A TRANSFORMAÇÃO DO FUTEBOL BRASILEIRO
Acompanhando toda a discussão em torno da aprovação da Lei do Clube Empresa, percebo um cenário ainda muito conservador e averso às mudanças, onde boa parte dos conselheiros batem o pé e não aceitam nem discutir o tema. Julgam que “vender” o clube é uma afronta às tradições do clube… mas sem se lembrar que essas mesmas “tradições” (legislação, entidades privadas sem fins lucrativos, amadorismo, conselhos deliberativos…) na maioria das vezes são a causa da situação pré-falimentar da maioria dos clubes.
Insistem em permitir a venda de apenas 49% para o investidor, como se algum destes fossem loucos de rasgar dinheiro investindo altas somas mas sem ter poder decisório, ou a palavra final. Uma saída encontrada tem sido a de manter os 51% com o clube associação civil, e 49% para o investidor, mas com este tendo 100% do controle sobre o futebol, carro chefe e razão de ser da maioria dos clubes de futebol país afora.
Algumas mudanças são esperadas ou mesmo inevitáveis para o futuro próximo com o advento das SAFs: A profissionalização total da gestão dos clubes, pois o(s) investidor(es) exigirá(ão) resultado operacional. Gestão e governança corporativas, transparência, saneamento financeiro e enxugamento da máquina com foco na eficiência e produtividade, inserção e transformação digital, além é claro, de alinhamento com as tendências atuais com foco em sustentabilidade (economicamente viável, socialmente justo e ecologicamente correto), dentre tantas outras como forma de se construir credibilidade no mercado e atrair parceiros, investidores, novos simpatizantes, público consumidor, aumento de receitas, etc.
Nesta jornada, certamente que o aprimoramento do “produto” que os clubes tem a oferecer ao público consumidor – seus torcedores – tem que ser levado em conta! E um debate minucioso tem que ser promovido junto a todos os stakeholders dessa cada vez mais poderosa Indústria do Futebol:
- Queremos quantidade, ou qualidade?
- Queremos o modelo atual com jogos na TV de 2ª Feira a Domingo, onde as emissoras exigem um número exagerado de jogos, por sua vez um número também excessivo de competições e número também excessivo de clubes disputando cada uma delas e congestionando o calendário?
- Clubes que chegam a fazer 90 jogos no ano com todos aqueles agravantes que já estamos carecas de saber: Falta de tempo adequado para uma boa pré-temporada; Falta de tempo suficiente para treinamentos e recuperação fisiológica dos jogadores entre os jogos; viagens longas e exaustivas; horários inadequados dos jogos, etc., etc…
- Como é quase consenso, estamos há décadas matando essa “Galinha dos Ovos de Ouro”, pois os poderosos da indústria do futebol, ao exigirem essa “quantidade”, acabam prejudicando a qualidade, pois temos sempre jogadores fadigados, lesionados, desmotivados e consequentemente cobrados, julgados, pressionados… Jogador não é máquina!
Uma Liga Nacional de Clubes seria uma consequência tão desejável para aprimoramento deste produto chamado Futebol Brasileiro. Nos quadros abaixo fiz um esboço de um modelo de liga que proponho que possa ser discutido, debatido e aperfeiçoado pelos clubes.
Lembrando que no quadro acima trata-se apenas de um esboço, uma ideia inicial a ser desenvolvida e se refere apenas ao Campeonato Brasileiro/Liga Nacional, cabendo aos clubes negociarem quanto a valores de outras competições e se aperfeiçoarem nas inúmeras outras opções de monetização, ou até mesmo criarem novas opções neste sentido. Pode-se argumentar, até com certa razão, que os valores apresentados são irreais, ou que nossos dirigentes só tem olhos para o próprio umbigo… mas sonhar e desejar o melhor não faz mal nem custa caro!
Uma verdadeira redenção dos clubes e do futebol brasileiro como um todo envolveria os temas citados e o direcionamento de cada entidade para a sua correta vocação: Clubes donos de seus destinos, CBF cuidando de seleções e fomento ao futebol; federações cuidando dos clubes menores, regionais e de competições de categorias de base…
Gestão, ousadia, inovação, pensar fora da caixa, pioneirismo, coragem, idoneidade!
FRANCISCO FERREIRA
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