⚽ DINIZ POR DORIVAL…

DINIZ POR DORIVAL…

Trabalhei com ambos no Cruzeiro… Diniz, ainda atleta, em 2004, quando já se podia perceber nele um profissional diferenciado, antenado, estudioso, cara do bem, embora um tanto quanto sanguíneo.

Com Dorival, foi em 2007/2008, no seu primeiro trabalho em um grande clube após uma excelente campanha no São Caetano, vice-campeão paulista daquele ano. Um bom gestor de grupos, falando bem a linguagem do jogador, tinha um ótimo auxiliar técnico (Ivan Izzo)… ele tinha uma frase que era sua marca registrada: “eu não tenho dúvidas de que…”.

Evidente que ambos evoluíram bastante de lá pra cá e se colocaram definitivamente na prateleira de cima do futebol brasileiro, mas penso que, em que pese a turbulência atual no comando da CBF (mais uma!), se trata de uma troca equivocada.

Acho o Diniz muito mais ousado e moderno com sua proposta de vanguarda que oxigenaria o futebol da seleção e o futebol brasileiro como um todo. Precisaria de mais tempo para implantar seu modelo de jogo, pois vinha oscilando entre maus resultados (Venezuela, Colômbia e Argentina) e bom futebol (Argentina). Diniz é melhor também no aspecto motivacional. Com formação em psicologia, ele enxerga além das quatro linhas: quer melhorar seus jogadores também como homens, como pessoas! Talvez na gestão de grupos, o Dorival, menos sanguíneo, mais comedido e boleiro, leve, neste quesito, alguma vantagem.

Dorival é um ótimo treinador, mas soa meio que… “mais do mesmo”… talvez um Tite piorado (motivador, gestor de grupos, uma certa organização tática… mas “nenhuma Brastemp”, pra quem sonhou com um Carlo Ancelotti…). Acho, por essa razão, um certo retrocesso alçá-lo ao comando da seleção brasileira.

O futebol brasileiro precisava mesmo era de uma sacudida e ela parecia estar em curso com o Diniz, ou com a sonhada vinda do Ancelotti… ou quem sabe com um Abel Ferreira, o treinador mais dominante no nosso futebol nos últimos anos. Infelizmente, o futebol brasileiro continua o mesmo, com sua eterna guerra política pelo poder nos bastidores e a perpetuação de estruturas arcaicas como as entidades privadas sem fins lucrativos (CBF, federações e a maioria dos clubes), regidos em seus arcabouços jurídico e político mais do que viciados.

Se tivéssemos um profissional como meu dileto amigo, Paulo Autuori, como um dirigente com plenos poderes à frente da CBF, as coisas poderiam começar a mudar da água para o vinho em termos estruturais tanto em nível macro, como micro, mas isso não passa de uma utopia nesta nossa república bananeira, desde sempre coronelista e dominada por oligarquias corruptas… “O Sistema é foda, meu irmão”!  

Já são cinco as Copas do Mundo em que somos eliminados por alguma seleção europeia nas quartas de final (ok, 2014 foi nas semifinais!) e sempre com um futebol mediano, sem ousadias táticas ou, pior, sem inteligência tática, como a demonstrada na inaceitável eliminação para a Croácia no Qatar. Parece nos faltar algo de foco, humildade, concentração… e sobrar algo de indolência nos times brasileiros… seria isso uma espécie de “maldição” da nossa inconsciente soberba/prepotência/arrogância pelas cinco estrelas no peito?!

Ainda nos escoramos prioritariamente na esperança de que o talento individual de nossos jogadores possa resolver qualquer parada! Até mesmo o Tite, que considero como um dos nossos melhores treinadores, trabalha assim: tem uma boa organização tática defensiva e de meio de campo, mas deixa o terço final, o ataque, a cargo da capacudade de improviso dos nossos jogadores: Eles que resolvam! Em 2002, com meio time composto por foras de série, bastou! Em 2006, igualmente talentosos, faltou foco e concentração. O “oba-oba” e o “já ganhou” era visível desde a fase de preparação! Hoje, com a nítida evolução de todas as outras equipes presentes nos mundiais, a gente percebe que não está sendo o suficiente!

Acho até que é uma questão conjuntural: Quem não se lembra do nó tático que o treinador da seleção belga, deu em Tite na derrota por 2×1 na Copa da Rússia? O espanhol Roberto Martínez, como um franco atirador, sem nada a perder, pode fazer alterações inesperadas na escalação de seu time surpreendendo o Brasil… aí estava a sua vantagem: país pequeno, desenvolvido e culto, onde o futebol é visto apenas como mais um entretenimento e não uma ufanista questão de vida ou morte, como se pensa aqui na terrinha. Vai o Tite tentar fazer algo parecido e não dá certo, pra ver o que acontece!!!

O espanhol reforçou a marcação no meio de campo com Fellaini, tirou De Bruyne da função de volante e o colocou enfiado no ataque. Lukaku, sempre centralizado no Mundial, atuou aberto na direita, com Hazard na esquerda. Confundir a Seleção Brasileira, na visão do treinador (OUSADIA), foi tão importante quanto a questão da preparação mental dos belgas: acreditar que vencer o Brasil era possível (FOCO). A Bélgica tratou o adversário como favorito (HUMILDADE) por um simples motivo: nunca conquistou a Copa, enquanto que o Brasil tem cinco títulos. A diferença, para Martinez, tem influência direta quando a bola rola num duelo de Mundial.

– “Contra o Brasil, você precisa ter uma vantagem tática. Não pode esperar que vai ganhar contra o Brasil, há uma barreira psicológica. Eles são penta, aquela camisa amarela… Foi uma aposta que fizemos. Os jogadores acreditaram no risco, tivemos que defender, parar Neymar, Coutinho, Marcelo. Eram muitas ameaças, mas queríamos ter as nossas. O posicionamento foi corajoso. Nisso o adversário às vezes não sabe o que fazer. Estou orgulhoso, tinha uma tarefa difícil, um plano tático difícil – afirmou o treinador”.  Texto adaptado por mim (nos destaques em amarelo) de uma matéria do Lance: Surpresa tática e crença para bater os maiores: a visão do técnico belga – Lance!

Estaria também aí uma vantagem ao se experimentar um treinador europeu de alto nível na seleção: Ele pode arriscar mais… Não deu certo, pega o boné e vai embora pra sua terra sem o risco de ser linchado!

Bem, voltando ao Dorival, acho até que deve acontecer alguma reação em termos de resultados imediatos nas eliminatórias através de um futebol mais “feijão com arroz”, mas que, certamente, é pouco para uma Copa do Mundo. De qualquer modo, faço votos para que dê certo!

 

Saudações,

 

Francisco Ferreira

Gestor de Futebol

www.ceperf.com.br     

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