” que rege clubes e federações no Brasil.

Vemos uma colcha de retalhos onde, de vez em quando, surgem algumas boas gestões financeiras que conseguem dar uma arrumada na casa, enxugando a máquina, reduzindo custos, maximizando receitas… enfim, seguindo pelo menos um be-a-bá básico de gestão: de nunca gastar mais do que arrecada, de honrar compromissos como forma de se construir ou resgatar credibilidade no mercado. Isto é louvável! Mas muitas vezes este modelo de gestão vem dissociado de um projeto técnico consistente! É aí que entra a questão que venho insistindo há anos: “Gostar de futebol, não é sinônimo de entender de futebol”!

O exemplo mais recente é o do Criciúma, que resolveu as questões de cunho financeiro, quitou dívidas, tem CT, tem estrutura, mas na questão técnica não investiu em know how atualizado, ou em inovações metodológicas. Resultado: mesmo com esta mais do que importante e correta gestão financeira, acaba de ser rebaixado para a segunda divisão do campeonato estadual.

Fato: Os dirigentes estatutários são, em sua esmagadora maioria, torcedores apaixonados e que não possuem um conhecimento aprofundado quanto às complexidades das ciências do esporte, e que deveriam ser o alicerce para a construção de um projeto técnico consistente! Some-se a isto, a quase sempre nefasta interferência da esfera política exigindo resultados para ontem! Conselheiros, torcedores e mídia esportiva não entendem que dentre os princípios da performance esportiva, tais como: Sobrecarga, Recuperação, Adaptação, Continuidade, Interdependência Volume x Intensidade, Individualidade Biológica e Especificidade… a quebra da CONTINUIDADE tem sido onde mais se erra no futebol brasileiro! Até mesmo clubes sem um mínimo de condições, sejam elas da ordem de estrutura física, material ou financeira, EXIGEM RESULTADOS de seus treinadores e jogadores! Ou seja, um time pequeno, sem pagar salários, “matando cachorro a grito”… perde três partidas seguidas e faz o quê?!… Demite o seu treinador! Na verdade o que os dirigentes deste clube esperam é algum tipo de MÁGICA, algum MILAGRE, alguma coisa SOBRENATURAL! Ou seja, temos excesso de “fígado e coração”, com escassez de “cérebro”, de racionalidade! Situação SURREAL e que se repete ad infinitum entra ano, sai ano neste Brasil afora! Cara, isso cansa!!!

Quem faz boa gestão técnica e corporativa, invariavelmente consegue revelar bons jogadores, fazer boas campanhas, valorizar seus elencos e negocia-los a bons preços. Mas isto demanda tempo (continuidade)! Se optar pelo reinvestimento em busca do Ciclo Virtuoso, as chances de ser duradouro e elevar o clube de patamar são maiores. Se optar por gastar na capacitação de seu elenco através da contratação de jogadores consagrados e a peso de ouro em busca de resultado imediato, é quase certo que os problemas financeiros retornem no futuro.

Os grandes clubes possuem inúmeros departamentos e em muitos destes, os jogos de poder são realmente pesados! Interesses dos mais variados ocorrem em um ambiente em que muitas vezes entra um “dinheiro muito fácil”, sem a devida fiscalização, sem mecanismos de controle e punição realmente efetivos! Se o presidente for mal intencionado e tiver o conselho nas mãos, aí a farra é certa! Pior ainda é quando além de bandido o “cartola” é incompetente! Um convite sedutor para a corrupção e a conta fica para o próximo!

De tempos em tempos vem um socorro do governo federal com os Refis e Profuts da vida, tendo sempre como pano de fundo os interesses políticos pela perpetuação do “mecanismo”.

Clubes que quase foram destruídos por gestões incompetentes e/ou criminosas, mantem em seus conselhos deliberativos as mesmas pessoas que levaram o clube ao estado de pré-falência! Nem uma única menção à punição ou expulsão de seus quadros… isto tudo em nome de um propalado suporte político!

Clubes que vem com um discurso de modernização, mas mantendo as mesmas práticas e/ou dando lugar a gente que nem sabe o que é uma bola, ou dando lugar a gente que até sabe o que é uma bola, mas só sabe isso mesmo! De resto, não sabe nada! Falando rasgado: ex-jogador, na quase totalidade, sabe apenas jogar bola! Possuem um pobre nível intelectual e acadêmico! Ponto! Os que sabem algo de gestão, os que realmente buscam uma qualificação de bom nível são a exceção e não a regra! Contam-se nos dedos! Enfim, o modelo é viciado e bruto! Relações promíscuas e conflitos de interesse são quase que a regra entre federações, dirigentes, agentes/empresários, patrocinadores, treinadores, jogadores, etc. Os casos citados nos bastidores do futebol, de dirigentes, sejam eles estatutários ou executivos, que mantém “sociedades” com agentes e empresários nem causam surpresa ou escândalo mais!

O futebol não aceita gente que “bota o dedo na ferida” – e quem o faz (eu!) é visto como uma ameaça ao status quo! – Mas aqui me refiro àqueles que “botam o dedo na ferida de verdade”, não apenas como um mero fanfarrão que só fala da boca pra fora em busca de audiência, enquanto por trás dos panos tem as mesmas práticas daqueles que critica!  

Eu, particularmente, cansei de dar murro em ponta de faca! Estou largando mão do futebol! Mesmo sendo a minha paixão, mesmo tendo eu investido quase meio milhão de reais em busca de uma capacitação que fosse realmente diferenciada e sonhando, de modo idealista, com uma efetiva evolução e moralização do futebol brasileiro, chego ao ponto em que não dá mais! Perdi o tesão! Desencanto total! Não vou mais atrás de ninguém! Não envio currículo, nem procuro ninguém mais para apresentar projetos! Se um dia alguém vier me procurar com a ideia/proposta de se fazer algo realmente novo, eu até topo sentar pra conversar e ver se é sério e interessante! Já se for para fazer mais do mesmo… tô fora!

Vou é cuidar da minha vida e nem estou ligando muito mais para ler as notícias, assistir jogos… interessante é que está me fazendo um bem enorme! Estou em paz!

Saudações!

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